José Guimarães não tem dúvidas
Está na música há cerca de quatro décadas. O que o motivou a abraçar esta carreira artística?
Iniciei a minha carreira em 1969. Mas primeiro dizer que venho de uma família de músicos. Os meus tios, da parte da minha mãe, eram músicos. A maior parte deles fazia música, mas quem me deu os primeiros ensinamentos foi o meu irmão mais velho. Por razões de vária ordem, ele esqueceu-se, mas eu não me esqueci e voltei a ensinar-lhe a tocar. foi daí que constituímos o nosso grupo. Nessa altura, o grupo designava-se “Os Bárbaros” e, geralmente, tocávamos nas festas. A primeira vez que eu toquei foi no conjunto Casimatis. Eu tocava a viola a solo. Alugávamos instrumentos nos estúdios da Delta Rádio e íamos tocar no Benfica. Depois, fui tocar para o Topázio. Foram anos de muita experiência entremeados por actuações em muitas discotecas e casas de pasto.
A banda RM foi uma das mais mediáticas que o país teve. Como é que integrou o grupo?
Esse era projecto da Rádio Moçambique. Nós íamos tocar, de vez em quando, para as festas da Rádio ou qualquer convívio da Rádio. Éramos convidados para boates e, para tal, fazíamos uma selecção de membros de diferentes grupos, porque já nos conheciamos. Já havíamos gravado juntos na editora 2001. Era eu, o Pedro Ben, Wazimbo, Zeca Tcheco, Sox, Abel Chemane. E daí, surgiu o projecto de formarmos o grupo RM. Começámos a tocar todos ao mesmo tempo.
Em termos de repertório, o grupo RM sempre se caracterizou pela diversidade. Como era feito o repertório na banda?
Havia uma divisão. Havia uns que compunham e outros que interpretavam. Todos os instrumentistas eram bons. Contribuíam com ideias e aí saía uma música diferente da que se tocava na época. E veja que o grupo RM foi tão bom, tão bom por causa do tempo em que surgiu. Assim como apareceu o Jaimito naquela altura. Era muitíssimo bom. Se aparecesse neste momento seria um bocado diferente. Agora há muitos grupos com outras experiências. O grupo RM quando apareceu foi o melhor.
Houve quem dissesse que José Guimarães era o “coração” do grupo RM. Confirma isso?
Não posso negar, também não posso afirmar categoricamente. Mas eu compunha a maior parte das músicas. As melhores músicas. Mesmo quando o grupo ia para baixo, era eu quem compunha as músicas “mais-mais”, com a ajuda de todos claro. Mas eu trazia o esqueleto feito. Só a execução e outros pareceres eram dados por parte dos colegas. Mas sempre foi assim. Até hoje, continuo a gravar à minha maneira, sem o grupo RM. Uma das coisas em que estou a pensar agora é gravar uma música que estou a trabalhar com o próprio grupo RM.
O Grupo RM viveu alguns momentos turbulentos pela saída de alguns dos seus integrantes. O que o fez sair do grupo RM?
O que aconteceu foi o seguinte: Estávamos todos à espera de um convite para tocar no espectáculo do músico inglês Eric Clapton. Foram escolhidos alguns do grupo para tocar no referido concerto. Nós sabíamos que tínhamos que fazer um pedido escrito de autorização à Direcção da Rádio. Fiz. Inclui alguns colegas, o Paíto Tcheco, Leman Pinto e Wazimbo. O director respondeu positivamente. Alguns colegas deram a volta e foram dizer à Direcção que estava a criar uma banda fora com um inimigo da Rádio Moçambique, que era o Aurélio Lebon. Logo depois, o director veio dizer que “desautorizo o que autorizei”, assim verbalmente. Não havia de perder a oportunidade de tocar ao lado de Eric Clapton, por ser do grupo da Rádio. Continuo a ser músico mesmo fora do grupo RM. Porque o meu objectivo era actuar, fui tocar.
Aconteceu que nenhum membro da direcção foi assistir ao espectáculo. Mas tiveram o relatório. De quem é que foi? Significa que havia algo já preparado para complicar a minha vida. Quando voltámos à Rádio, fui chamado para me dizerem que estava suspenso da Rádio. Mas os colegas que tocaram comigo não foram suspensos e não sei porquê? Eu é que era o alvo a “abater”. Durante o período de suspensão, ia à Rádio Moçambique para gravar com o Fernando Azevedo. Era forma de fazer dinheiro e ocupar o tempo.
Essa questão ainda o magoa até hoje?
Logicamente que sim. Só que isso ensinou-me uma coisa. Acabei tendo um quiosque e alguns bens. Deixei de depender de patrão e da Rádio Moçambique. Ganhei juízo. Se estivesse a trabalhar na Rádio Moçambique, não teria ideia de construir o meu quiosque. Mas, por causa dessa situação, acho que fiquei muito melhor. Por um lado, destrui parte da minha vida, mas ensinou-me outra coisa. Isso para mim foi positivo.
Viver só de música em Moçambique não tem sido pêra doce. Como é tem sido a sua actividade artística actualmente?
Continuo a fazer gravações. Costumo gravar uma a duas músicas por ano. Não gosto de preparar as coisas a correr, porque isso não traz bom resultado. Admiro muito os jovens que gravam um álbum em cada ano. Alguns até totalizam catorze músicas, mas quando se procura algo de jeito no tal disco, não se encontra. Não contém algo. Prefiro andar devagar. E quanto aos concertos, tenho feito sessões particulares. Não de grande vulto.
Músicos são pouco considerados
Com que olhos vê a forma como é tratado o músico moçambicano?
Há muita falta de consideração para com os músicos. Eu lembro-me de muitos concertos. Num deles veio o Martinho da Vila e a Malaika. Os dois grupos estrangeiros tinham camarins terrivéis que até pareciam hotéis. Nós estávamos sentados num outro camarim. Só jantámos às 02h00 da manhã. Trouxeram-nos chamussas e água mineral. Mas quando espreitasses lá para o outro camararim “mama mia”...
Há opiniões contraditórias sobre o estágio em que se encontra a música moçambicana? O que tem a dizer sobre isto?
A música está a andar para frente. Não é muito boa nem muito má. Mas quero dizer aos músicos do sul, incluindo a mim mesmo, que a boa música vem do norte e do centro do país. Aqueles conjuntos, os Djaakas, Massukos estão a fazer música seriamente. É música moçambicana. A música de verdade vem do norte. Com o andar dos anos o norte vai suplantar o sul. O que não deveria ser, porque não estamos a competir. Não somos inimigos e nem adversários.
O que pode ser feito para que a música moçambicana atinja um nível aceitável?
Moçambique é rico em ritmos. Os músicos não se deviam dedicar a tocar músicas americanas. Quer dizer, músicas americanas com letras moçambicanas. Não deveria ser assim. Tem Mapiko, Niketche, uma série de ritmos. Os músicos deveríam trabalhar nisso. Quem sabe se um dia um americano poderia querer tocar Mapiko. Os jovens estão nessa coisa de “hip-hop”.
Além de músico, é actor de cinema. Como vai a sua carreira no cinema?
Recentemente fui convidado para fazer o filme “O último voo do Flamingo”. Fiz também um filme na reserva. Às vezes, faço dublagem de voz, sub-posição de voz em alguns filmes. Tenho vivido assim.
Abdul Sulemane
Está na música há cerca de quatro décadas. O que o motivou a abraçar esta carreira artística?
Iniciei a minha carreira em 1969. Mas primeiro dizer que venho de uma família de músicos. Os meus tios, da parte da minha mãe, eram músicos. A maior parte deles fazia música, mas quem me deu os primeiros ensinamentos foi o meu irmão mais velho. Por razões de vária ordem, ele esqueceu-se, mas eu não me esqueci e voltei a ensinar-lhe a tocar. foi daí que constituímos o nosso grupo. Nessa altura, o grupo designava-se “Os Bárbaros” e, geralmente, tocávamos nas festas. A primeira vez que eu toquei foi no conjunto Casimatis. Eu tocava a viola a solo. Alugávamos instrumentos nos estúdios da Delta Rádio e íamos tocar no Benfica. Depois, fui tocar para o Topázio. Foram anos de muita experiência entremeados por actuações em muitas discotecas e casas de pasto.
A banda RM foi uma das mais mediáticas que o país teve. Como é que integrou o grupo?
Esse era projecto da Rádio Moçambique. Nós íamos tocar, de vez em quando, para as festas da Rádio ou qualquer convívio da Rádio. Éramos convidados para boates e, para tal, fazíamos uma selecção de membros de diferentes grupos, porque já nos conheciamos. Já havíamos gravado juntos na editora 2001. Era eu, o Pedro Ben, Wazimbo, Zeca Tcheco, Sox, Abel Chemane. E daí, surgiu o projecto de formarmos o grupo RM. Começámos a tocar todos ao mesmo tempo.
Em termos de repertório, o grupo RM sempre se caracterizou pela diversidade. Como era feito o repertório na banda?
Havia uma divisão. Havia uns que compunham e outros que interpretavam. Todos os instrumentistas eram bons. Contribuíam com ideias e aí saía uma música diferente da que se tocava na época. E veja que o grupo RM foi tão bom, tão bom por causa do tempo em que surgiu. Assim como apareceu o Jaimito naquela altura. Era muitíssimo bom. Se aparecesse neste momento seria um bocado diferente. Agora há muitos grupos com outras experiências. O grupo RM quando apareceu foi o melhor.
Houve quem dissesse que José Guimarães era o “coração” do grupo RM. Confirma isso?
Não posso negar, também não posso afirmar categoricamente. Mas eu compunha a maior parte das músicas. As melhores músicas. Mesmo quando o grupo ia para baixo, era eu quem compunha as músicas “mais-mais”, com a ajuda de todos claro. Mas eu trazia o esqueleto feito. Só a execução e outros pareceres eram dados por parte dos colegas. Mas sempre foi assim. Até hoje, continuo a gravar à minha maneira, sem o grupo RM. Uma das coisas em que estou a pensar agora é gravar uma música que estou a trabalhar com o próprio grupo RM.
O Grupo RM viveu alguns momentos turbulentos pela saída de alguns dos seus integrantes. O que o fez sair do grupo RM?
O que aconteceu foi o seguinte: Estávamos todos à espera de um convite para tocar no espectáculo do músico inglês Eric Clapton. Foram escolhidos alguns do grupo para tocar no referido concerto. Nós sabíamos que tínhamos que fazer um pedido escrito de autorização à Direcção da Rádio. Fiz. Inclui alguns colegas, o Paíto Tcheco, Leman Pinto e Wazimbo. O director respondeu positivamente. Alguns colegas deram a volta e foram dizer à Direcção que estava a criar uma banda fora com um inimigo da Rádio Moçambique, que era o Aurélio Lebon. Logo depois, o director veio dizer que “desautorizo o que autorizei”, assim verbalmente. Não havia de perder a oportunidade de tocar ao lado de Eric Clapton, por ser do grupo da Rádio. Continuo a ser músico mesmo fora do grupo RM. Porque o meu objectivo era actuar, fui tocar.
Aconteceu que nenhum membro da direcção foi assistir ao espectáculo. Mas tiveram o relatório. De quem é que foi? Significa que havia algo já preparado para complicar a minha vida. Quando voltámos à Rádio, fui chamado para me dizerem que estava suspenso da Rádio. Mas os colegas que tocaram comigo não foram suspensos e não sei porquê? Eu é que era o alvo a “abater”. Durante o período de suspensão, ia à Rádio Moçambique para gravar com o Fernando Azevedo. Era forma de fazer dinheiro e ocupar o tempo.
Essa questão ainda o magoa até hoje?
Logicamente que sim. Só que isso ensinou-me uma coisa. Acabei tendo um quiosque e alguns bens. Deixei de depender de patrão e da Rádio Moçambique. Ganhei juízo. Se estivesse a trabalhar na Rádio Moçambique, não teria ideia de construir o meu quiosque. Mas, por causa dessa situação, acho que fiquei muito melhor. Por um lado, destrui parte da minha vida, mas ensinou-me outra coisa. Isso para mim foi positivo.
Viver só de música em Moçambique não tem sido pêra doce. Como é tem sido a sua actividade artística actualmente?
Continuo a fazer gravações. Costumo gravar uma a duas músicas por ano. Não gosto de preparar as coisas a correr, porque isso não traz bom resultado. Admiro muito os jovens que gravam um álbum em cada ano. Alguns até totalizam catorze músicas, mas quando se procura algo de jeito no tal disco, não se encontra. Não contém algo. Prefiro andar devagar. E quanto aos concertos, tenho feito sessões particulares. Não de grande vulto.
Músicos são pouco considerados
Com que olhos vê a forma como é tratado o músico moçambicano?
Há muita falta de consideração para com os músicos. Eu lembro-me de muitos concertos. Num deles veio o Martinho da Vila e a Malaika. Os dois grupos estrangeiros tinham camarins terrivéis que até pareciam hotéis. Nós estávamos sentados num outro camarim. Só jantámos às 02h00 da manhã. Trouxeram-nos chamussas e água mineral. Mas quando espreitasses lá para o outro camararim “mama mia”...
Há opiniões contraditórias sobre o estágio em que se encontra a música moçambicana? O que tem a dizer sobre isto?
A música está a andar para frente. Não é muito boa nem muito má. Mas quero dizer aos músicos do sul, incluindo a mim mesmo, que a boa música vem do norte e do centro do país. Aqueles conjuntos, os Djaakas, Massukos estão a fazer música seriamente. É música moçambicana. A música de verdade vem do norte. Com o andar dos anos o norte vai suplantar o sul. O que não deveria ser, porque não estamos a competir. Não somos inimigos e nem adversários.
O que pode ser feito para que a música moçambicana atinja um nível aceitável?
Moçambique é rico em ritmos. Os músicos não se deviam dedicar a tocar músicas americanas. Quer dizer, músicas americanas com letras moçambicanas. Não deveria ser assim. Tem Mapiko, Niketche, uma série de ritmos. Os músicos deveríam trabalhar nisso. Quem sabe se um dia um americano poderia querer tocar Mapiko. Os jovens estão nessa coisa de “hip-hop”.
Além de músico, é actor de cinema. Como vai a sua carreira no cinema?
Recentemente fui convidado para fazer o filme “O último voo do Flamingo”. Fiz também um filme na reserva. Às vezes, faço dublagem de voz, sub-posição de voz em alguns filmes. Tenho vivido assim.
Abdul Sulemane
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