Esteve em palco Stuart Sukuma, num espectáculo em que trouxe convidados de luxo: Roger, Bonga, Lokua Kanza, Jimmy Dudlu e Jenny, que acaba de editar o seu álbum de estreia.
STEWART SUKUMA:
Um guerreiro obstinado numa noite de rubis
O nome em si já é uma elevação da existência: Nkuvo. É o título que Stewart Sukuma elegeu para dar ao seu segundo disco. Já que o antecedente a este, ele próprio preferiu não contar, por ser uma colectânea de temas já editados em outros momentos da sua trajectória. Nkuvo significa festa, celebração, aclamação, alegria e, Sukuma, com um grande sentido de oportunidade, seguiu essa luz e gravou uma obra com todas as ferramentas para perfurar muitos espaços do globo terrestre. Conseguiu-o.
Também não podia não o ter conseguido porque os fundamentos que ele foi buscar para estabelecer o seu sonho, são muito fortes demais para soçobrarem. Ou seja, quando personagens do porte de Jimmy Dludlu, Lokua Kandza, Bonga – e também Roger – vêm a terreiro, todos nós temos que nos render, porque tudo o que eles vão fazer com as mãos e as cordas da voz e o corpo, é sagrado. Significando, por isso mesmo, que o disco de Stewart Sukuma está abençoado.
No dia anterior ao espectáculo realizado na sexta-feira, para o lançamento do disco deste jovem ousado – segundo Bonga – já pairava no ar a sensação de que a noite que nos esperava no dia marcado para o lançamento de Nkuvo, tinha todos os materiais para constar nos anais dos grandes espectáculos a que já assistimos na nossa terra.
Bonga não podia deixar momentaneamente a Europa para vir a Maputo passear. Ele próprio sabe que tem um grande nome para defender, esteja onde estiver, com quem estiver. Jimmy Dludlu tem uma digressão marcada para a Europa. Tem compromissos na África do Sul e, se veio, sabe muito bem porque o fez, pois cada dedilhar de Jimmy é uma grande responsabilidade. É um engrandecimento da própria música.
Uma homenagem ao afro-jazz. Ao jazz.Lokua Kandza já produziu trabalhos de grandes nomes como Ismael Lô, Cesária Évora e Papa Wemba. O que ele canta ultrapassa a nossa capacidade de sentimento, então, se ele está aqui, ao lado de Stewart, em Maputo, é porque algo de importante vai acontecer. É como a chuva: quando cai, é porque algo de importante vai acontecer. E aconteceu mesmo: O Cine-Teatro África terá acolhido um dos maiores shows dos últimos tempos. Com um desempenho dos artistas ao seu próprio nível, e uma participação fenomenal do público, que não teve nem um minuto sequer para respirar.
POLIGLOTA
Stewart ganhou bastante com aquela comunicação – que fez - em várias línguas no “África”: Xithswa, Gitonga, Xangana, Koti, Ximakonde e Português. Toda esta amálgama fez do nosso compatriota uma figura querida, cantando sob o acompanhamento de jovens profissionalmente adultos e maduros. Oferecendo-nos um espectáculo de oxigénio limpo.
Sukuma ganhou também pela diversidade de ritmos que ele nos dá, sobretudo pela homenagem que faz – sendo ele do norte – aos originários do sul.
Este músico surpreende pela sua argúcia, pelo imenso sentido de oportunidade, porque quem se faz rodear de falcões como Jimmy Dludlu, Lokua Kandza, Bonga e também Roger, só pode ser alguém com muito tacto. Stewart demonstrou igualmente grande sensibilidade ao chamar para o seu projecto as “meninas” Sheila Jesuita e Geny e o poderoso Majescoral, que deram uma grande energia ao Nkuvo.
O espectáculo em si não podia ter sido melhor, embora Stewart, em alguns momentos, tenha demonstrado alguma incapacidade de dominar as suas emoções. A presença daquela força toda poderá ter levado, em certa medida, o músico a pensar que estava a sonhar. Não é todos os dias que um artista jovem – embora muito batalhador - pode estar no mesmo palco e no mesmo momento com gigantes e ainda por cima como cabeça de cartaz. Mas Stewart esteve com eles, naquele espaço que fará parte, para sempre, da sua história, que já não é curta.
Stewart, acompanhado pelos Mozpipa.
STEWART COM MULETAS
E o que nós podemos constatar. Porque o disco de Stewart Sukuma, se tem as pernas que tem para abrir o mercado mundial, não será propriamente por ele, mas pelos nomes que a obra engloba. Não haverá ninguém que, vendo os nomes estampados em Nkuvo, resistirá a comprar o álbum. Quem já ouviu músicas de Jimmy Dludlu, Lokua Kandza, Bonga, não precisará ouvir outra vez para comprar o disco. Compra logo. E Stewart sabe disso. E a isso chama-se sentido de oportunidade. Chama-se visão, provavelmente comercial. E se for isso, então está tudo bem.
Mas o que pode estar a acontecer, sem que abone muito a favor do nosso Stewart, é a sua recorrência a nomes de peso para fazer passar a sua mensagem. É o recurso às muletas, como artista. Pois o que ele faz agora, devia fazê-lo quando já estivesse em órbita no Cosmos. E Stewart ainda não está em órbita no Cosmos.
Stewart Sukuma, entretanto, comportou-se a contento no “África”, com um diálogo feito de emoções e uma movimentação esforçada. Deu-nos festa, este jovem, e está de parabéns. Sobretudo pela sagacidade. Por nos ter estendido a diversidade.
AÍ VAMOS NÓS
É como se eles quisessem dizer isso mesmo: aí vamos. Ele próprio- o Bonga – dizia: há pessoas que não acreditam que sou eu. Mas sou eu mesmo. Disseram-me para tirar a roupa que eu trazia a fim de vestir à moçambicano. Estou bonito?
Bonga estava bonito. Jovem. Jovial. Cantou o número que vem no Nkuvo, depois deslizou para Mulemba Xa Ngola, Tenho Uma Lágrima no Canto do Olho, Kisselenguenha e tocou percussão e dançou. Bonga levava-nos com o semba de Angola. Sentiu o grande calor do público. Entregou-se a ele e fez festa.
Depois Stewart foi buscar aquele belo tema de Hortêncio Langa: A Lirandzo, que consta em Nkuvo. Cantaram os dois. Abraçaram-se e foram recebidos, de coração, por todos. Foi ainda bonito ver Sheila Jesuita, Stewart Sukuma e Roger cantando Olimwengo. Foi maravilhoso.
Lokua Kandza tem uma voz da classe dos Salif Keita, Yossou Ndour, Ismael Lô e outros poucos. Ele tem a particularidade de nos enlear com a guitarra de caixa, sentado num banco alto, tranquilo e feiticeiro. Era ele. Ele mesmo: o Lokua. Cantando com classe para todos, que se curvaram aos seus pés. Diante daquela voz mimada com mirra, cuidada até ao extremo, porque se assim não fosse, não teríamos o Lokua que temos. Lokua Kandza hoye! Hoye!
E AGORA JIMMY!
Get up every bod. Let’s dance. São estas as palavras de Jimmy Dludlu quando entrou para o palco, vestido de fato branco. Óculos claros. Chapéu preto, de feltro e a sua Fender a tira-colo. Let’s dance. E Jimmy batia as palmas no ar, com elegância, enquanto os instrumentistas arrancavam melodias. E o público, de pé, dançava na sala do “África”.
Jimmy começou a dedilhar de forma auspiciosa. Deu o primeiro, deu o segundo e, quando deu o terceiro número – Wene Unga Yale – então era o orgasmo da noite. Porque “Felismina”, de Stewart, não vai ter asas suficientes para dar o golpe final. Esse golpe foi dado por Jimmy Dludlu.
Foi um espectáculo de ouro.
No rol dos artistas que também abrilhantaram o festival figuras como MC Roger, a 9 de Novembro, tendo como convidados Zico, DJ Ardiles, Doppaz, Dikey, Ali Angel, Maysa.
Click neste link para ver o video do tema Oluwenko com participacao especial de Roger.
Stewart Sukuma com a banda Afritiki em Boston nos E.U.A.
Notícias 5 de Novembro de 2007 . ALEXANDRE CHAÚQUE
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