Músicos agenciados em terra selvagem
“O agenciamento de artistas não precisa de regulamentação”, defende o produtor Bang
- depois de perder Dama do Bling e Valdomiro José, Bang Entretenimento aposta nos sul-africanos Mandoza e Loyiso
É característica própria da pequena indústria musical moçambicana que os seus principais fazedores – mais concretamente os músicos – iniciem as suas carreiras profissionais negligenciando questões relacionadas com o facto de se tratar de um sector comercial que tende a ser cada vez mais agressivo e que envolve contratos que exigem uma postura firme para que se possam evitar futuras frustrações.
Moçambique entrou na era do agenciamento de artistas com o surgimento de pequenas empresas vocacionadas nessa actividade e os últimos anos têm sido decisivos no alerta para a mudança de mentalidades por parte dos artistas que decidem enveredar pela via do agenciamento. A generalidade dos músicos – sejam iniciantes ou não – não tem dinheiro para investir nas suas carreiras a fim de terem a devida visibilidade, mas ganham a consciência de que por mais talento que possam ter, não basta, pois são necessários altos investimentos para que se consiga sobreviver num mercado cada vez mais selvagem. Inicialmente vocacionadas na produção de espectáculos musicais, algumas pequenas empresas como a Bang Entretenimento, DXS Label, Laggost Label, Cotonete Records, Track Records, Big Brother Entertainment, Celebrity e outras do género agora também ganham algum dinheiro agenciando os músicos com os quais negoceiam as suas propostas, oferecendo ganhos e cobrando dividendos. Fazem-no através de contratos que têm sido mais ou menos assim: em troca do investimento que fazem na carreira dos músicos, produzindo sua música, seus vídeo-clips e sua imagem, os músicos comprometem-se a dar aos seus agenciadores as percentagens previamente combinadas que forem a resultar de todas as suas participações. Bang, produtor e boss da Bang Entretenimento, explicou-nos que a sua empresa ganha com as percentagens que forem fixadas nos contratos, pois as mesmas passam a ser retiradas dos rendimentos que os músicos tiverem durante o tempo que vigorar o contrato, sejam eles rendimentos provenientes dos cashés ou de outros contratos com empresas que se interessem pelo trabalho do artista.
Artistas burlados
No negócio do agenciamento – ainda sem um regime jurídico especial que o regule – os músicos, sobretudo os iniciantes, parecem o elo mais fraco, pois geralmente descobrem tarde que se envolveram em maus negócios e decidem abandonar os contratos depois de terem perdido muito dinheiro, grande parte do qual vai directamente para os bolsos do agenciador que já conhece melhor as dinâmicas do mercado. Hoje se pergunta se não terá sido esse o caso da cantora Neyma, ela que se afastou da DXS Label um pouco depois de descobrir que afinal de contas a sua relação de trabalho com o produtor não era das melhores.
Embora Bang afirme, em entrevista ao
SAVANA, que os contratos celebrados com os músicos com os quais trabalha sempre foram “claros” e “honestos”, há casos de empresas ou de pessoas que tendem a manchar o bom nome que as “labels” conquistaram nos últimos anos ao se fazerem passar por agências sérias, quando na verdade roubam aos mais fracos.
O caso do Hermínio foi um dos mais falados, quando este apareceu a denunciar o fim do seu contrato com a Laggost Produções alegadamente porque teria sido defraudado em mais de 200 mil meticais em cashés e na venda do seu disco à Vidisco, tendo prometido levar a questão ao tribunal. “A partir de agora vou seguir uma carreira a solo”, disse Hermínio a este jornal, quando abandonou a Laggost Produções em 2008.
Matérias que alimentam a imprensa cor de rosa – "Atracções" e Fred Jossias com os seus “beafs” –, os problemas de relacionamento entre essas novas agências de músicos e os músicos mexem com o tecido ético e moral da sociedade, contribuindo para a degradação dos valores culturais moçambicanos, sobretudo, quando os músicos trocam insultos, ameaçam-se porrada e tribunais, usando os órgãos de comunicação social como armas de arremeço.
“Está bom como está”, Bang
Para Bang, o sector do agenciamento de artistas não carece de nenhuma regulamentação, pois “está bom como está”. Apesar das “guerras” que amiúde têm-se levantado entre músicos e agenciadores, assim como entre algumas agências entre si na disputa dos poucos patrocínios que há, Bang considera que o agenciamento de artistas ainda é um negócio muito novo em Moçambique, daí que acha que deve continuar assim como está. “Eu comecei a cantar numa altura em que nós investiamos nas nossas carreiras pessoalmente, mas hoje já não, hoje os artistas têm quem invista neles e isso é positivo”, considerou.
O caso Dama do Bling e Valdomiro José
No mercado há sensivelmente cinco anos, a Bang Entretenimento, segundo o respectivo boss, é responsável pelo agenciamento de artistas como Lizha James, Danny OG, Da Most, Doppaz, mas também já passaram pela organização nomes sonantes como Dama do Bling, Valdomiro José, Marlene e Yara, cujas saídas alimentaram polémicas a vários níveis.
Vários órgãos de comunicação social trataram as saídas de alguns destes artistas da Bang Entretenimento como tendo- se tratado de baixas que terão sido originadas por questões ligadas com a divisão dos rendimentos, mas Bang desdramatiza a questão referindo que a saída daqueles artistas foi pacífica. Mesmo em relação a especulações segundo as quais o que terá precipitado o abandono da cantora Dama do Bling da organização terá sido o alegado facto de não se perceber muito bem a linha divisória entre a sua relação matrimonial e a sua relação profissional com a cantora Lizha James – beneficiando-a em detrimento de outros membros –, Bang negou que tenha havido desigualdade de tratamento.
A verdade, segundo ele, é que tudo tem a ver com questões relacionadas com o momento, pois “houve o momento em que quem estava em cima era a Dama do Bling, mas também houve momentos em que quem estava a bater era o Zico ou o Doppaz e quando passou a ser a vez da Lizha James, pessoas de má fé também passaram a dizer que é por causa da nossa relação como marido e mulher. Essa gente nem sequer presta a atenção para o facto de que a Lizha é uma cantora excepcional e que começou a sua carreira muito cedo”.
A questão relacionda com a lógica dos contratos também é muito determinante para que num dado momento apareça um músico a ser mais promovido e não outro, segundo explicou o produtor. O que acontece é que às vezes a Bang celebra contratos em que o músico aceita dar uma percentagem maior que a dos outros e o mais sensato para quem está a fazer negócio será investir no músico que oferecerá maior percentagem dos seus proveitos. “Entre um que oferece 40 e outro que oferece 60 por cento, é claro que investirei no que oferece 60”, elucidou.
Insistiu que não houve nenhum problema com Dama do Bling, Valdomiro José e Marlene. Reconheceu que de facto tinha contratos com eles, mas a rescisão foi amigável em todos os casos. No caso da Dama do Bling, Bang contou que a relação começou logo quando se criou a “fábrica de beats” e a relação sempre foi mais de amizade do que profissional. “Começámos enquanto a Dama do Bling não era cantora, senão uma excepcional produtora. Depois ela começou a cantar, mas sempre deixou claro para todos que ela não se considera uma cantora, mas sim uma artista.
Sempre sonhou em ser estilista e é o que hoje está a fazer e ainda vai ser a melhor estilista deste país. Sempre manifestou grandes ambições de um dia poder caminhar sozinha e quando esse dia chegou ela veio ter comigo e disse que era a hora. É óbvio que isso gerou muita especulação”, referiu. Quanto à coincidência nas saídas, Bang referiu que foi uma coincidência normal e que Valdomiro José e Marlene continuam a ser seus grandes amigos.
Acrescentou que Marlene quando se alistou na turma da Bang Entretenimento já tinha um produtor que investia mais dinheiro nela, que era a Celebrity, tendo sido com esta label que preferiu ficar.
Bang mostrou reservas em falar dos seus ganhos assim como dos ganhos dos músicos nos contratos celebrados. Para além de que o segredo é a alma do negócio, Bang defende que aspectos relacionados com os ganhos obtidos nos contratos não são para serem divulgados porque todos têm o direito à reserva da sua intimidade e da sua vida privada e isso aplica-se até mesmo aos artistas, apesar da visibilidade que a profissão obriga.
Fonte: Savana.
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