segunda-feira, 13 de setembro de 2010

FESTIVAL INTERNACIONAL DE ARTES – TUNDURO - Valeu pela intenção


A CIDADE de Maputo foi palco no pretérito fim-de-semana, ou seja, de sexta-feira a domingo último, da primeira edição do festival internacional de artes – o Festival Tunduro. Tratou-se de um movimento cultural multidisciplinar que englobou várias expressões artísticas, dentre elas a música, dança, artesanato, teatro, gastronomia, fotografia, moda, artes plásticas, entre outras, envolvendo fazedores de arte e cultura nacionais e internacionais, representando ao todo um total de 17 países.
Tunduro conforme os organizadores, é um festival de carácter internacional que pretende tornar-se uma referência cultural mundial.

O evento teve como cabeça de cartaz a veterana cantora sul-africana, PJ Power que se evidenciou na era da luta contra o apartheid. Na altura PJ Power apresentava-se em público com calçado preto e branco, numa clara alusão à necessidade de reconhecimento de que África do Sul é um país multiracial e que, por conseguinte, não havia espaço para o "apartheid".

Da Costa do Marfim veio Aly Keita, um exímio tocador de Balafone, da Alemanha o rapper Amewu, da Itália o músico Giorgio Mirto (viola clássica), da Zâmbia a cantora Maureen, da Espanha a companhia Palo Q’Sea.

Da vizinha África do Sul além da PJ Power vieram Natalie Rungan, Tucan Tucan, Moreira Chonguiça, João Cabral, estes últimos músicos moçambicanos radicados naquele país vizinho.

No entanto, contra todas as expectativas o festival não logrou sucesso. Pouco público aderiu ao festival, houve muita desorganização na realização das actividades previstas.

A programação previamente feita foi somente para o “inglês ver” como sói dizer-se na gíria popular. Nada foi cumprido com todas as consequências daí decorrentes. Havia muitas pessoas associadas à produção, mas pouco se via do seu trabalho.

A cantora sul-africana PJ Power, que à partida era assumida como cabeça de cartaz e que nos anos 90 enchia o campo de futebol do clube Maxaquene, passou a margem do sucesso. Os Massukos, banda da província do Niassa, granjeou mais simpatia do público que PJ Power. Só quem esteve no Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM) pode testemunhar.

Facto curioso é que o director executivo do festival, Filimone Mabjaia, ao invés de se preocupar a gestão do evento, apareceu repetidas vezes no palco do CCFM a fazer papel de Mestre-de-cerimónias (MC).

EVOCANDO OS ESPÍRITOS

Como que evocando os espíritos, o tradicional “Kuphahla”, o festival iniciou nas primeiras horas da noite de sexta-feira, com uma homenagem aos grandes colossos da música moçambicana, nomeadamente, Fany Fumo e Alexandre Langa.

A evocação foi feita por um naipe de classe, nomeadamente os músicos Xidiminguana, António Marcos, Seth Swazi, João Cabaço, Chico António, Hortêncio Langa, Moreira Chonguiça, Carlitos Gove e Zito. Para o delírio do público que se fez presente no anfiteatro do Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), tocaram e cantaram com mestria as músicas de Fany Pfumo e Alexandre Langa. Assim começou o festival internacional de artes – Tunduro.

Depois daqueles colossos da música moçambicana, foi a vez do costamarfinense Aly Keita que se fez acompanhar no palco por músicos moçambicanos, nomeadamente João Cabral (guitarra), Machume (Timbila). Foi uma mistura agradável de guitarra, timbila e balafone.
Maureen, cantora que veio da Zâmbia “fechou” a primeira noite do festival.

NAS RUAS DA BAIXA

O segundo dia do festival foi caracterizado por um espectáculo de rua que juntou dezenas de artistas entre nacionais e estrangeiros que no ambiente festivo percorreram a Avenida 25 de Setembro até à Praça 25 de Junho, local onde havia sido montado o palco Tony Django, em homenagem àquele jovem líder vocal da banda Kapa Dech, recentemente falecido.

Foi uma mistura das artes cénicas moçambicanas, com as tradições de teatro de rua europeias e o som dos batuques. A grande atracção do espectáculo foi a Companhia PALO Q´SEA, oriundo da Espanha. Foi a primeira vez que aquele afamado grupo se apresentou no continente africano, trazendo a versão completa do espectáculo ROMPE CANDELA.

Entretanto, a maior decepção do público foi a não realização do grande concerto que estava previsto para aquele local com início programado para as 15 horas e o término as 4 horas de madrugada de domingo.

O espectáculo seria a grande presença moçambicana no festival pois, estava previsto que desfilassem músicos como Ziqo, Filipe Nhassevele, João Bata, Baptista Tsinini, Leman Pinto, Yolanda Chicane, Rafael Bata, Pureza Wafino, Isabel Flores, Maisha, as bandas A-xikunda, YPG – Ragga, Rãs Haitrm, Marrabenta Vodacom, Black Roots, Moticoma, Mbilu.

UMA LIÇÃO …

O festival internacional de artes – Tunduro não foi de todo ele um sucesso. Desde o primeiro dia assistiu-se a várias situações que revelavam desorganização. Filimone Mabjaia, director executivo do festival na hora do balanço reconhece que muitas actividades não foram realizadas e outras revelaram alguma falta de sintonia entre o pessoal envolvido na produção, incluindo com algumas empresas fornecedoras de serviços.

Nalguns casos, Mabjaia apontou excessiva burocracia, mas no fundo desdramatiza, afirmando que se tratou de uma primeira experiência, portanto, susceptível de erros.

“As coisas não aconteceram por razões de força maior, mas no cômputo geral e, tratando-se de uma primeira experiência, a nossa avaliação é positiva. As falhas que se verificaram vão servir de lição para os próximos eventos”, disse Filimone Mabjaia.

Maputo, Quarta-Feira, 1 de Setembro de 2010:: Notícias

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“Bling” no olho do mundo, Música moçambicana com terreno no exterior


Ivânia Mudanisse, carinhosamente tratada por Dama do Bling, soma e segue, a avaliar pelo seu posicionamento em vários concursos internacionais.

A autora de “Longa espera”, entre outros temas sonantes na praça, consta da lista de dez melhores artistas de Hip Hop de língua inglesa em África, Top África, especialmente para artistas falantes da língua mas, devido ao facto de a cantora furar barreiras linguísticas, o júri optou por inclui-la na corrida. Esta “dama irreverente” concorre também no Top Ten da África Rappers Inglês por Mnet África Standards. Igualmente, Dama do Bling, Lizha James e Gabriela foram nomeadas para o Channel O Music Awards e nos African Music Awards, grangeando assim simpatias pelo resto do mundo através da sua música e talento na elevação da bandeira moçambicana.

Para Izidine Samamad, agente da Bling, estas realizações e reconhecimentos “resultam do reconhecimento do trabalho que a cantora tem realizado dentro e fora do país, tendo em conta que Dama do Bling já não é apenas uma artista nacional mas também internacional”.

“Esse facto tem-se verificado em várias solicitações para colaborar com artistas de vários países de África, tal que, até então, fez seis colaborações com Shaa, da Tanzania, Gall Level e Gaza da Namíbia, D Boy, de Camarões e, recentemente, com a cantora angolana Zulmira, só para citar alguns”, diz Samamad.

Bling comemora cinco anos de carreira

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Terça, 07 Setembro 2010

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Video de Dama do Bling - Moza Girl

Video de Dama do Bling - Moza Girl

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Manifestações adiam gala Moçambique Music Awards


O evento para a apresentação da gala dos nomeados ao Moçambique Music Awards (MMA) ficou adiado para a próxima sexta-feira, 10 de Setembro, devido às manifestações populares que assolaram as cidades de Maputo e Matola, nos dias 1 e 2 do corrente mês.

Os nomeados a ser apresentados são das categorias melhor hip-hop/rap, instrumental, jazz, música ligeira moçambicana, marrabenta, afro-jazz/fusão, afro/música tropical, pandza/dzukuta, R&B/neo-soul, reggae, rock, dance, tradicional, produtor do ano, vídeo, música do ano, álbum do ano, melhor grupo/duo, revelação, melhores artistas feminino e masculino do ano, prémio carreira, álbum mais popular, melhor animador de programas e melhor programa de TV Musical, melhor animador e melhor programa de Rádio.

Recordar que o premiado na categoria revelação beneficiará da reprodução de 500 CD do seu álbum para posterior comercialização. No evento, será ainda homenageada a banda Ghorwane, que completa este ano 27 anos de carreira.

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Segunda, 06 Setembro 2010

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Quénia dança marrabenta

Video de Stewaert Sukuma - Xitchuketa Marrabenta


A bailarina da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), Pelina Pedro, vai ensinar a dança

A bailarina da Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD), Pelina Pedro, vai ensinar dança no Quénia. Esta bailarina, que está na dança há 20 anos, foi contemplada para ensinar dança durante um ano e meio naquele país africano, através do projecto Monozike, que envolve Moçambique, Noruega, Zimbabwe e Quénia.

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Segunda, 06 Setembro 2010 10:03

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“A emoção é negra, assim como a razão é helénica”

ishhyowevodacom 21 de Maio de 2009
Campanha da rede celular em Moçambique, a Vodacom.

O PRESENTE texto é resultado dos debates que tenho tido com estudantes do curso de Ciências da Comunicação, quando abordávamos a temática referente à adequabilidade e eficácia da comunicação. Muitos exemplos sobre Moçambique vieram à tona, mas o slogan da publicidade da Vodacom: “ishh yôwêe!” dominou a carga horária reservada para a cadeira.Maputo, Quarta-Feira, 1 de Setembro de 2010:: Notícias
Porquê? Porque em nosso entender, esse slogan, aplicado na língua portuguesa, pretende transmitir alegria, mas que na língua original – Tsonga - significa o contrário. Há nele uma interjeição de espanto: -ixi - e de dor: yowe. Isto poderá ter criado algum ruído na comunicação entre os falantes da língua Tsonga.

Durante as aulas alguns de nós afirmávamos que o slogan tinha sido feliz, porque eficaz, mas não adequado e outros referíamos que o slogan não era nem adequado, nem eficaz. Dessa discussão surgiu o presente texto que pretendemos que seja uma reflexão em torno dos contornos que aquele slogan pode tomar.

Queremos referir que essa discussão não leva em linha de conta a adesão ou não de clientes ao produto da Vodacom, como resultado do slogan.

Uma das melhores formas de permitir um melhor entendimento do nosso ponto de vista seria a de trazer algumas definições do conceito comunicação. Uma vez que de acordo com Teixeira (2005), “a comunicação é o processo através do qual os gestores realizam as funções de planeamento, organização, liderança e controle” e constitui uma actividade na qual os gestores dedicam grande parte do seu tempo. Ela pode ser caracterizada como o “sangue vital” das empresas.

Nesse sentido, segundo Esperto e Veríssimo (2008) a eficácia da comunicação depende da coincidência entre a mensagem que o emissor quer transmitir e a mensagem interpretada pelo receptor. Mas, porque existem diferentes factores de ruído, estes podem prejudicar o processo através de problemas semânticos, efeito de estatuto, ausência de feedback, distracções e a percepção do outro.

Por outro lado, a adequabilidade e eficiência comunicacional devem respeitar, entre outros factores a fórmula de Laswell (): Quem? Diz o quê? A quem? Através de que meio? Com que finalidade? Onde e Quando?. Além disso o receptor condiciona a forma de comunicação, porque é quem deve descodificar a mensagem. E o processo de descodificação depende muito do carácter, da intuição, dos dogmas ou dos créditos desse receptor.

Assumimos que a finalidade do slogan era angariar mais clientes para a Vodacom e manter os que lá existem. Seria de desejar que a língua usada no slogan fosse entendida por maior número de falantes possível[1]. Isto porque deve-se falar a mesma língua do receptor, circunscrever-se ao seu vocabulário e expressões que lhe são familiares, para que haja esse entendimento. A finalidade da comunicação deve ser evidente, para evitar distorções e mal entendidos (é importante estarem claros todos os porquês de a mensagem estar a ser passada).

No caso do slogan em análise não nos parece que tenha sido cumprido esse pressuposto, uma vez que os falantes de Tsonga poderão ter ficado “intrigados”, dado ao facto de ter havido ruído na comunicação. Tal como mencionámos no início do texto “yowê” é uma expressão de dor, ou melhor, de pedido de socorro perante algo negativo.

Nessa sequência pode-se afirmar que à competência linguística (capacidade de produzir e interpretar signos verbais – fonologia, sintaxe, semântica), faltou aliar a competência comunicativa (capacidade de produzir e entender mensagens que põem o indivíduo em interacção com outros interlocutores, que consiste, não só em produzir e interpretar frases, mas também saber adequar a mensagem a uma situação específica – habilidade social, ou tradução ou utilização de outros códigos para além do linguístico – expressões faciais, movimentos do rosto, das mãos, etc. (Bitti e Ricci – (1993). Isto não aconteceu no caso do slogan: a expressão “ishh yowê” não revela adequação da mensagem aos códigos linguísticos da língua Tsonga, nem `as expressões faciais...dificilmente poderemos encontrar, naquela cultura, alguém que diga “ixi yowe” a rir-se, a menos que tenha perturbações psíquicas.

Além disso não fica enquadrada no slogan o facto de Moçambique ser um país multicultural, foi usada uma expressão de uma língua que não é conhecida pela maioria dos nacionais. Por outro lado, há uma discrepância entre os factores extralinguísticos que devem levar em linha de conta, não só factores sociais e semióticos, como também factores emocionais – que revelem estados de ânimo e que interferem no processo comunicativo (Bitti e Ricci - 1993). A expressão “yowe” não remeteria o tsonga imediatamente à alegria. Assim estamos perante uma expressão que diz algo que contraria os gestos e a emoção (a competência cinésica não foi tomada em consideração). Ou seja, os signos linguisticos (“ishh yôwêe!” ) e não linguísticos (gestos e emoções) não foram usados de modo adequado à situação e às suas próprias intenções.

Pensamos que antes de ser lançado o slogan deveria ter sido feito um estudo etnográfico (se é que não foi feito). Isto porque a etnografia reflecte o facto de que a própria cultura inclui e abrange a totalidade de conhecimentos e práticas. É o enfoque discursivo mais interactivo. Pela explicação apresentada no slogan, em que se usa uma expressão de dor, para transmitir alegria, significa que a comunicação não se efectivou ou seja o acto de transmissão não foi eficaz, daí ter perturbado algum público.

A capacidade de reconhecer um acto de fala faz parte do nosso conhecimento cultural. Usar uma expressão de dor, para significar contentamento só pode demonstrar falta de conhecimento da cultura, por parte da Vodacom.

Além disso, alguma ignorância no processo de publicitação de mensagens, uma vez que não conhecendo a cultura Tsonga, os criativos poderiam ter feito alguma pesquisa.

A etnografia permite-nos fazer isso, por tornar possível a observação de todas as fases e aspectos da comunicação, (do cognitivo ao político) como os significados relativos a cultura. Há que se fazer o cruzamento das diferentes competências acima referidas: comunicativa, linguística, pragmática, cinésica, entre outras.

Hymes (1971) defende que o conhecimento de enunciados não se deve dar apenas no plano gramatical. É importante saber quando o uso de determinados significados ou enunciados é apropriado, isto porque a competência envolve o conhecimento de quando é adequado falar ou não, quando e como é adequado falar com quem, sobre o quê, com quem, quando, onde, como, com que fins e com que meios. E, para o autor, a aquisição deste tipo de competência só é possível graças às experiências sociais.

O autor defende o uso de uma grade usada para descobrir as unidades comunicativas (semelhanças e diferenças de caracteres) na análise das culturas, da língua ou da linguagem humana e que nos permite perceber a interacção da linguagem e da vida social. Esse modelo ou grade segue uma perspectiva funcionalista que se preocupa em explicar o funcionamento da língua num dado momento.

O autor defende que a interacção da linguagem e da vida social deverá resultar da observação e análise do discurso, a partir de rituais, eventos, actos de fala, de onde se pode encontrar semelhanças e diferenças de caracteres na análise das culturas e da língua. Usando o modelo de Hymes a Vodacom poderia ter criado menos ruído com o seu slogan.

Ainda no que concerne a factores sociais, no processo comunicacional, de acordo com Bitti e Ricci(1993) há que considerar crenças e dogmas no acto comunicacional. Olhando para o slogan em análise pode ser que este seja conotado como agourento, se ouvido na rádio, sem o aparato da imagem. Muitas vezes as crenças fazem interpretar as mensagens dessa forma, facto que tem consequência, no entendimento da mensagem.

No entanto, considerando as funções da comunicação (a função interpessoal ou expressiva) pode-se afirmar que uma mensagem nunca é neutra, constitui sempre comunicação entre o emissor desta e seus intervenientes. A musicalidade dada ao slogan e o ambiente festivo em que é apresentado contribui para a sua aceitação.

Há nesse contexto comunicativo, uma interacção entre o significado do que é dito e do que não é dito – o explícito e o implícito (o olhar, o tom de voz, o uso de palavras que marquem comunicam e passam mensagens entre os intervenientes de um acto comunicativo).

Para explicar melhor esta constatação vale a pena lembrar que existem na língua portuguesa expressões como: “matas-me de rir”, que aparentemente exprimem adversidade, mas há algo implícito e que é de índole cultural (e passa pelo uso de uma linguagem conotativa) e permite que falantes dessa língua percebam perfeitamente o que se passa (que o que foi dito causa tanto riso, capaz de “matar” – mas a expressão matar neste contexto não significaria algo negativo). Será essa aproximação que a Vodacom tentou fazer?

Uma questão que se coloca é como é que os gestores da Vodacom vêem, sentem que realizam as funções de planeamento, organização, liderança e controle com um slogan da natureza de “ishh yôwêe!” será que têm o feedback dos seus clientes? Quantos foram angariados após o lançamento do slogan? Pode até ser que tenham entrado vários...infelizmente somos uma sociedade pouco crítica. O ritmo da música pode ter falado mais alto! E não digam que algumas interpretações à frase “a emoção é negra, assim como a razão é helénica” são desprovidas de sentido!

Como dizíamos no início do texto vários foram os exemplos de enunciados produzidos em Moçambique levados para sustentar a inadequabilidade e a ineficácia do slogan da Vodacom, mas pensamos que vale a pena terminar o texto referindo-nos a um spot publicitário menos polémico, na nossa óptica. Não iremos mencionar a empresa que o criou, interessa-nos mais falarmos sobre o exemplo.

É o caso de um spot publicitário que traz um menino magrinho e pequenino que ao carregar um grão de arroz diz: “xa dindza ndjane!” - pesa muito. A ideia com que ficamos é a de que o menino era tão magrinho e tão pequenino que até um grão de arroz era pesado para ele carregar, por isso precisava de comer para crescer ou ficar com um aspecto mais saudável. Pode até haver outras interpretações e é bom que as haja, mas que não nos remetam ao totalmente contrário, pensamos nós!

*Texto elaborado com contribuições dos estudantes: Madina Hussein, Teresa Magaia, Carlos Matias, Shakira Rachid.

BIBLIOGRAFIA

BITTI, Pio: ZANI, Bruna. A comunicação Como Processo Social. Imprensa Universitária. Editorial Estampa. 1993.

ESPERTO, Silvia; VERISSIMO, Rita. Comunicação Organizacional. Instituto Politécnico de Coimbra. Departamento de engenharia Civil. 2008. Coimbra. In: http://prof.santana-e-silva.pt/gestao_de_empresas/trabalhos_07_08/word/Comunica%2525C3%2525A7%2525C3%2525A3o%252520Organizacional.pdf, acesso em 06 de julho de 2010.

MONTEIRO, C; CAETANO, J; MARQUES, H; LOURENÇO, J (2006). Fundamentos de Comunicação. 1ª edição. Edições Sílabo. Lisboa.

TEIXEIRA, Sebastião. Gestão das Organizações. Editora: Mcgraw-Hill. 2005

[1] Sabemos que Moçambique é um país multilingue e que não existe uma língua que ‘e falada e compreendida por todos os moçambicanos.

Sara Jona - Docente universitária

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Ntsindya, Um centro de cultura e berço do nacionalismo


A HISTÓRIA dos povos é (ainda) feita também por personalidades, embora elas, sozinhas, isoladas dos seus contemporâneos nos demais contextos da sua passagem pela face da terra, não possam fazer história. Manhã de domingo, num Xipamanine algo posto à prova pelos pingos que caíam das alturas, o Ntsindya se preparava para acolher uma visita ilustre. A do presidente da República, que ali iria cumprir aquela que acabaria por se tornar na mais emotiva trajectória da sua visita à cidade de Maputo, que por sinal terminava naquele 25 de Maputo, Abril, a data em que os nossos opressores de ontem celebravam a queda do seu fascismo.

Ora, com Armando Guebuza no Centro Cultural Municipal, os poucos moçambicanos ali presentes (poucos porque o espaço é pouco mais que minúsculo) recordavam parte do como se fez a liberdade de Moçambique. Mas também recordavam, os saudosistas e os nostálgicos, momentos culturais que de certeza jamais voltarão (pelo menos como eram em seu tempo), porque o Ntsindya foi no tempo colonial também um local de uma cultura efervescente, com bailes e saraus que juntavam vários jovens dos anos 1960/70, alguns dos quais ilustres figuras da vida política, cultural ou de outra índole no nosso país.

Guebuza era, naquela manhã, um homem que regressava às suas origens. É ali que em parte se forjou a sua consciência nacionalista. Um intenso programa cultural tinha sido preparado. À chegada, o pequeno salão do Ntsindya (se os nossos horizontes forem salas de espectáculo médias no país, como um cinema Scala, Gil Vicente ou Charlot, se não quisermos exagerar e compara-lo a um cine África) estava repleto de contemporâneos de Guebuza, como ele na maioria de cabeças repletas de branco, mas alguns já desdentados pelo tempo, outros com espinhas a traçarem verdadeiras parábolas, e outros ainda de vozes afagadas e trémulas… provas evidentes da sua longa presença nesta face do mundo com que, orgulhosamente, convergimos.

À esta geração se juntavam alguns jovens, que iriam consumir durante quase hora e meia, o que a maioria dos presentes vivia intensamente nos anos que recordavam com saudosismo.

Estava preparado para o Ntsindya um programa que incluía poesia e música. Duas mamanas da geração de Guebuza declamaram dois poemas de Albino Magaia, “Quando eu Morrer” e “Meu País” – de conteúdo fortemente nacionalista (não tivessem sido escritos por um grande nacionalista moçambicano, nosso colega de jornalismo) –, e, apoteoticamente, o Grupo Djambu, mítico pelo seu papel de dinamizador da marrabenta.

O Djambu que actuou domingo era o resgate daqueles que, no tempo colonial eram as estrelas de “KaHlamankulu ni Xipamanine”, as zonas adjacentes ao Ntsindya. Várias canções, ao ritmo da marrabenta, contagiaram de alegria a sala, arrancando palmas quase que ininterruptas. O ilustre visitante era actor activo nesses aplausos.

PALCO DE SÉRIAS BATALHAS POLÍTICAS

No final da actuação o Presidente foi ao palco e contou um pouco da história e da importância do Ntsindya. Falou da sua juventude ali, onde fez o ensino primário, deu aulas e dirigiu o Núcleo de Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM).

“Este foi um dos berços do nosso nacionalismo. Tínhamos aqui muitas reuniões, em que falávamos da liberdade, do caminho que devíamos usar para atingi-la”, começou por contar Guebuza, que ia chamando por nome os integrantes da orquestra e outros presentes que com ele partilharam esses momentos políticos e culturais no centro.

“Travámos aqui imensas batalhas políticas, sérias, depois de termos aqui muitos dos nossos banhos de política, principal mente através do NESAM. Cada uma das salas (do Ntsindya) desempenhou a sua importância no contexto do nosso nacionalismo. Nós assustávamos o regime colonial, a PIDE”, afirmou.

O Ntsindya foi, por estes e por outros factos, um dos berços do nacionalismo moçambicano. Foi esse berço e é hoje uma fonte de conhecimento da nossa história, essa que nós escrevemos no nosso dia-a-dia com as nossas acções em prol do nosso país, essa que os nossos compatriotas de ontem, como geração, escreveram ao darem o máximo de si para fazerem de Moçambique uma pátria. É por isso que personalidades como o actual Presidente também são actores da História de Moçambique, uma vez que, inserido numa determinada época, a de luta pela independência, também teve um papel para uma geração.


Recordando uma época no Ntsindya (A. Marrengula)
FUI EXCLUÍDO DO GRUPO…

O Presidente congratulou-se com o facto de, na sua opinião, o lugar “ter mudado para melhor”, mercê da reabilitação (“sem ser descaracterizado”) a que foi submetida nos últimos anos. Hoje o Ntsindya é o centro cultural municipal, movimentando disciplinas culturais como o canto e dança, dinamizado por um grupo de crianças denominado Estrelinhas do Ntsindya (que também actuou domingo) e albergando biblioteca e centro multimédia com acesso à Internet.

No final da actuação dos velhinhos Orquestra Djambu – na verdade um grupo mesclando membros ainda vivos daquele célebre grupo e uma juventude a quem se poderá estar a passar o testemunho –, um incontido Guebuza distribuía calorosos abraços aos artistas em palco. Contando a sua afinidade com cada um deles (“este andava quase sempre comigo”…), o Presidente não deixou de gracejar por não ter sido chamado ao palco para fazer o que – tal como ele mesmo afirmou – também fazia (mas no salão, porque não há relatos de um Armando Guebuza bailarino) … “Estes meus companheiros excluíram-me. Eu também dançava naqueles tempos, quando era jovem. Hoje só me puseram a contemplar a beleza da sua música e dança”, comentou.

O Ntsindya ficou conhecido na história colonial como o centro associativo onde os negros se divertiam. Ainda bem que nele não se dançava fado, porque, realmente, ali não cabia antes de 1975…

Gil Filipe

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Lágrimas na despedida a Pilecas



Um exímio instrumentista que perdeu a vida na madrugada da última sexta-feira

Choros e lágrimas caracterizaram o último adeus do percussionista Pilecas, um exímio instrumentista que perdeu a vida na madrugada da última sexta-feira. Amigos, familiares e fãs acorreram em massa à Associação dos Músicos Moçambicanos, para o último adeus, para depois o cortejo fúnebre seguir ao cemitério de Lhanguene, local onde os restos mortais do malogrado repousam eternamente.

“Porque nos deixaste tão cedo (...), quem te vai substituir?”, foram algumas das questões colocadas no meio de pranto e que as respostas permaneceram incógnitas.

Enquanto alguns questionavam-se, outros teciam comentários à volta do malogrado: “Era um jovem calmo..., bondoso, a sua morte constitui uma perda irreparável...”, foram algumas palavras que ecoavam em torno de Rogério Fernando Nhavene, figura que deixou um vazio na música moçambicana e não só.

Para Mitó, integrante da Banda Kapa Dech, a perda de Pilecas é irreparável.

“Estávamos no estúdio a gravar e fomos apanhados de surpresa com a informação do seu desaparecimento físico. Há sensivelmente seis meses, estivemos neste local a chorar a morte do Tony Django e, hoje, foi-se o Pilecas. De certa forma, isso vai retardar o nosso reaparecimento em público. Torna-se difícil aceitarmos que ele partiu”, disparou Mitó.

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Terça, 07 Setembro 2010 09:29
Gildo Mugabe


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