Yana Munguambe
99 porcento dos nossos ritmos não são tocados em Moçambique - segundo Yana, que publica em breve, material (em disco e livro) sobre música tradicional
O CONHECIDO e respeitado Yana Munguambe, professor de música – antes na escola da Rádio Moçambique, hoje numa escola por si fundada – vai publicar brevemente um vasto material sobre os ritmos musicais do nosso país (em disco, em livro e em vídeo). É um material que resulta do trabalho exaustivo de investigação que Yana fez, no qual se pode encontrar todo Moçambique representado em termos de ritmos. E, depois dessa recolha, Yana chegou à conclusão de que os músicos que hoje se baseiam nesses ritmos para fazer música moderna, devem pesquisar mais e saber como pesquisar, para depois saber usá-los. “Temos uma imensidão de ritmos e 99 porcento deles não estão a ser usados pelos nossos artistas”.
Outra questão que é levantada pelo professor Yana (professor e músico, tendo já lançado o seu disco “Que venham”), ainda na esteira da sua recolha, é o termo que muitos usam para denominar as misturas rítmicas que fazem nos seus trabalhos: fusion. Para Yana, fusion não é nenhum rítmo. “Se você for a África Ocidental, por exemplo, vai encontrar músicos daquela região que pegam nos seus ritmos e partem para outros, como o jazz, o blues, o funky etc., mas eles revelam o nome do ritmo que tocam. Acho que os nossos músicos deviam fazer isso: pegar no nhambaru, por exemplo, e dar-lhe o toque de jazz ou de outro ritmo qualquer, mas você tem que dizer que aquilo é nhambaru e que não é fusion. Não basta dizer que é fusão. Fusão de quê?”
Ainda sobre os rítmos, Yana (que tem já todo o material pronto para a edição do livro, do disco e do vídeo) coloca uma questão que foi muito falada no último Festival de Canção e Música Tradicional, realizado em Pemba, província de Cabo Delgado, no ano passado. É que, por exemplo, a província do Maputo foi representada, para além de outras danças, pela timbila e mapiko. “Mapiko e timbila não são de Maputo. Todos nós sabemos que a timbila é da zona dos vatchopi, nas províncias de Gaza e Inhambane e o mapiko é de Cabo Delgado. Agora como é que estas duas manifestações culturais vão aparecer a representar a província do Maputo? Isso não está correcto. ”
Na sequência da sua investigação (iniciada em 1976 e intensificado a partir dos finais da década de 1980, quando ele começou a viajar pelas províncias), Yana, para além da simples recolha desses ritmo, ele faz também uma apreciação à capacidade de trabalho dos nossos músicos.
“Muitos dos nossos músicos ficam limitados, porque falta-lhes a educação musical. Estamos num país em que falta-nos compositores, regentes e bons intérpretes vocais. A esses intérpretes falta disciplina de treinamento, como fazem por exemplo os guitarristas e outros instrumentos. ”
99 porcento dos nossos ritmos não são tocados em Moçambique - segundo Yana, que publica em breve, material (em disco e livro) sobre música tradicional
O CONHECIDO e respeitado Yana Munguambe, professor de música – antes na escola da Rádio Moçambique, hoje numa escola por si fundada – vai publicar brevemente um vasto material sobre os ritmos musicais do nosso país (em disco, em livro e em vídeo). É um material que resulta do trabalho exaustivo de investigação que Yana fez, no qual se pode encontrar todo Moçambique representado em termos de ritmos. E, depois dessa recolha, Yana chegou à conclusão de que os músicos que hoje se baseiam nesses ritmos para fazer música moderna, devem pesquisar mais e saber como pesquisar, para depois saber usá-los. “Temos uma imensidão de ritmos e 99 porcento deles não estão a ser usados pelos nossos artistas”.
Outra questão que é levantada pelo professor Yana (professor e músico, tendo já lançado o seu disco “Que venham”), ainda na esteira da sua recolha, é o termo que muitos usam para denominar as misturas rítmicas que fazem nos seus trabalhos: fusion. Para Yana, fusion não é nenhum rítmo. “Se você for a África Ocidental, por exemplo, vai encontrar músicos daquela região que pegam nos seus ritmos e partem para outros, como o jazz, o blues, o funky etc., mas eles revelam o nome do ritmo que tocam. Acho que os nossos músicos deviam fazer isso: pegar no nhambaru, por exemplo, e dar-lhe o toque de jazz ou de outro ritmo qualquer, mas você tem que dizer que aquilo é nhambaru e que não é fusion. Não basta dizer que é fusão. Fusão de quê?”
Ainda sobre os rítmos, Yana (que tem já todo o material pronto para a edição do livro, do disco e do vídeo) coloca uma questão que foi muito falada no último Festival de Canção e Música Tradicional, realizado em Pemba, província de Cabo Delgado, no ano passado. É que, por exemplo, a província do Maputo foi representada, para além de outras danças, pela timbila e mapiko. “Mapiko e timbila não são de Maputo. Todos nós sabemos que a timbila é da zona dos vatchopi, nas províncias de Gaza e Inhambane e o mapiko é de Cabo Delgado. Agora como é que estas duas manifestações culturais vão aparecer a representar a província do Maputo? Isso não está correcto. ”
Na sequência da sua investigação (iniciada em 1976 e intensificado a partir dos finais da década de 1980, quando ele começou a viajar pelas províncias), Yana, para além da simples recolha desses ritmo, ele faz também uma apreciação à capacidade de trabalho dos nossos músicos.
“Muitos dos nossos músicos ficam limitados, porque falta-lhes a educação musical. Estamos num país em que falta-nos compositores, regentes e bons intérpretes vocais. A esses intérpretes falta disciplina de treinamento, como fazem por exemplo os guitarristas e outros instrumentos. ”
AFINAÇÃO UNIVERSAL PARA A TIMBILA
Em Zavala (terra onde a timbila é mais representativa) as várias orquestras existentes, cada uma delas tem um som característico. Que as diferencia e dá mais valor a este instrumento elevado ao nível de património da humanidade. Porém, alguém, vindo não se sabe de onde (até aqui não o conhecemos), foi àquele santuário dos vatchopi e obrigou-os a fabricar a timbila com a mesma afinação para todos os grupos. Para o professor Yana isso vai matar a essência da timbila. “Daqui a nada vão obrigar aos timbileiros a porem pedais nos seus instrumentos, como se faz no piano. Aquilo não é piano”.
“Outro valor que se está a perder é que, ao ouvirmos as letras das músicas tradicionais que se tocam em todo o país, poucas vezes ouvimos mensagens da tradição, sobre a história tradicional daquelas tribos. Depois da independência isso começou a morrer um pouco e ficaram as palavras de ordem. Acho que deve haver um equilíbrio para não se matar a tradição.
Em Zavala (terra onde a timbila é mais representativa) as várias orquestras existentes, cada uma delas tem um som característico. Que as diferencia e dá mais valor a este instrumento elevado ao nível de património da humanidade. Porém, alguém, vindo não se sabe de onde (até aqui não o conhecemos), foi àquele santuário dos vatchopi e obrigou-os a fabricar a timbila com a mesma afinação para todos os grupos. Para o professor Yana isso vai matar a essência da timbila. “Daqui a nada vão obrigar aos timbileiros a porem pedais nos seus instrumentos, como se faz no piano. Aquilo não é piano”.
“Outro valor que se está a perder é que, ao ouvirmos as letras das músicas tradicionais que se tocam em todo o país, poucas vezes ouvimos mensagens da tradição, sobre a história tradicional daquelas tribos. Depois da independência isso começou a morrer um pouco e ficaram as palavras de ordem. Acho que deve haver um equilíbrio para não se matar a tradição.
O LIVRO
Yana vai ainda lançar um livro de educação musical sem professor que, segundo as suas palavras, poderá ajudar muito na formação dos músicos. “O músico precisa de ciência. Se você tem um piano de 72 teclas e usas apenas 10, então não precisas desse piano. Estou a dar aulas numa escola em que tenho poucos adultos lá. O problema é que, quando um músico está em cima, pensa que já atingiu a perfeição”.
Esta afirmação de Yana vem em resposta à pergunta que lhe fizemos: se os nossos músicos lhe procuravam, sabendo da sua formação nesta área. “Mas também a pouca aproximação desses músicos na minha escola, pode estar ligada aos valores monetários que agora têm que se pagar. Antigamente, na escola da Rádio Moçambique, os cursos eram dados gratuitamente, mas os tempos hoje são outros”.
MÚSICA CLÁSSICA
Yana é um homem de trabalho. De música. Durante o tempo em que trabalhou na escola da Rádio Moçambique, fez música clássica, música para filmes, para teatro, escreveu dois concertos e um “rondo”. “Agora vou dar aulas para compositores e regentes para as Igrejas. Existem aqueles que aparecem nas Igrejas a dizer que são regentes, quando na verdade são animadores. Um compositor formado pode criar coisas dele e não passar a vida a imitar, sobretudo música de corais sul-africanos. ”
NOVO DISCO
“STOP THE GUNS”, é o título do disco que Yana vai lançar. Tem um título em inglês que significa “Parem com as armas”, porque, segundo o seu autor, é para ser ouvido pelo mundo. É um disco que não fala só das armas, mas de tudo que constitui o mal para a humanidade: a SIDA, as guerras, a fome. Que pare tudo isso!
Maputo, Quinta-Feira, 26 de Julho de 2007:: Notícias •ALEXANDRE CHAÚQUE
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