segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tonota: O amor africano na guitarra de Jimmy


JIMMY DLUDLU, um dos maiores guitarristas moçambicanos, lança esta sexta-feira, em Maputo, a sua mais recente produção discográfica intitulada “Tonota in the Groove”, num espectáculo de palco a ter lugar no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM).

“Tonota in the Groove” é o sétimo álbum do guitarrista Jimmy Dludlu lançado no passado dia 25 de Maio, na vizinha África do Sul, sob chancela da Universal Music.

Com 15 faixas, "Tonota" conta uma história cheia de vida de Jimmy e é um retorno aos primeiros anos de busca de lugar no mundo musical.

Tonota é nome de uma vila fronteiriça, no Botswana, e que se situa a 30 quilómetros de Bulawaio, Zimbabwe. É onde Jimmy Dludlu, depois de sair da Suazilândia, viveu e amadureceu como músico de referência internacional.

Foi em Tonota onde, inclusive, teve a sua primeira filha, a Linda. Com efeito, Tonota é um lugar de vivências profundas e de simbolismos particulares para Jimmy Dludlu. É impossível falar da carreira dele sem referir o nome deste lugar. Basta lembrar que mesmo o seu primeiro disco, o Echoes From the Past, foi concebido, produzido e gravado ao longo daqueles primeiros anos em que ele viveu em Tonota.

Depois de sair de Botswana para se estabelecer em Cape Town, Jimmy Dludlu pediu a uma família, em Tonota, que ficasse a cuidar da filha. Não tendo podido ir com o pai a Cape, a pequena Linda ficou, então, sob cuidados da família Mulawa, durante muitos e longos anos.

È neste sentido que o novo disco de Jimmy Dludlu é, em primeiro lugar, um tributo a esta família remota e generosa de Tonota, pelo papel que teve na vida do artista e na educação da sua filha. Quando diz Tonota “into the groove”, ele quer dizer que os milagres da música podem nascer do insólito. Quer dizer que as capitais do jazz não estão somente nos pub’s onde se toca o estilo, mas no amor daqueles que, com a sua imaginação, criam os artistas. O “Tonota” é a festa do amor africano!

“Eu cresci no Botswana como músico e foi lá onde selei a minha carreira, tendo trabalhado com vários artistas. Tonota é um lugar de referência para mim e por isso é que dedico este disco à minha filha e à família que cuidou dela nos tempos longos em que eu não pude fazê-lo pessoalmente ou estar presente, por vários motivos e circunstâncias”, diz Jimmy Dludlu.

Em termos temáticos, “Tonota Into The Groove” é um fascínio. É uma proposta musical de sonoridades e melodias irrecusáveis ao ouvido e que nos resgatam um músico eternamente apaixonado pelo afrojazz, num cocktail bastante carregado de fusão.

“Cada música que toco tem uma mensagem própria. Falo, por exemplo, das mudanças climáticas (Blues for Haiti) e do amor (Falling in Love) e do perigo dos vícios (Puza Wise and Arrive Alive). Portanto, é um disco com muitas histórias para contar”, referiu o artista, acrescentando que algumas das músicas têm mensagens que não têm rigorosamente nada a ver com o título do álbum e nem com os seus 6 anteriores trabalhos.

As 15 faixas do “tonota”
01. How About The Ones In The Village

02. Shamaka's Burgs

03. Blues For Haiti

04. Gentle Rain

05. Better Days Ahead

06. F.Town Groove

07. Tonota

08. Cycle Of Sins

09. The Value Of A Woman's Life

10. Baby Found In The Park

11. Chisa nyama

12. Karingana Karingana

13. Phuza Wise

14. Tasbem

15. Master Of Bread And Sugar

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Um show na marginal de Sumbe

Neyma

Um show na marginal de Sumbe

A cantora Neyma foi uma das figuras de destaque do Festival Internacional do Sumbe, FestiSumbe, que se realizou este fim-de-semana na Marginal do Sumbe, capital de Kwanza Sul, Angola.

Segundo a “Angola Press”, a artista fez-se ao palco depois da performance da bailarina, também moçambicana, Elizangela e, em 20 minutos, cativou o público numa actuação interactiva em que esteve bem acompanhada por três bailarinos e mostrou aos angolanos o que se faz musicalmente em Moçambique.

Neyma antecedeu musicalmente o angolano Carlos Burity, que encantou o público com temas como “Tia”, “Malalanza”, incluídas no seu mais recente disco “Malalanza”.

No final, Neyma considerou a realização anual do FestiSumbe um espaço e oportunidade de troca de experiências e intercâmbio entre músicos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

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Tarde de ritmos eclécticos


Lizha james, Ary, Yola Araújo e Sweet Boys

Caiu, semana finda, o pano da primeira temporada do “Posso ser uma estrela” do “Super Tardes” da STV, mas hoje a festa continua.

Muita adrenalina é o que se viverá, numa tarde em que serão exibidos vídeos retratando os melhores momentos deste reality show.
Ao invés do estúdio 222, a festa de hoje terá lugar no Cine Gil Vicente, às 16h00. O ingresso está condicionado à compra de uma recarga de 50 meticais da vodacom, não usada, que deve ser exibida à entrada. Será um show especial de entrega de prémio ao vencedor da rubrica “Posso ser uma estrela”. Os dez finalistas estarão em grande para cantarem em dueto e individualmente. Aliás, esta é uma oportunidade para rever nomes como Lourenço Carlos, Helga Custódia, Deltino Guerreiro, Neima Lumbela, Vasta Capela, Claudete Cardoso, Maira Odaisse, Celso Notiço, Assa Matusse, entre outros, que durante semanas deram muito gás no concurso de rediscoberta de talentos.

Nesta mega-festa, cujos entre os convidados especiais pontificam nomes como Yola Araújo, Ary, Lizha james e Sweet Boys, abriu-se uma oportunidade para que os cinco concorrentes que tiveram bom desempenho, mas que por insuficiências de votos não puderam chegar à final do “Posso ser uma estrela”, possam passear a sua classe em palco. Para abrilhantarem o palco, foram também “recrutados” os melhores quatro grupos de dança, que se sagraram vencedores da rubrica “quem sabe dança...”

João Ribeiro, director Operacional da Soico, descreve esta que foi a primeira temporada nos seguintes termos: “Foi sensacional e a temporada mostrou que há pessoas com pontecial e decididas a investirem monetariamente e em tempo, uma vez que todo o processo, desde a indumentária a ensaios, esteve a cargo dos concorrentes. A STV está apenas a criar espaço e a dar oportunidade para pessoas que têm vontade de mostrar o seu talento. E como resultado, estes mostram que têm iniciativa suficiente para encontrarem apoios para puderem exibir-se em palco”, frisou.

Um “caloiro” Guerreiro

Deltino Guerreiro foi o vencedor da primeira temporada da rubrica “Posso ser uma estrela” do programa Super Tardes. Semana finda, mostrou o seu melhor perante outros nove concorrentes, o que lhe conferiu o grande prémio, a ser entregue hoje. Após o anúncio do vencedor, Deltino Guerreiro disse ser difícil encontrar palavras para descrever o que sentia, pois a satisfação era imensa: “é sempre difícil falar em momentos como este, as palavras estão esgotadas, é muita satisfação para uma só pessoa, as palavras são escassas”. Guerreiro irá receber hoje como prémio um cheque gigante com o valor de 50 mil meticais. Consta também do prémio para o lugar que conquistou a gravação e edição de um vídeo a cargo da MG Produções, como também um estúdio disponível para gravar som. Ainda neste sábado, será entregue um Nissan Micra 0 Km a pessoa que mais votou no programa.Digite aqui o resto do post

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Cântico das diferenças

Salif Keita

Salif Keita estará em Maputo. As suas músicas renascem em eco como Elsy Myrian Pantoja, assumida “Filha de Jah”, que as apresenta neste texto sobre o grande artista do Mali. Através dele podemos reinventar e refazermos nossa própria música.

Por mais de quarenta anos, Salif Keita continua a trabalhar, incansavelmente, para ourives da moderna música do Mali, empurrando muitas fronteiras musicais e, constantemente, à procura de outras formas de fazer registos. Sua música multiplica as aberturas com o mundo ao seu redor.
De acordo com seus encontros e viagens, Salif Keita nunca abandonou suas raízes e cultura mandinga. Pioneiro cantor e compositor, ele era o avant-garde para atender às suas façanhas vocais com a Band Ferroviário e Ambassadeurs, duas das maiores orquestras do Mali em 1970, antes de se tornar numa das grandes revelações da música mundial emergente, na sua estreia a solo com “Soro”, em 1987.

Após o clássico “Moffou” em 2002 e “M’Bemba” em 2005, que fechou a última década em grande estilo com “A Diferença”, a terceira parte de sua trilogia foi lançada com a Universal jazz acústico. Este disco é um dos álbuns mais empenhados e mais tocantes da sua carreira. Foi produzido em grande parte em Paris. Algumas sessões em Bamako (no seu estúdio, O Moffou) para Djoliba (sua aldeia nativa nas margens do Níger), Los Angeles e em Beirute.

Em perpétuo movimento, em vez de permanecer fixo e deleitar-se com a tradição que ele dominou com perfeição, no entanto, Keita está sempre em movimento sobre a evolução musical e tecnologias para alcançá-los. Definir com arranjos sumptuosos este novo álbum não é excepção à regra. Encontramos aqui uma equipa de músicos, caras novas e fiéis, que são totalmente do corpo em torno de Salif.

A força artística de Keita vem em grande parte porque ele tenta se renovar constantemente, tanto em suas palavras, música e canto. Sua voz permite-lhe trazer emoções reais, ele canta em malinka, bambara e francês. Ele não é sempre o melhor som possível, hesitando para misturar línguas em conjunto para encontrar uma poesia justa. Não é o menor dos paradoxos do Conselho, cujo estatuto Salif Keita de muito nobre proibiu-o de cantar e de confrontar o verbo e a técnica dos griots. Descendente do ilustre imperador Sundiata Keita, cujo império, no século XIII, estendia-se do Atlântico ao deserto do Sahara para o Golfo da Guiné, Salif Keita é mais do que nunca um símbolo do orgulho na sua africana raiz e história, mas também numa África que é projetada perfeitamente numa cada vez mais global, em busca da modernidade.

Albino Born, a mesma cor de sua pele, augura bem “claro no escuro” presságios. “Eu sou negro, minha pele é branca e gosto bem que é a diferença: eu sou branco, meu sangue é negro, eu amo ele, a diferença é bastante”. Tudo é dito sobre este hino à tolerância, no qual exprime suas convicções como artista. Além desta peça para um melhor reconhecimento dos albinos, o álbum também aborda o tema da preservação ambiental do seu país. “Ekolo Love” sensibiliza a tragédia ambiental que ocorreu em África há várias décadas na indiferença geral. Em “San Ka Na”, procura despertar a consciência de seus compatriotas sobre a protecção do rio Níger, perto da qual ele cresceu. Este é um verdadeiro grito do coração e da boca de um golpe contra a inacção da política de protecção do litoral e dos cursos de água, a espinha dorsal do Mali, actualmente muito poluído.

Cruzadas com M. de Vanessa Paradis ou Ricour Ben, Patrice Renson dá plena coerência sobre Salif, trazendo influências óbvias de eficiência pop, mas também um fluxo claro de execução. Também é encontrado na bateria, guitarra e percussão em várias faixas de “A Diferença”. Ele assina os arranjos de cordas de Samigna, Ka San Na e Ekolo de Amor, gravado em Beirute, com a ajuda do trompetista libanês Ibrahim Maalouf.

Joe Henry gravou, produziu e remixou “Papai Folon”, das mais comoventes faixas do álbum. Como Seydou, que nada mais é que uma nova versão do Seydou Bathily, um tempo padrão da Ambassadeurs du Motel, Dad carrega suas emoções com a profundidade universal, peças de outras nuances, muitas vezes graves no tema, mas onde a alegria da vida e da esperança prevalecem. Sublinhando Djeli melodia, balafon de Keletigui Diabate, um monumento da música do Mali e fiel cúmplice nos últimos quarenta anos mostra uma clareza que não poderia ser mais natural. Ela evoca os laços que unem a Salif, com que aprendeu a tocar guitarra.

Se o menor Jannick Top e violoncelo Gaffou Vincent Segal, trompete Ibrahim Maalouf em Samigna, guitarras Kante Manfila e Ousmane Kouyaté e da percussão de Mamadou Kone em San Ka Na, o baixo N’Sangue Guy na guitarra ou Djeli Seb Martel e Bill Frisell na Folon, cada músico traz aqui o melhor de si, reflecte uma cumplicidade profunda com Salif. A doçura da Seydou, a sinceridade da diferença, a profundidade da tristeza ou San Folon Ka Na compor uma plural vibração do álbum, fazem a diferença que se irradia voz de um cantor no topo de sua voz. Como Salif canta na faixa-título: “Todo o mundo tem a honra de sua felicidade, slogan de verdadeira felicidade universal.

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Cesária Évora termina a carreira.

Cesária Évora

A cabo-verdiana de 70 anos está fisicamente muito debilitada.

A cantora Cesária Évora pôs um ponto final à sua longa carreira, anunciou a sua editora, a Lusafrica. A cabo-verdiana de 70 anos está fisicamente muito debilitada.
A diva dos pés descalços Évora chegou há poucos dias a Paris para uma série de concertos e apresentações, agora cancelados.

O comunicado da editora explica que a cantora chegou a França num estado de “grande debilidade”. “Os médicos que a seguem em Paris ordenaram o cancelamento da sua próxima digressão. Cesária decidiu então, em conjunto com o seu produtor e agente, José da Silva, pôr um fim de maneira definitiva à sua carreira.”

Os problemas de saúde de Cesária Évora têm vindo a complicar-se desde 2008, quando, em Março, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) durante um concerto na Austrália.

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A mãe dos poetas moçambicanos



A segunda edição de “Sangue Negro”, livro de Noémia de Sousa, foi lançada esta semana.

Do seu posfácio fomos buscar dois textos, um de Nelson Saúte, que tem como título “A mãe dos poetas moçambicanos”, e outro de Francisco Noa, que nos ajudam a perceber a alma que existe nos textos desta poetisa.
Eu tinha 15 anos e o poema dizia: “Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço./Fugitivas das Munhuanas e dos Xipamanines,/viemos do outro lado da cidade/com nossos olhos espantados,/nossas almas trancadas,/nossos corpos submissos escancarados./De mãos ávidas e vazias,/de ancas bamboleantes lâmpadas vermelhas se acendendo,/de corações amarrados de repulsa,/descemos atraídas pelas luzes da cidade,/acenando convites aliciantes/como sinais luminosos na noite”. Passados estes anos não sei proclamar o meu espanto. Mas lembro que sobre a retina daquele rapaz que eu era, na incauta leitura de uma antologia de Orlando Mendes (Sobre Literatura Moçambicana), ficou a reverberar um nome estranho.

Quem seria essa mulher que se escondia no nome de poeta Noémia de Sousa? - interrogou-se o menino que fui. Naquele então a literatura que conhecia era sobretudo o pecúlio trazido no ombro dos guerrilheiros. Era essa a poesia que sobrava das artes de declamação experimentada nos pátios das escolas, onde fomos continuadores da revolução e exaltadores de todas as utopias - tudo o que agora está inscrito no refluxo dos nossos sonhos.

Noémia de Sousa não constava do meu bornal de amador de poetas. Tinha lido, tinha dito, lá no alto da minha inocência, versos da chamada - e aclamada - poesia de combate. Mas desconhecia em absoluto esta mulher.

As buscas começaram imediatamente. Quem era Noémia de Sousa, autora daqueles versos frenéticos, daqueles versos longos e belos, que falava de moças fugitivas dos bairros onde estavam acantonados na mais vil miséria, das Munhuanas e dos Xipamanines, do outro lado da cidade, com os olhos espantados?

Carolina Noémia Abranches de Sousa era o nome dela. Nascera a 20 de setembro de 1926, ali na Catembre, numa casa à beira do Índico, albergue que seria celebrado num dos seus poemas mais emblemáticos.

Não tardou a descobrir que esta mulher escrevera apenas durante três anos, o bastante para incendiar o rastilho da poesia que reivindicava a personalidade dos oprimidos, que fundava a literatura dos marginalizados. Tudo isto entre 1948 e 1951. Hoje, neste ano prodigioso de 2001, vemo-la aqui, em livro, na celebração dos 50 anos, sobre o silêncio. Silêncio quebrado em 1986 aquando da morte de Samora Machel, reincidência praticada anos depois, num dos textos mais belos e comoventes, que Carlos Pinto Coelho fez publicar no seu álbum de fotografias “A meu ver”.

Noémia viveu na Catembe, do outro lado da baía de Maputo, até aos seis anos, quando se mudou para a então Lourenço Marques. O pai, funcionário público, era originário de uma família luso-afro-goesa da Ilha de Moçambique. Foi ele que a ensinaria a ler aos quatro anos, movido provavelmente pelas mesmas ideias de progresso que animavam personalidades como Estácio Dias (pai de João Dias) ou os Albasini, com quem convivia. Sua mãe, nascida na Bela Vista, para lá da Catembe, era filha de um alemão (Max Bruheim), caçador e negociante, e da filha de um chefe ronga, Belenguana.

A morte do pai, ocorrida quando Noémia tinha oito anos, veio transformar as condições de vida da família, que vivia até então relativamente desafogada, vendo-se a mãe da poetisa a braços com o sustento de seis filhos, dois deles a estudar em Portugal, com a ajuda de uma tia paterna. Aos 16 anos, Noémia de Sousa teve que se empregar, mas estudava à noite na Escola Técnica, onde frequentava o curso de Comércio.

A vocação da escrita foi precoce, iniciara-se fazendo jornais de parede com os irmãos. O mano Nuno, um dia, veio confidenciar-lhe que havia um amigo - Antero, a quem dedica um dos seus poemas iniciais - que estava num grupo de outros rapazes que tinham tomado de assalto, por assim dizer, o jornal da Mocidade Portuguesa, sob a direcção do poeta Virgílio de Lemos (o mesmo que mais tarde iria editar a folha M’saho de poesia, que estava nos antípodas do que Noémia de Sousa poderia defender) e que solicitava uma colaboração sua.

Noémia escreveu o “Poema ao meu irmão negro”. Assinou-o com as iniciais: N.S. Provocou alvoroço. Quem seria N.S? A esta distância este título parece inocente, mas quem atentar para a época não terá dificuldades em sublinhar a coragem inusitada da jovem Noémia de Sousa.

Cassiano Caldas, funcionário dos CFM, ligado ao projecto Itinerário, onde colaboraram muitos dos poetas que se haveriam de consagrar no período anterior à Independência de Moçambique, deu-lhe a conhecer a revista Vértice. Foi nessa revista que leu, pela primeira vez, Nicolás Guillén, o poeta cubano do Songoro Consogoro. Leu depois muitos livros sobre a vida dos negros americanos em tradução brasileira. Entre a situação do Sul dos EUA e a situação em Moçambique daquele tempo, Noémia conseguia estabelecer similitudes.

Longe consagrava-se a Negritude, mas Noémia não a conhecia. Foi através da afirmação dos valores dos oprimidos que a poetisa se sentiu perto das ideias defendidas, na época, por pessoas como Leopold Senghor ou Aime Cesaire (de quem veio a traduzir mais tarde o famoso “Discurso sobre o colonialismo”). Mas não os lera, nem outros dos que nela pontificavam. Ela vivia distante na sua Munhuana, lendo sobretudo os escritores neo-realistas portugueses, que lhe chegaram pela mão de Cassiano Caldas.

Ao tempo que Norton de Matos foi candidato às presidenciais em Portugal, Noémia de Sousa começou a frequentar outros jovens que despontavam para as artes e letras em Moçambique: Ruy Guerra, Ricardo Rangel, entre outros.

João Mendes, irmão do escritor Orlando Mendes, era um congregador de jovens e utopias, ajudando a mapear uma nova realidade, distante da estratificação racial. Não escrevia, unia. A sua actividade, da qual resultava a junção dos rapazes da Polana, chamemos-lhe aristocrática, à Mafalala empobrecida, valeu-lhe a deportação. João Mendes é um dos homenageados pela poesia de Noémia de Sousa.

Noémia iniciou a sua colaboração com “O Brado Africano” quando se procurava terminar o projecto da Associação Africana. Entrincheirados na defesa da causa estavam: Cassiano Caldas, Henrique Dahan, Brassard, Miguel da Mata, Víctor Santos (irmão de Marcelino dos Santos), Nobre de Melo, Amália Ringler, Dolores Lopes, entre outros. Estes angariavam dinheiro para finalizar as obras da Associação. Noémia de Sousa escrevia na Página Feminina de “O Brado”. Publicava poemas.

“N’O Brado Africano” ainda ressoava o nome de um Rui de Noronha, a quem Noémia via passar em frente de sua casa. Nunca falou com ele. Também não conviveu com João Dias, outro dos nomes tutelares da nossa literatura. Contudo, a jovem não se esqueceu dos papéis que ambos desempenharam na fundação da literatura moçambicana, de que é um dos mitos fundadores.

Naquele tempo não se podia imaginar dispositivos comunicacionais como a televisão. A caixinha mágica não chegara ainda, mas frequentava-se o cinema, sobretudo as matinés, no Scala, no Gil Vicente ou no Varietá. Ouvia-se música em grafonolas. Conspirava-se. Noémia de Sousa cresceu nesse ambiente de reivindicação.

Poder-se-ia considerar assim uma nota que redigiu para “O Brado Africano”, referindo-se a um jovem moçambicano que motivava uma forte manifestação de solidariedade na África do Sul, por não lhe ter sido concedida a prorrogação do visto de residência temporária pelo Governo de Malan, o que o impediu de prosseguir os estudos na Universidade de Wittswaterand. Esse jovem chamava-se Eduardo Chivambo Mondlane. Conheceu-a depois, regressado a Moçambique, antes de embarcar para Lisboa, onde permaneceu um ano antes de rumar para os Estados Unidos da América.

Noémia, que participara nas actividades do MUD-Juvenil, que distribuíra panfletos à noite com João Mendes, que escrevera cartas subversivas, que redigira artigos cortados pela censura, que conspirara, não escapou à prisão. O cerco apertava-se. Em 1951 teve de partir, seguindo o extenuante caminho do exílio e deixando atrás de si, na PIDE, o Processo 2756 CI (2).

Mário de Andrade, quando soube que ela ansiava partir, escreveu-lhe encorajando-a. Desembarca em Lisboa quando a “geração da utopia” (no dizer de Pepetela) sondava as independências. O Centro de Estudos Africanos, do qual fez parte, funcionava na rua do Vale, 37, casa da Tia Andreza, tia de Alda do Espírito Santo, de São Tomé e Príncipe, companheira de jornada.

Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Marcelino dos Santos, Lúcio Lara, Agostinho Neto, Francisco José Tenreiro eram os nomes mais conhecidos da intelectualidade africana em Portugal. Com eles Noémia de Sousa partilhou as acções que estão na base da fundação dos movimentos de libertação de cada país. Este período precisa de ser melhor cotejado, mas, tanto quanto sabemos, a participação de Noémia não foi episódica. Antes pelo contrário, foi activa.

Noémia de Sousa foi companheira de jornada destes nacionalistas. Quando a PIDE cerceou o pouco espaço que tinham de intervenção, os jovens decidiram-se por França, onde, aliás, Noémia irá buscar refúgio da ditadura, com uma filha às costas – Virgínia Soares (ou melhor, Gina). Saltou a fronteira, galgou os Pirinéus e alcançou a liberdade. Casara-se em 1962 com o poeta Gualter Soares.

Marcelino dos Santos conseguiu emprego no Consulado de Marrocos em Paris. Entretanto, Lilinho Micaia partiu para outra frente de combate, em Dar-es-Salaam. Vera Micaia (quero eu dizer: Noémia de Sousa) atardou-se por Paris até 1973, ano em que decide regressar a Portugal, para preencher uma vaga na agência Reuter. Não adivinhava que a revolução estava à porta.

No dia 25 de Junho de 1975 estava na sua casa de Algés na companhia dos legendários futebolistas Eusébio da Silva Ferreira e Hilário da Conceição e respectivas mulheres. Não fora convidada para a independência. Anos mais tarde, na mesma casa, havia de me confidenciar que tal facto a deixara magoada.

Trinta e três anos depois da partida, regressa à grande casa deitada à beira mar. Essa “casa” talvez não fosse apenas a casa da Catembe, talvez fosse Moçambique ou mesmo África. Foi um reencontro mediado por lágrimas, tremendamente emocionado. Há um poema onde ela intenta o sonho: “Um dia o sol inundará a vida e será como uma nova infância raiando para todos”. Eram os anos da bicha nos talhos pela madrugada, do carapau de Angola cozido e recozido, da farinha amarela, do repolho feito de todas as formas. Eram os anos da crise, da falta de luz, da falta de água. Foi no tempo em que o desespero se apoderava dos moçambicanos. Era o tempo em que a revolução expulsava os bastardos para o Niassa. Anos 80! Foi quando Noémia visitou a terra. A pátria.

Noémia de Sousa estava já na condição de um mito, um mito afirmado nos armoriais da literatura moçambicana. Seus poemas tinham sido adoptados para estudos nos compêndios da escola da FRELIMO na luta armada e agora eram lidos nas escolas moçambicanas. Seu legado tinha sido recuperado pelos poetas de outras pátrias como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe.

Entretanto “O Brado Africano”, “Itinerário”, “Msaho”, “Mensagem” (em Luanda), “Notícia de Bloqueio” (no Porto), “Moçambique 58”, “Vértice”, entre outras publicações moçambicanas e estrangeiras haviam-na publicado com ênfase.

Mas também Carolina Noémia Abranches de Sousa, aliás Noémia de Sousa, comparecera nas antologias: “Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa”, em 1953, veja-se a que tempos!, uma antologia organizada por dois saudosos campanheiros de jornada literária e de luta cívida: Francisco José Tenreiro (poeta são-tomense de grande quilate) e Mário Pinto de Andrade (o historiador, o intelectual, sobretudo a consciência crítica desta “geração da utopia”, para pilhar uma vez mais a expressão do Pepetela).

Cinco anos depois da edição deste caderno, que era singularmente dedicado ao poeta cubano de Songoro Consogo, que vivia exilado em Paris, longe da sua La Habana, onde ainda sobrevivia Fulgêncio Batista, que rapidamente seria expulso por Fidel Castro, “Che” Guevara e outros guerrilheiros que desceram da Sierra Maestra - Nicolás Guillén -, viria a lume “Poesia Negra de Expressão Portuguesa”, desta feita editada em Paris, para onde fugira exilado o seu organizador - Mário Pinto de Andrade.

Na altura, Mário de Andrade montara banca na “Presence Africaine”, importante publicação no contexto da afirmação dos valores dos povos mudos da História. Ano depois, em 1959, a Casa dos Estudantes do Império (CEI), que tinha uma actividade editorial significativa, responsável pela revelação de grandes nomes da literatura africana de língua portuguesa - José Craveirinha lá se havia de estrear em livro com “Xigubo” em 1964 - faz editar a antologia “Poesia em Moçambique” (separata da Mensagem), onde Noémia de Sousa não é ignorada.

A mesma CEI editará em 1960 e 1962 duas antologias intituladas “Poesia de Moçambique”, ambas prefaciadas por Alfredo Margarido, que estão na origem de uma polémica, uma das mais interessantes da época, desencadeadas por Eugénio Lisboa, que praticava já um juízo crítico cáustico e cauterizante.

Noémia de Sousa era já um nome afirmado a despeito do facto de ser inédita em livro próprio. Lida e seguida não só em Moçambique, mas em outros países onde uma visão da literatura, como instrumento de confrontação ideológica, tinha lugar.

Outras antologias importantes que recolhem os seus poemas: “Antologia Temática da Poesia Africana - Na noite grávida de punhais”, organizada também por Mário Pinto de Andrade. Dez anos depois, em 1985, Manuel Ferreira acolheu-a em “No reino de Caliban III”, antologia dedicada à poesia de Moçambique. Aliás, convirá dizer, como testemunho para o futuro, que Manuel Ferreira foi dos primeiros a tentar publicar Noémia de Sousa em livro. A poetisa, aversa à publicação, alegou que queria que seus poemas fossem, antes de tudo, primordialmente editados em Moçambique, onde é estudada nas escolas, lida através de textos avulsos que circulam, de mão em mão, fotocopiados, policopiados. A supra-citada antologia de Orlando Mendes refere-a na “Antologia da Nova Poesia Moçambicana”, que eu havia de co-organizar com Fátima Mendonça, editada pela AEMO em 1993, coligimos os versos a Samora Machel, feitos a pedido do sobrinho Camilo de Sousa, para um documentário sobre o Presidente.

Há 15 anos precisamente, quando Noémia completava 60 anos, escrevi “Carta a Noémia de Sousa”. O texto é incipiente mas foi recolhido num dos manuais escolares do nosso ensino secundário. Foi lido na Rádio Moçambique no dia 20 de setembro de 1986. Mandei-o à Gazeta de Artes e Letras da revista Tempo. O coordenador, meu amigo Gilberto Matusse, esqueceu-o na gaveta. Contudo, um ano depois, havia de publicá-lo.

A primeira vez que aterro em Lisboa, cometo a ousadia de telefonar para Noémia. Levava comigo o seu número de telefone, dado pela Fátima Mendonça. Começa tudo aí, nesse encontro em Algés, festejando a nossa independência – era Junho! -, comendo feijoada e lendo Carlos Drummond de Andrade. Nos anos que em Portugal, errei como estudante, fui visita constante de Noémia de Sousa. Hoje, quando lá vou, não posso regressar sem a ver.

Em todos estes anos insisti, como o fizeram muitos, na edição dos seus poemas. Noémia arranjou todos os subterfúgios, mas há alguns anos, depois de ter recusado convites de Manuel Ferreira, Michel Laban, entre outros, ela acedeu publicá-los.

Houve diversas iniciativas para o fazer através da Associação dos Escritores Moçambicanos, a que estiveram ligados primeiro Rui Nogar e Calane da Silva, depois Leite de Vasconcelos com Fátima Mendonça e Júlio Navarro.

Não se concretizaram estas iniciativas (tratava-se, sobretudo, de fixar o texto definitivo e obter assentimento da poeta em publicar), mas Noémia reconheceu, finalmente, que a sua modéstia não deveria constituir impedimento para a publicação do livro – o que para muitos permanecia inexplicável – e confiou-me a grata tarefa de organizar a edição do mesmo.

Na altura, Rui Knopfli – foi Noémia de Sousa quem mo apresentou, em 1989, tantas vezes confidenciei a minha admiração por ele! – ficou encarregado do prefáciou-se definitivamente deste reino sem ter escrito o texto.

Cinquenta anos depois do abandono da escrita, temos o beneplácito dos deuses e este “Sangue Negro” é finalmente editado. Noémia de Sousa não o releu, nem o corrigiu, tendo concordado que os poemas permaneceriam na versão (original) policopiada, que se encontra depositada no Arquivo Histórico de Moçambique, devendo apenas ser actualizada a respectiva ortografia.

As razões que explicam o facto de eu ser quem redige estas notas iniciais são as mesmas que explicam o facto de Fátima Mendonça ser a autora do ensaio que enquadra histórica e literariamente a poetisa e, Francisco Noa discorrer sobre alguns aspectos desta poesia. Todos nós temos uma relação de superior admiração e grande amizade e afecto com Noémia de Sousa e pertencemos ao parco clube dos que a visitam incansavelmente e nunca desistiram de insistir na edição de sua obra.

Este livro transcende a condição de uma recolha de poemas. É, antes de tudo, um testemunho da nossa História.

Neste volume ecoa uma voz, uma bela voz. Sobre esta voz ressoam outras vozes. Foi desta voz que se incendiaram outras tantas vozes. Talvez por isso qualquer apresentação seja incompetente.

Costumo dizer que Noémia de Sousa faz parte dos meus antepassados literários. Digo-o com inescondível afecto. Não há, não pode haver, um privilégio maior do que amar esta mulher a quem hoje (re) apresento e de quem tenho o privilégio de chamar “Mãe”. Não só porque ela é, como diz a lenda, a Mãe dos poetas moçambicanos, mas porque entre nós há muito que o afecto e a amizade perderam fronteiras e fundaram verdadeiros laços de família. O que permanece, estou certo, é o espanto sempre que a releio. Regresso incauto ao menino de 15 anos que, suponho, nunca deixarei de o ser.

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"Sangue Negro” de Noémia


Na data em que a poetisa completaria 85 anos, 20 de Setembro de 2011, a Marimbique reeditou “Sangue Negro” de Noémia de Sousa e proporciona-nos uma leve caminhada pelos corredores do tempo, ou melhor, da história, da revolta e da emoção.

“Nossa voz ergue-se consciente e bárbara/ Sobre o branco egoísmo dos homens/ Sobre a indiferença assassina de todos”. Noémia de Sousa não poderia ter um interessante poema para dedicar a José Craveirinha, seu velho companheiro dos pequeniques que traçavam as linhas nacionalistas na última metade da década de 1950.

O poema “Nossa Voz”, que abre o livro “Sangue Negro”, lançado ontem em Maputo, na sua segunda edição – desta vez pela Marimbique – prepara-nos para um regresso à história, mas sem abandonar as fundamentais e humanas bases de actualidade que sempre compuseram Noémia de Sousa. Nelson Saúte, que assina o prefácio do livro, nunca escondeu esse profundo sentimento pela senhora que uma vez inspirada pelo spiritual ongs dos negros da América brandaria em versos “deixem passar meu povo”... Escrevíamos que Nelson Saúte nos prepara para esse regresso ao tempo que de que falávamos. Primeiro, ele assume-o ao postar a começar um conselho de José Craveirinha.

“Nelson: procura ser um fiel servo da memória de todos os tempos para que a tua voz se faça ouvir no teu tempo. E escuta com atenção o que te dizem as vozes de outras bocas, de outros mensageiros e as melodias de outras xipendonas. Então sentirás sobre os ombros o peso – o verdadeiro peso – de um genuíno legado, o legado do teu amanhã em que dirás com toda a humildade: ‘Sou um homem de ontem mas não me neguem um lugar de repouso nos céus do vosso Hoje.’”

Um outro escritor, José saramago, segundo Saúte, o teria dito uma vez que ele – Saúte – estaria a “conviver com os seus antepassados literários”. São esses antepassados que os resgataria para “Os Habitantes da Memória”.

O seu prefácio em “Sangue Negro” de Noémia faz-nos reviver esses diferentes tempos. chama-nos atenção para esse passado que teima em habitar com legitimidade no nosso presente, através dos poemas que nos remetem à história, alertando-nos para as mesmas lutas hoje.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Wazimbo e Jose Mucavel em namoro...

Cerca de 10 anos depois

“Nwahulwana”, ou simplesmente pássaro irresponsável, é o título da música que destruiu uma amizade que datava desde a infância de dois gurus da música moçambicana. Estamos a falar de Wazimbo e José Mucavel, que entraram em diferendo quando disputavam direitos autorais do prestigiado e badalado tema “Nwahulwana”.
Aliás, o tema em alusão, para além de fazer parte dos spots da multinacional norte-americana Microsoft, foi usado como trilha sonora do filme “The Pledge”, pertencente ao actor Jack Nicholson.

Mas não é de mágoas do passado que queremos nos concentrar, e sim dizer que os dois astros do clássico moçambicano despiram-se de orgulho e abraçaram- se, numa iniciativa promovida pelo apresentador de televisão Gabriel Júnior.

A reconciliação surge como resposta ao apelo feito pelo ministro da Cultura, Armando Artur, onde ideia principal é criar um clima são no seio dos músicos moçambicanos. É caso para dizer que boas notícias não tardam, chegam no devido momento. Isto porque o país acolhe, desde última sexta feira, a quarta edição do Festival da Marrabenta e o entendimento dos músicos é um ganho só para os fãs e amigos, mas também para o país no geral, sobretudo para a cultura moçambicana.

Em declarações registadas, Wazimbo não só se desculpou a José Mucavel como também disse que “o Zé é uma luva para as minhas mãos e um sapato para os meus pés, por isso lamento pela situação que sempre me entristeceu, pelo que lhe peço desculpas”.

Mucavel não poupou verbo e rematou: “o único músico que sabe interpretar as minhas composições é o Wazimbo e desde já está autorizado a fazê-lo com todas elas”.

Recorde-se que, há dias, o músico Wazimbo disse ao “O País”, depois de um espectáculo realizado na Matola, que o tema “Nwahulwana” foi algo que partiu de um nome fictício de mulher, “que eu louvo pelos seus feitos e encorajo a batalhar pela vida. Não é que esta “Nwahulwana” exista de facto. não é uma pessoa concreta, mas sim uma criação que vem da minha inspiração. Não existe uma rapariga com o nome Maria Nwahulwana, é uma homenagem a todas as mulheres”.

Por seu turno, e em contacto telefónico, Umberto Benfica assegurou que o aperto de mão entre ele e o músico José Mucavel constitui uma mais-valia para a música moçambicana.

“Tal como viram na televisão, nós nos apertamos as mãos em nome da música moçambicana. Respondemos positivamente ao apelo feito pelo ministro da Cultura, Armando Artur. Na verdade, fizemos as pases em nome da nossa cultura”, disse Wazimbo.

De hoje em diante, tal como avançou o músico, é só consolidar as nossas relações e fazer crescer a amizade. Para José Mucavel, a reconciliação dá início a uma nova era no mundo da música moçambicana.

“Finalmente, nos entendemos da melhor maneira. Vamos voltar a falar-nos, a dividir os palcos.

Aliás, aceito a possibilidade de gravar novos temas musicais com ele, afinal de contas Wazimbo é um óptimo profissional.

Eu, particularmente, estou satisfeito. Estou disponível para esquecer tudo e tocar a vida para frente”, disse Mucavel.

Importa referir que José Mucavel e Wazimbo estão, neste momento, a gravar um novo tema para alegrar os corações dos seus fãs.

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Malawi espera por Dilon


Música para além da guerra dos rios

A “guerra dos rios” fica fora dos palcos. A música faz o seu diálogo longe da navegabilidade dos Chire e Zambeze, que criou “barricadas” diplomáticas entre Moçambique e Malawi.
Dilon Djindji é o rosto dessa relação artística. O “king” de marrabenta estará, este mês, na terra de Bingu Wa Mutharika para uma série de espectáculos.

Antes da partida, Djindji faz uma espécie de “retorno” às origens, para buscar um grupo que tem o nome do distrito onde se apresentou como músico, mesmo nas suas “disputas” com Fany Pfumo. Referimo-nos à banda Estrela de Marracuene, composta pelo baixista João Cossa, o baterista Samito, o seu filho Fernando Djindji na viola solo, e Ernesto Dzevo como contra-solo.
O “king” vai a Malawi a convite de um amigo que tem acompanhado a sua carreira. Fascinado pela forma como ele se impõe em palco e assume o espectáculo, não resistiu a fazer uma proposta para actuar naquelas terras. Djindji disse “sim” e prometeu ao amigo um “grande espectáculo”. É com segurança juvenil que assume os desafios. Pelo menos assim o disse na curta entrevista que tivemos. Primeiro, assume com simplicidade os seus 83 anos de idade e 70 de carreira, para depois garantir que se sente muito jovem e com capacidade de dividir o palco com muitos que marcam a nova música.”

“Toquei na guitarra pela primeira vez aos 11 anos. O meu tio gostava de andar comigo nas suas bebedeiras e, sempre que ficasse grosso, dava-me a guitarra para segurar e ai eu aproveitava e aprendia algumas notas.”

Mesmo desejando fazer apenas uma carreira musical, não resistiu às condições de vida e, em 1951, seguiu o mesmo caminho de muitos outros jovens que encontraram na África do Sul uma saída. Era o período de dzukuta em Moçambique.

“Em 1951, fui para África do Sul. nessa altura, aqui dançava-se muito dzukuta. Foi nesse momento que conheci Francisco Mahecuana, Fany Pfumu e Alberto Mutcheca. Aliás, em 1973, subi ao palco pela primeira vez com Fany Pfumu.”

É com Fany que Djindji “discute” a coroa de “rei” de marrabenta. “FanyPfumu sempre reconheceu que sou o rei da marrabenta, só que o público tem criado equívocos sobre o assunto. Numa das suas músicas ele diz, ‘a Marracuene kuni king ya marrabenta, nwine a mu ngue lungui ka yona’, aí ele reconhece que em marracuene existe um rei da marrabenta, diante do qual vocês não podem aguentar. ele diz ‘vocês’ e não ‘você’, ou seja, ele excluiu-me, automaticamente, nesse problema reconhecendo, de seguida, que eu sou o único rei da marrabenta no país.”


Quarta, 10 Novembro 2010 Gildo Mugabe.

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Video Doppas - Ele era meu melhor amigo.

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Conjunto Joao Domingos

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Video Costa Neto - Ava sati va Lomu

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Viagem ao âmago da nossa identidade identidade cultural


2010 é o ano da marrabenta há um festival da marrabenta, há um comboio da marrabenta e até “artistas unidos” pela defesa da marrabenta.

Os puritanos consideram que se está a registar uma deturpação no uso do termo “marrabenta”, para designar qualquer forma de expressão cultural de índole moçambicana, em termos de música ligeira. Até que ponto isso é verdade?

(...) e da noite para o dia, a marrabenta – ou pelo menos o termo marrabenta – começou a ser falado e propalado em todos os cantos. Um fenómeno sem precedentes, pelo menos a nível dos últimos tempos. “Ele” é Festival da Marrabenta”; “ele” é comboio da marrabenta, “ele” é artistas unidos e empenhados em fazer deste 2010 o ano da marrabenta, enfim! agora, falar de marrabenta é o que está a dar.

Porém, a questão que se coloca é a seguinte: até que ponto toda esta empolgação em torno da marrabenta contribui para a valorização e evolução da marrabenta entanto que estilo musical com características próprias? Será correcto atribuir-se a designação genérica de marrabenta para rotular qualquer forma de expressão cultural de índole moçambicana, em termos de música ligeira?

De uma coisa ninguém duvida, a marrabenta é um ritmo de música-dança que passou por várias fases, desde a sua criação até à actualidade. A As suas origens devem remontar aos finais da década de 30, mas será a década de 50 que a leva ao sucesso, tornando-a um dos produtos mais representativos da música ligeira moçambicana.

Dizem os conhecedores que a marrabenta tem um estilo próprio, uma batida característica que é sintetizada pelo tema “Elisa Gomara Saia”, do Conjunto Djambu. Este será o ícone, a matriz e o protótipo do que é a verdadeira marrabenta. Pelo menos é assim que pensa Rui Guerra, investigador, mestrado em Gestão do Património Cultural Moçambicano, pela Slinders University (Adelaide, Austrália), com quem conversámos e em cuja tese (de licenciatura) nos baseamos em larga escala para a elaboração deste trabalho.

QUEM, QUANDO E ONDE
Há muita controvérsia em redor desse assunto: quando e onde surgiu e quem criou a marrabenta? Há quem diga – e esta versão nos parece a mais coerente – que a marrabenta deriva directamente da mescla dos estilos magika e zukuta (sim, é antigo!). Para outros, a marrabenta foi simplesmente a evolução desses ritmos, ou seja, teria começado por se chamar zukuta, depois magika e finalmente marrabenta.

Também é difícil atribuir a alguém em particular a invenção deste ritmo. De uma maneira mais generalista, pode considerar-se que ele é produto da miscigenação cultural e da migração de grupos étnicos oriundos de diversas regiões do sul de Moçambique, e que a sua estilização contribuiu para que se tornasse popular.

A transformação e penetração da marrabenta no meio urbano deve muito ao movimento migratório de jovens de origem rural e suburbana (Manhiça, Marracuene, Inhambane, Gaza) para a cidade de Lourenço Marques, onde trabalhavam à espera de contratos para as minas.

Este grupo de emigrantes é de facto importante neste processo de introdução de novos ritmos, instrumentos e aparelhos - como a viola e os gramofones -, os quais eram enviados para as suas terras de origem, juntamente com os discos, contribuindo decisivamente para a divulgação no meio rural destes novos sons e instrumentos.

INFLUÊNCIA DOS TROVADORES
Os trovadores – executantes a solo – são os precursores da música ligeira moçambicana, antes mesmo do surgimento dos agrupamentos. Músicos como Muthanda Feliciano Ngome, Francisco Mahecuane Macovela e Fani Mpfumo constituem os precursores da música ligeira moçambicana, dado terem sido os primeiros músicos a gravar, apesar de fora de Moçambique.

Mahecuane gravou, pela primeira vez, em 1945, na África do Sul, o disco “Yi Xibalo Muni Makhandane” e em 1958, no seu regresso definitivo a Lourenço Marques, torna-se famoso com o tema “Moda Xicavalo, Marrabenta, Senta Baixo”, uma das primeiras marrabentas a serem tocadas e a alcançar sucesso, apesar de apresentar uma orquestração básica, envolvendo apenas guitarra e bandolim.

Outro artista de nomeada foi, sem dúvida, Fani Mpfumo. É o caso de maior sucesso, visto ter atingido o estrelato na África do Sul, com vários prémios ganhos, para além de ser visto em Moçambique como uma verdadeira estrela, tanto pelos mineiros que traziam na bagagem os seus discos, como pela população local que ouvia os seus números na rádio.

Para além de interpretar ritmos sul-africanos como jive, simandjemandje, kwela, etc., Fani tocava marrabenta. De tal modo que o seu primeiro disco, gravado em ronga, em 1951, foi “Georgina Waka Nwamba”, tendo a música que dá o título ao álbum obtido grande sucesso. Outros números de sucesso também se seguiram, como: “Nyoxanini”, “Famba ha Hombe”, “Hodi”, “King ya Marracuene”, “Nichelelani”, entre outros.

Pela sua veia compositora, versatilidade e pelo número de discos publicados, Fani Mpfumo foi considerado o verdadeiro rei da música ligeira moçambicana, apesar de ter estado emigrado por largos anos, tendo voltado definitivamente ao país em 1973. O resto é sabido: a sua ligação à música continuou até à altura da sua morte, em 1987, vítima de doença.

AS ETAPAS POSTERIORES
O período que vai do limiar dos anos 60 até 1974 é tido como o da divulgação e promoção da marrabenta. Efectivamente, a marrabenta passa a ser dançada e ouvida por negros e brancos sem preconceitos de qualquer espécie. Passa a ser vista como a verdadeira música de Moçambique e dos moçambicanos, daí que tenha começado a ser promovida pelo empresariado local.

É nesse quadro que, em 1971, é criada a “Produções 1001”, vocacionada à procura e promoção de talentos moçambicanos. Aí são descobertos artistas hoje famosos, como Wazimbo, Simião Mazuze, Jaimito, Pedro Ben, Alexandre Mazuze, Elsa Mangue, Matchote, João Wate, Abel Tchemane, entre outros.

Surgem, então, dois programas, destinados à população suburbana e à população citadina, nomeadamente, o “Xitimela 1001”, que se realizava no Cinema Olímpia, e o “Expresso 1001” que acontecia no Cinema Nacional (actual Centro Cultural Universitário).

A REVOLUÇÃO E A MARRABENTA
Depois da Independência, a marrabenta foi, supreendentemente, desqualificada, ao ser considerada um produto da cultura burguesa decadente pelo governo revolucionário. Aí se deu o grande marco da descontinuidade. Para o bem ou para o mal, a verdadeira marrabenta foi então profundamente abalada.

Não obstante, e numa fase em que tudo escasseava e as dificuldades por que passavam os artistas eram brutais, por iniciativa do Estado, foi criado o Conjunto RM, congregando uma série de músicos, nomeadamente, José Guimarães, Alípio Cruz, Chico António, Mingas, Zeca Tcheco, Wazimbo, Matchote, Milagre Langa, Sox, José Mucavel, Alexandre Langa. Nessa fase, surgiram ainda os grupos Hokolókwè, Mbila, Alambique e Ghorwane, caracterizados pela produção de temas e músicas de caris moçambicano.

Depois disso, vieram outros e mais outros, até se chegar aos dias de hoje, onde a profusão de estilos e ritmos é abismal. São todos (?) bons. São todos representantes da música moçambicana – se por mais não seja, porque são moçambicanos – mas são raros os que tocam aquilo a que se considera marrabenta.

E porque, conforme dissemos, se passou a atribuir aos ritmos tocados a designação genérica de marrabenta, os puritanos consideram que está a registar-se uma deturpação do uso do termo, para designar qualquer forma de expressão cultural de índole moçambicana, em termos de música ligeira. Será isso correcto?

Enfim, tire o leitor as suas próprias ilações.

Os conjuntos e a estilização da marrabenta
Os conjuntos musicais e as associações culturais tiveram grande influência na difusão e, sobretudo, na estilização da marrabenta. Como já se disse, o ritmo começa a ser “urbanizado” em finais da década de 50, quando surgem os primeiros conjuntos moçambicanos, como Young Issufo Jazz Band, Orquestra Djambu, Hulla-Hoop (que passou a Conjunto João Domingos), Conjunto Harmonia e Kenguelequêze, que começam a tocar ritmos locais, para além dos internacionais, que então estavam em voga.

É a partir desse momento que a marrabenta é divulgada, deixando de ser conhecida, dançada e tocada apenas nos subúrbios. A sua entrada para as associações, neste caso a Associação Africana e o Centro Associativo dos Negros da Província de Moçambique, muito contribuiu para a sua promoção, pois deixa de estar confinada ao subúrbio. Isto é, sai do caniço e entra no cimento.

A adopção da marrabenta pelas associações foi incentivada por duas importantes figuras do meio cultural moçambicano: José Craveirinha, na Associação Africana, e Samuel Dabula Nkumbula, no Centro Associativo. Culturalmente esclarecidas e politicamente conscientes, estas figuras defendiam que os agrupamentos que ali se exibiam deviam tocar ritmos moçambicanos.

O Young Issufo Jazz Band foi o primeiro conjunto, constituído por indivíduos de raça negra. Foi formado em 1956 como um quarteto, passando para sexteto, em 1957, ano em que se viria a desmembrar, porque Young Issufo, o líder, optou por tocar num baile de finalistas, no Liceu Salazar, enquanto os outros componentes do grupo preferiram tocar no Centro Associativo dos Negros. A sua dissolução deu origem à Orquestra Djambu e ao Conjunto Hulla-Hoop, os quais se tornaram famosos a tocar marrabenta.

A Orquestra Djambu nasceu em 1958 e começou por tocar jazz e blues. A marrabenta só seria tocada mais tarde, sendo o seu tema mais emblemático “Elisa Gomara Saia”. Já o Conjunto Hulla-Hoop – que mais tarde passou a designar-se Conjunto João Domingos – foi fundado por Young Issufo, Gonzana e João Domingos, também em 1958. Entre os seus números, destacam-se: “Júlia”, “Jorgina”, “Tampa ni Xicandarinha”, “Massoriana”. Curiosamente, este grupo só viria a gravar o seu primeiro CD no ano de 2000, captado num show ao vivo, em Macau.

Ainda em 58 surgiu o Conjunto Harmonia. De acordo com Gabriel Chiau, um dos integrantes desta banda, que ainda se mantém no activo, este era o mais humilde dos três conjuntos, mas tocava de forma mais original.

Sexta, 12 Fevereiro 2010 Homero Lobo.

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DJAMBU - Uma orquestra imortal


Desde a sua criação, a Orquestra Djambo toca com sentimento o quotidiano de um povo, suscitando um grande entusiasmo nos moçambicanos. E, diga-se, fá-lo com obrigação patriótica pois atravessou gerações e hoje é, sem dúvidas, uma das mais conceitudas orquestras do país.

“A Orquestra Djambo tem uma história longa”, começa por dizer Moisés Ribeiro da Conceição, de 91 anos de idade, um dos dois fundadores ainda vivos do agrupamento instrumental que começou por ser um conjunto e, depressa, se tornou uma orquestra, com sonoridades e ritmos moçambicanos.
A paixão pela música sempre esteve presente desde miúdo na vida dos fundadores da Orquestra Djambo. Mas a história da orquestra começa nos princípios dos anos ‘50, logo após um indivíduo de nome Young Issufo ter adquirido alguns instrumentos musicais. E convidou Moisés, Orlando, Domingos, Hassane, Tiago, Zé Manel e Zé Mondlane para ensaiarem na sua casa.

Porém, depararam-se com um problema – o primeiro de muitos que o agrupamento teria pela frente: um dos elementos não se exercitava, neste caso Domingos Mabombo, porque não dispunha de um instrumento (piano). O Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique era o único que dispunha de um piano na época. Domingos, cujo pai era um dos sócios daquela agremiação, teve a ideia de pedir o espaço de modo a que todos os elementos do grupo, da qual fazia parte, pudessem ensaiar. Foi-lhes concedido o lugar e a banda começa a dar os seus primeiros passos.

Os seus ensaios eram frequentemente apreciados por diversas pessoas. Certo dia, Samuel Dabula, trabalhador da Rádio Clube de Moçambique – actual Rádio de Moçambique – foi assistir a um dos ensaios do agrupamento, tendo ficado espantado com o virtuosismo que a banda apresentava e comunicou à direcção do Centro que se preparava para organizar um baile na quadra festiva.

E o contrato para actuar não tardou a chegar, aliás, na madrugada do mesmo dia, receberam uma proposta para se apresentarem no Natal e no fim do ano. Recusaram-se a tocar na passagem do ano porque não queriam ficar “presos” à agremiação numa época em que surgiam novas propostas, mas aceitavam actuar nos próximos eventos.

“Sentimo-nos constrangidos por não termos satisfeito o pedido do Centro, uma vez que nos oferecia espaço para ensaiar e um dos elementos da banda era filho de um dos sócios”, diz Moisés. O conjunto começa a ganhar forma e muita aceitação popular, mas ainda não tinha nome. Chamavam-no Conjunto de Young Ussufo.

Mais tarde, a banda atravessa um momento de crise. Young Ussufo leva os seus instrumentos musicais e um dos elementos – Orlando – decide abandonar o agrupamento para tocar numa outra banda, mas os outros integrantes convenceram-no a não fazê-lo.

Apenas com piano, trompeta, saxofone e trombone, o grupo de jovens músicos teve de conceber um plano para animar as noites de então cidade de Lourenço Marques. Surge a ideia luminosa de buscar a ajuda da direcção do Centro. A agremiação prontificou-se a adquirir o material, mas os músicos iriam pagar mensalmente com o dinheiro de espectáculos. Assim, a banda ganhou forma novamente e começam os ensaios no mesmo local.

À procura de nome
O conjunto actuou em diversos locais da cidade de Maputo sem nome. “Quando sentimos que éramos maduros o suficiente, decidimos procurar um nome”, conta o decano da Orquestra Djambo.

Cada integrante tinha de sugerir um nome, mas as propostas não colhiam consenso. Tempo depois, Domingos teve a ideia de baptizar o conjunto de “Djambo”, inspirado num tema de um disco de música cubana denominado “Mambo Djambo”. Os restantes membros do agrupamento concordaram com a ideia, pois apreciavam a música, mas ninguém sabia o significado da palavra “Djambo”. “Mais tarde, com ajuda de um brasileiro que sempre vinha assistir aos nossos ensaios ficámos a saber que Djambo quer dizer ritmo”, diz Moisés.

Na altura, existia um grupo musical com a denominação “Ritmo”. No entanto, optaram por chamar Conjunto Djambo de modo a que não fosse confundido com outra banda, e, mais tarde, passou a denominar-se Orquestra Djambo, visto que tocavam instrumentos de sopro.

Depois de muito trabalho, o agrupamento caiu na graça do público. “As pessoas admiravam bastante o nosso trabalho. Éramos a única orquestra de negros que tocava a verdadeira música tradicional moçambicana, por isso, recebíamos muitos convites para actuar em bailes”, lembra.
Os anos que se seguiram não foram fáceis para o agrupamento. A orquestra teve de sobreviver a tudo: começando pela desistência de alguns membros. Com bilhete de passagem na mão, viu-se impedida de actuar em Brasil e outros países. Viu as portas do Centro Associativo dos Negros da Colónia de Moçambique – espaço que era o local de ensaios – a serem fechadas pela PIDE com todos os instrumentos no seu interior em 1965. A orquestra começou a dissolver-se.

Desde sempre, a Orquestra Djambo foi um dos mais importantes agrupamentos. Animava as noites e eventos sociais da capital com o ritmo animado e melodias arrebatadoras da marrabenta, ndlama, xingombela, xigubo e nfena. Grande parte das composições era original. A orquestra também gravou um single com os sucessos “Elisa Gomara Saia”, “Bambatela Sábado”, “Laurinda” e “Xinwanana”.

Por volta de 1969, o agrupamento reaparece com alguns novos membros e uma nova denominação: Djambo 70. Mas esta “nova” orquestra não granjeou simpatia de um público habituado a uma marrabenta, com uma subtil mistura de pequenos insólitos da vida quotidiana e dos grandes eventos históricos, feita de sentimentos.

A orquestra do povo
Quando reabre o Centro Cultural de Xipamanine, marca-se uma nova fase para a Orquestra Djambo. Hoje, conta com sete integrantes, nomeadamente Moisés da Conceição, Raimundo Cossa, Inácio Magaia, Milagre Langa, Américo, Policarpo Dias e Cecília Xavier, para além de um corpo de bailarinos.

E é a orquestra mais aplaudida de sempre. “Sentimo-nos como peixe na água quando estamos no palco porque tocamos o dia-a-dia do povo para o povo. Expressamos a moçambicanidade ”, diz Policarpo Dias.

A orquestra é a figura de cartaz da quarta edição do “Festival da Marrabenta” que arranca esta sexta-feira (28). É a terceira vez que o agrupamento participa neste evento que tem como objectivo valorizar a marrabenta.

As composições da Orquestra Djambo estão registadas em bobinas na Rádio Moçambique. Não tem álbum gravado, mas dispõe de um single – composto por quatro temas – gravado por volta de 1964.

Escrito por Hélder chavier Quinta, 27 Janeiro 2011 10:56

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um ano sem o mestre Nanando

Mestre! É como Nanando era carinhosamente tratado, guitarrista de créditos firmados cujo talento o fez brilhar e granjear simpatia em grandes palcos nacionais e internacionais, a nível dos apreciadores da música afro-jazz e não só.



Com origens no berço das estrelas, o populoso bairro de Chamanculo, na cidade de Maputo, onde aprendeu a dar os seus primeiros toques na guitarra, muito inspirado por Jaimito Mahlatine, Nanando foi considerado professor de guitarra de Jimmy Dludlu em virtude de ter sido ele quem o iniciou nesta área.

Hoje, 2 de Fevereiro, passa um ano do desaparecimento físico do mestre Nanando. O guitarrista e compositor morreu aos 48 anos de idade, no leito do Instituto do Coração de Maputo, local onde esteve internado durante alguns dias. Segundo Manuel Libombo, teclista da banda Nanando, o guitarrista “queixava-se, nos últimos dias antes da sua morte, de fortes dores de cabeça que o levaram várias vezes aos hospitais de Maputo, tendo culminado com esta morte repentina”.

Um percurso invejável
Nanando fez parte de uma geração de artistas de ouro no nosso país, tendo sido uma das faces mais visíveis dos concertos que os músicos moçambicanos realizam nas casas de pasto, onde a música de fusão é o prato forte. Conseguiu, igualmente, fazer a fusão do estilo tradicional “ximandje-mandje” com o jazz e a marrabenta. Chegou a fazer parte do agrupamento Ghorwane, para além de ter trabalhado muitos anos na África do Sul e na Suazilândia, com outros músicos.

Depois da desintegração de Hokolókwè, Nanando fundou, com outros elementos, a banda Ngalanga. Mais recentemente, Nanando trabalhou num projecto musical que leva o seu nome: Nanando Project. Realizou igualmente vários concertos musicais, sendo que num dos quais contou com a participação do agrupamento Majescoral.

Quarta, 02 Fevereiro 2011

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Video Festival de Marrabenta

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Festival da Marrabenta: Uma noite de declaração de amor à Marrabenta

No concerto de estreia da quarta edição do Festival da Marrabenta, a música foi servida a uma temperatura artisticamente quente. Músicos de alto quilate reuniram-se ontem (28) no mesmo palco para fazer uma declaração extravagante de amor à marrabenta e à Mulher. E o resultado foi: a rendição do público.

Um evento grandioso, como é o caso do Festival da Marrabenta, não poderia ter uma estreia que não fosse grandiosa. E foi com uma autêntica chuvarada de estrelas da música nacional, com performance à moda skavalu, que, no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), se assistiu a abertura daquele que é considerado o maior espectáculo de sempre da música moçambicana do país.

Dentro de uma lista de 10 actuações em uma só noite, o desafio foi ter de escolher a apresentação que valeu a pena ver – diga-se também, não ver. Pois, os artistas esmeram-se, num choque de egos, a dar o melhor de si com intuito de cativar uma audiência sedenta de marrabenta. A qualidade da luz e do som não era das melhores, aliás, o ruído da bateria e das guitarras ofuscavam a voz dos músicos quebrando as melodias, além de em certo momento dar à impressão dos artistas estarem a improvisar e murmurar. Mas nem por isso a plateia deixou de vibrar e aplaudir a cada instante.

Apraz-nos registar que o público soube comportar-se, pelo menos até uma hora antes do término do espectáculo. Foi um concerto honesto e ideal para quem gosta de um festival com tudo no lugar. “Este ano o Festival da Marrabenta está melhor que o das edições passadas”, diz Joana Mucavele, quando a questionamos sobre o que estava achar do espectáculo, antes de soltar um grito de euforia. “Eu acho que não”, comenta um dos seus acompanhantes. “Com esse ruído da aparelhagem não dá para sentir a música. O som está a falhar”. Mas outro elemento foi mais comedido: “Ainda há muito espectáculo pela frente. De momento, está tudo positivo”. Este grupo de jovens faz parte de mais de duas centenas de pessoas que tomaram o espaço do CCFM.
O festival deixou muita gente à porta da sala de espectáculo. Muitos foram aqueles que não conseguiram lugar para sentar, havia pessoas de pé ao longo do corredor e outras encostadas ao longo das paredes.

Actuações memoráveis
A festa iniciou-se com a apresentação da Banda Militar que, qual exército infiltrado, criou uma atmosfera de brilho e vitalidade, interpretando alguns sucessos da música moçambicana – tocados como nunca ouvimos. O som de trompeta e trombone enchiam a sala e animavam o público que se mostrava, à primeira vista, recatado.

Mas a grande abertura do evento coube ao auto-intitulado “Rei da Marrabenta”, Dilon Djindji, e, diga-se, fê-lo com surpresa e competência. O músico subiu ao palco e assumiu as suas responsabilidades de “majestade da música moçambicana”. Com pouco mais de 80 anos de idade – boa parte deles dedicados à marrabenta -, o conceituado músico gabou-se de estar em forma, apesar da idade. “Hoje, vou surpreender-vos”, desafiava a plateia frequentemente. Musicalmente pode dizer-se que Dilon não apresentou nada de novo, ouvimos as mesmas músicas de sempre, mas com uma mistura dos sons da timbila. “A partir de hoje até o fim deste ano, vão ver-me actuar acompanhado pela timbila”, revela.

O músico mostrou os seus meticulosos e invulgares passos de marrabenta. Improvisou alguns passos de dança. Tropeçou algumas vezes. E público aplaudiu efusivamente. O seu repertório era constituído por três temas, mas o que colocou os espectadores em êxtase foi o sucesso “Va thekla Podina”. Seguiu-se um dos bons guitarristas moçambicanos, Xindiminguana, que não tem receio de exprimir o espírito da marrabenta que continua nele, volvidos mais de dez anos de carreira. O músico revelou mais uma vez o seu virtuosismo na guitarra, facto que lhe valeu um presente (uma nota de mil meticais) do antigo estadista moçambicano Joaquim Chissano que se encontrava na plateia a apreciar o festival.

Xindiminguana apresentou-se, como sempre, com a sua voz tímida e uma presença no palco recatada e monótono, mas galvanizou as atenções do público. Quando a jovem cantora Iveth subiu ao palco, a plateia reverenciou-a colocando-se de pé e aplaudindo a sua presença. Com o seu timbre de voz forte – acompanhada da cantora emergente Jutty –, Iveth aqueceu a noite com a sua entusiasmante música “Afro”. Depois seguiu-se o músico Victor Bernardo. O artista animou a plateia dando alguns passos forçados da marrabenta. No meio da sua música que tem no centro da história a mulher, o jovem polémico Azagaia entrou no palco, num dueto que se mostrou incongruente pois ritmo da marrabenta era demasiado lento para “reppar”.

Azagaia e Victor Bernardo declamaram um poema sobre o papel da mulher e depois o rapper controverso fez um “Freestyle” e incito-o público a juntar-se a ele em sua nova música. Momentos depois, abandonou o palco deixando os espectadores com água na boca. “Será que ele volta?”, pergunta, sem disfarçar alguma ansiedade, um espectador. “Acho que sim”, responde outro. Mas, para infelicidade do público, o músico não voltou dando azo à especulação de que ele desistira de actuar porque estava naquela sala o ex-presidente da República.
Mais uma dose de show

A segunda parte do espectáculo não poderia começar da melhor maneira. Quando a apresentadora do concerto Rosa Langa anunciou a entrada de Hortêncio Langa, o publico pôs-se a cantar um dos temas que colocaram o músico na ribalta. O músico apresentou duas músicas e retirou-se do palco. O público inconformado gritava insistentemente para que voltasse, acabando por regressar. “Esta música não estava no repertório”, justificava o músico para uma horda de espectadores que não queria saber dessa história. Hortêncio Langa pegou na guitarra e pôs-se a cantar “djim djim ó, djim ó”, a música que o público queria.
Hortêncio nunca esteve tão perto do seu público e foi o músico mais aplaudido da noite. Seguiu-se Costa Neto. Com a sua guitarra, fez uma viagem ao “reino marrabenta” e trouxe de lá o que há de mais profundo – Elisa Gomara Saia - tendo-lhe valido ovações. Não fosse também a actuação memorável da cantora Neyma, a segunda parte o concerto deixaria muito a desejar. A cantora mostrou grande qualidade nos passos de marrabenta e colocou o Centro Cultural do Franco-Moçambicano é constante ebulição. As suas músicas, com uma longevidade de pouco mais de 10 anos, revelaram-se tão actuais. Neyma terminou a sua actuação deixando o público de olhos a brilhar e queixo caído.

Depois entrou Roberto Isaías. O autor de “Lalani” mostrou-se mais à-vontade no palco e tomou conta do ambiente já criado pelo colega que lhe antecedeu. Embora com uma discografia a solo curta, Roberto Isaías hipnotizou o público. Já o conceituado Grupo RM, do qual Wazimbo é vocalista, não consegui manter o nível de agitação e emoção criado por outros músicos. O agrupamento realizou a menos interessante actuação da noite de que temos registo. Quando o grupo cantava a segunda música, o público foi abandonando a sala.

O calor que pairava naquele recinto começou a ser engolido pela brisa e as pessoas que lá permaneciam se mostravam recatadas. O repertório composto por seis temas foi monótono. A banda não esteve muito entusiasmada. “Ainda não começaram a tocar. Estão apenas a ensaiar”, comenta ironicamente um jovem encostado na parede. Depois de tocar quatro temas, a banda decidiu resgatar o êxito que marcou toda uma geração. Referimo-nos ao tema que aborda a história de um sapateiro. O público pôs-se de pé entusiasmado e mostrou conhecer a letra cantando, do princípio ao fim, a música.

Quando foi feita a apresentação da última música para o encerramento do concerto de abertura do Festival da Marrabenta, as pessoas começaram a abandonar a sala. O Grupo RM exibiu a última música do repertório. Terminava assim de forma fria a abertura de um festival que pretende animar as cidades de Maputo e Matola, e os distritos de Marracuene, Chibuto e Chokwe nos próximos dias.

Escrito por Hélder Xavier Segunda, 31 Janeiro 2011 14:57

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Video Festival de Marrabenta em Marracuene

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Kaspa: Banda de Rock New Metal


A primeira reacção às bandas de rock de garagem pode ser de repulsa, mas depois habituamo-nos ao seu espírito irreverente e até encontramos alguma justificação para libertar o espírito rock que há em nós. Kaspa não foge à regra e mostra que a música não é apenas uma combinação de sons, mas também o resultado de um sonho.

São quatro, chamam-se Kaspa e não se dedicam apenas à música: são também estudantes e trabalhadores. O nome da banda pode não ser simpático, mas é resultado de um assaz peculiar sentido de humor.
Slim (guitarrista), Inútil (baixista) Délcio (baterista) e Pintas (vocalista) formam o “quarteto fantástico” do rock urbano nacional que, animado pelo género musical rock, decidiu um dia fazer carreira musical.

Presentemente, é uma das mais proeminentes bandas de rock de garagem do país cujas músicas são destinadas ao público mais jovem. Mas o trajecto foi difícil. A aventura começou quase como um sonho em 2003, através de um forte laço de amizade que os unia.
Abraçar este estilo musical foi desde cedo o sonho de todos. Os jovens músicos integravam bandas diferentes e conheceram-se no “universo rock”. Por esta razão, a opção a seguir – rock “New Metal” – não foi um dos principais entraves. Aliás, o primeiro obstáculo da banda foi encontrar um local para os ensaios, pois existiam poucos estúdios e havia muita procura.

Sem abonos familiares, decidiram montar um estúdio para colocarem em marcha o sonho de cantar. “Hoje, já temos estúdio próprio onde ensaiamos”, comenta Pintas vocalista e também apresentador de TV. Os jovens dizem que “valeu a pena o investimento”, uma vez que já não têm de esperar mais de duas horas para ensaiarem.



Kaspa ainda não tem álbum gravado. Em sete anos de existência, teve de mudar de baterista por quatro vezes, facto que, segundo o vocalista, atrasou as perspectivas de evolução da banda. “Queremos gravar um disco com qualidade, e não apenas para os amigos e familiares apreciarem. Queremos que qualquer pessoa, mesmo o que não seja amante do rock, se identifique”.

Neste momento, o grupo está a preparar músicas que vão compor o primeiro trabalho discográfico da banda e, neste princípio do ano, pretende gravar um videoclip.
Regra geral, nas suas apresentações, a banda apresenta um misto de temas originais e algumas versões de conceituados artistas. As músicas retratam questões políticas, sociais ou sobre o quotidiano dos moçambicanos.

As músicas da Kaspa são um “New Metal” – rock mais urbano – poderoso e atractivo, onde o talento de cada elemento do conjunto ganha alento. O sistemático recurso aos clichés de “air guitar” e ao som de percussão dão um novo fôlego ao rock, hipnotizando o público e ganhando cada vez mais admiradores.
“O número do público tem vindo a crescer porque sempre procuramos inovar. Colocamos alguns ‘ingredientes’ moçambicanos que dão um tom africano à nossa música”, conta Pintas.

Quando questionados sobre o motivo de o rock se apresentar sempre em ambientes fechados, o vocalista da Kaspa diz: “O rock não está fechado, as bandas é que se encontram confinadas nas garagens”.

Escrito por Hélder Xavier Quinta, 27 Janeiro 2011 11:23

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Video de Mingas no Centro Cultural Franco Mocambicano

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Festival da Marrabenta: passado, presente e futuro.


Num dia em que se discutiu a evolução e o conceito da marrabenta, a Orquestra Djambo argumentou com a actuação sem precedentes e meticulosos passos de dança que lhe é característico. O terceiro dia do Festival da Marrabenta foi reservado para o debate sobre o passado, presente e futuro da marrabenta.
No Domingo (30) o Centro Cultural Municipal Ntsindya, em Ximpanine, foi demasiado pequeno para acolher mais de uma centena de pessoas ávidas em ouvir o percurso histórico-musical deste ritmo. O debate foi antecedido de uma actuação de uma banda de jovens que se estreia neste estilo. Com um repertório desconhecido, o agrupamento musical conquistou a simpática do público, apesar de se ter revelado tímido.

Com um painel composto por dois músicos (Dilon Djindji e Rufas) e um académico (historiador Rui Guerra), a discussão sobre a marrabenta equiparou-se a de “quem nasceu primeiro: ovo ou a galinha?”. Ou seja, de modo geral, o debate não reuniu consenso mostrando-se inacabado. Houve opiniões diferentes e contraditórias sobre o surgimento e definição da marrabenta. O académico Rui Guerra defendia que a marrabenta é uma música urbana que se tornou popular na década de 50 com duas grandes associações, uma das quais fazia parte a Orquestra Djambo. Mas um certo grupo de pessoas defende que ela é uma dança – e não música. E há quem preferiu falar de um género e, outros, de um ritmo.

A maioria dos intervenientes afirmou que a marrabenta é um ritmo em constante evolução e também transformação. Ou seja, ela está a resistir à passagem de tempo, deixando antever que estes são apenas os primeiros anos de um ritmo que atravessou – e continua a fazê-lo - gerações e tende a impor-se num mundo marcado por influência estrangeira.

A nível nacional, a marrabenta proclama-se como a música de unidade nacional, embora tenha surgido - e seja tocada frequentemente - na região sul do país. Orquestra Djambo de sempre Depois de uma hora e meia de debate, a Orquestra Djambo provou que a marrabenta não se discute, canta-se e dança-se. Numa actuação de 40 minutos, pode-se dizer que musicalmente o grupo não apresentou nada de novo. Ouvimos as mesmas músicas de sempre com uma longevidade de mais de 30 anos.

Mas a orquestra transmitiu uma energia única com as músicas e os passos de dança invulgares. Só havia olhos e ouvidos para o grupo. O público aplaudiu euforicamente. Ouvia-se suspiro da plateia. Os espectadores pediam repetição das músicas. O sucesso “Elisa Gomara Saia” fez com que os espectadores se levantassem e dançassem. Assistiu-se a passos de danças desajustados mas pouco importava, pois o importante era juntar-se à festa.

A orquestra inovou ao cantar com o jovem músico Simba, neto do decano da Orquestra Djambo Moisés. Numa apresentação que cortava o ritmo dos passos de dança, o rapper Simba deu o seu melhor e o resultado não foi satisfatório: a marrabenta “recusava-se” à influência.

A magia, a popularidade, a criatividade aliadas aos passos de dança, à modaskavalu, e a sabedoria e conhecimento do mais velho da orquestra, os “Djambos” tiveram como resultado a total rendição do público que superlotava o centro Ntsindya.

Escrito por Hélder Xavier Segunda, 31 Janeiro 2011 13:44

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MINGAS

Mingas vive e trabalha em Moçambique, onde nasceu e onde ela cresceu. Destinado a cantar, Mingas participou de uma série de shows de talentos em sua juventude. Através deste processo, ela acabou se tornando o vocalista de uma das bandas mais populares em Moçambique na época, Hokolókwé. A banda excursionou extensivamente em todo Moçambique sob condições difíceis da guerra civil.

Mingas estabeleceu-se durante o período de desafios de transformação em Moçambique. Sua determinação e amor pela música foram as chaves que a puxou pela realidade tumultuada política do país.

Ela era uma cantora em 'Orquestra Marrabenta Star de Moçambique' durante turnês pela Europa em 1987-88. gravações a solo durante este período incluíram 'Ava Sati Va Lomu', 'Elisa Gomara Saia ". Mais tarde ela gravou "Nweti" e outras faixas com o grupo Amoya em Paris. Sua gravação de "Nweti" foi incluído na coleção Putumayo Records, "Mulheres da Internacional World '. Como parte do grupo Amoya, ela foi premiada com o "Grand Prix Decouvertes 90 'em um show Gala na Guiné Conakry.

Por alguns anos na década de 1990, Mingas apresentou ao lado de Miriam Makeba como backing vocal e artista solo durante as turnês internacionais Mama África que se estendeu por quatro continentes. Profissional destaques na carreira Mingas "durante esses passeios incluem apresentações no Opera House de Sidney, na Austrália e um desempenho para o Papa João Paulo II durante sua visita ao Brasil.
Durante sua carreira, Mingas foi realizada com artistas internacionalmente famosos como Hugh Masekela, Gilberto Gil, Mariza, Jimmy Dludlu, Yvonne Chaka Chaka e muitos outros.

Mingas passeios amplamente em todo o Moçambique, África do Sul e internacionalmente, ganhando um estatuto lendário em seu país. Para mais informações visite: www.mingas.com

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lizha James - Stop Tráfico

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Os melhores artistas não vão a SOMAS


Lamenta, Mitó, secretário-geral da Sociedade Moçambicana de Autores

A Sociedade Moçambicana de Autores pode ter dado passos positivos em cinco meses do novo executivo, mas o seu secretário-geral, Jaime Guambe (Mitó), diz ser necessário superar questões legais e fazer com que os melhores artistas façam parte da sociedade.
O secretário-geral da Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS), Jaime Guambe, diz que o balanço das actividades realizadas pela sua agremiação, nos últimos cinco meses, é positivo, embora persistam equívocos que ainda enfermam a classe dos autores moçambicanos.

“Nos cinco meses após a eleição do nosso secretariado para comandar os destinos da Associação Moçambicana dos Autores, nota-se um crescimento assinalável, sob ponto de vista do cumprimento das actividades preconizadas. No período em alusão, conseguimos trocar experiência com a Southern África Music Right Organization e estabelecemos diversos acordos de parceria na área da protecção de direitos do autor. Participámos, na terra de Robert Mugabe, num encontro organizado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Para além deste, houve um encontro no Senegal que juntou músicos e produtores Pan-africanos”, afirmou.

Ainda muito recentemente, segundo Guambe, carinhosamente tratado no mundo da música por Mitó, a Associação Moçambicana de Autores participou no segundo encontro Lusófono sobre os Direitos de Autor, que teve lugar na terra de Lula da Silva.

“Este encontro foi de extrema importância para a SOMAS, na medida em que conseguimos observar de perto a forma como funcionam as diversas sociedades de autores no mundo Lusófono. Um ganho para o nosso país foi conseguir angariar votos suficientes para a realização da terceira edição do encontro Lusófono sobre o mesmo tema, facto que vai acontecer em Dezembro de 2011”, sublinhou Mitó.

Ainda durante a sua estadia no Brasil, a SOMAS manteve encontro com quatro sociedades brasileiras, nomeadamente, ABRAMUS - Associação Brasileira de Música e Arte; AMAR - Associação de Músicos Arranjadores e Regentes; SOCINPRO - Sociedade Brasileira de Administração e Protecção de Direitos Intelectuais; e ECADE -que é o Escritório Central de Arrecadação dos Direitos Autorais.

“Foi possível perceber a forma como é feita a cobrança de direitos autorais, sua repartição com os autores bem como a questão da legislação que rege os direitos autorais brasileiros”, disse Mitó.

No entanto, apesar dos sucessos alcançados, a SOMAS depara-se ainda com vários desafios por ultrapassar, com destaque para a revisão do instrumento legal que defende os autores moçambicanos.

“A lei do Direito de Autor e Direitos Conexos não está clara. A título de exemplo, no seu artigo 65, sobre sanções penais em caso de usurpação e contrafacção das obras, não está estipulada a moldura penal por aplicar a este tipo de casos, embora esteja lá tipificado como crime público e punido nos termos da lei.”

Para Mitó, que é também jurista, é urgente que se trabalhe no sentido de se rever este instrumento legal, dada a sua importância para a vida dos autores.

Ainda do rol dos desafios que caracterizam o dia a dia dos autores, segundo Guambe, constam o licenciamento das casas de pastos, hotéis, restaurantes e bares, por forma a usarem legalmente as obras dos autores. “Vamos realizar um encontro com os utilizadores, com destaque para os de rádios e televisões, no qual iremos traçar o nosso Plano Estratégico para o período 2010-2016”, frisou Guambe.

Uma das preocupações de Mitó prende-se com a fraca adesão de autores à associação.

“Infelizmente, os melhores artistas deste país, escritores, artesãos, sem querer discriminar a ninguém, não estão filiados na SOMAS. Ziqo, Mc Roger, Mia Couto e Paulina Chiziane são apenas alguns exemplos de artistas não filiados na SOMAS. Daí precisarmos divulgar cada vez mais as nossas actividades, consciencializando os autores sobre a importância da sua filiação na SOMAS.

Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»
Quarta, 29 Dezembro 2010 00:00 Gildo Mugabe .

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