segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Jah Bee : Um intervencionista em dívida



O CONHECIDO músico beirense, Alfredo Binda, ou simplesmente Jah Bee, está a trabalhar para, segundo disse, “pagar uma divida” que tem para com seus fãs, pois passam quatro anos após a selagem do primeiro trabalho, intitulado “Um Presente Para Você”, cujas vendas, conforme soubemos esgotaram. Entretanto, Jah Bee minimiza o período longo de espera pelo segundo trabalho, pois, segundo suas palavras, a arte é dom de quem a cria, portanto, não basta correr para os estúdios para se ser verdadeiramente um artista, parafraseando o seu pai.

“Foi do trabalho anterior que fiz que acho que estou em divida para com os que gostam das minhas músicas, os meus fãs a quem lhes devo mais um trabalho”, apontou.

Com um repertório musical já produzido, Jah Bee disse que neste momento possui “tudo alinhavado” para editar mais um disco. A mudança de residência da capital do país e novamente para a cidade da Beira, isto, há cerca de dois anos, terá de certo modo contribuído para que a preparação do álbum fosse retardada.

“Já constitui a minha banda na Beira e penso que até finais deste ano poderei editar o meu segundo disco”, afirmou.

Para além das músicas que aparecem no álbum “Um Presente Para Você”, o músico disse que possui vídeos que estão sendo divulgados por algumas televisões do país e do exterior e que não figuram no primeiro trabalho discográfico.

Com temas que versam assuntos de amor, fraternidade e solidariedade, Jah Bee considera-se intervencionista com ritmo “reggae”. Exemplificou que neste último repertório em preparação aponta a música “Quem tem dá pouco a quem não tem” como uma das faixas deste seu estilo de intervenção.

“Este disco em preparação não vai fugir muito do meu estilo habitual, mas vai contar com uma mistura cuja base é o “reggae”, que sempre adorei”, sustentou.

Não se considera apologista, mas inspira-se nos problemas da sociedade, pois acredita que o Mundo pode ser melhor do que é, mas é preciso ser se um pouco mais ousado pensando em nós próprio.

“Se for a ver no mundo existem muitos ricos e que pelo menos deveriam contribuir um pouco daquilo que tem para ajudar os pobres daí a razão da minha música “Quem têm dá pouco a quem não têm”, pois são milhares de pessoas necessitadas no mundo”, explicou.


PRINCIPIOS DA BIBLIA

Alfredo Binda, ou seja, Jah Bee, sempre fala pensando nos princípios da Bíblia. Por exemplo, diz que é olhando para o que a Bíblia diz “Deia a quem não têm” que diariamente pensa em ajudar o próximo.

“O pão que considero duro e deito-o fora pode ser importante para salvar uma vida que esta sem este pão duro”, sustenta.

Perguntamos ao nosso entrevistado se com base neste princípio da Bíblia já podemos ter o titulo do novo álbum ao que disse que neste momento ainda está a pensar, pois o titulo ainda não se afigura nestes princípios.

A uma outra pergunta sobre a receptividade do seu primeiro disco intitulado “Um Presente Para Você”, Jah Bee considera-se satisfeito pois, segundo ele, o disco foi todo vendido.


VIDEOS NO ESTRANGEIRO

Para Jah Bee, o que se passa no país não lhe deixa muito satisfeito pois, em relação aos seus vídeos as televisões nacionais passam muito pouco contrariamente ao que se passa no exterior, concretamente em Portugal.

Citou o vídeo da música que da titulo ao álbum (Um Presente Para Você) e Sida é Real, como alguns que frequentemente são transmitidos.

Reconhece ser a política editorial de cada estação televisiva ou radiofónica em não passar maior parte de vídeos ou composições de artistas nacionais.

“Penso que se deve muito ao factor comercial porque as políticas editoriais vão mais pelas músicas comerciáveis que outras que, eventualmente, não tenham o objectivo pretendido. Quer dizer, a publicidade comercial não aparece como tal mas sim por baixo da música o que faz com que possamos vê-las ou escuta-las com frequência na televisão ou rádio”, destacou.


FALTA INDÚSTRIA

Segundo Jah Bee o nosso país ainda carece de uma indústria que possa colocar semanalmente a nossa música no alto patamar, desde gospel, marrabenta, romântica, pandza, dzukuta, entre outras.

“Deveríamos ter um sector que se ocupasse da divulgação de novidades semanais que fossem surgindo no país, à semelhança do que acontece nos outros países, a exemplo da África do Sul independentemente do estilo, pois para cada estilo existem fãs”, opinou.

Questionado se se sentia afectado por esta situação, o autor de “Carrupeia”, “Tanta Gente Vai Morrer”, “Um Presente Para Você”, disse que não se sentia afectado como tal, argumentando que quem fica afectado por tudo isto é o próprio público amante da música que dificilmente consegue ter o que realmente gostaria de ter para satisfazer os seus gostos.

“Falta-nos a mentalidade da indústria, abrir-se mais para o horizonte musical e olhar-se para a música como um meio de se atingir vários corpos. As pessoas devem editar, comercializar e promover a música para o nosso próprio bem e quando isso acontecer a nossa música estará como outra qualquer do mundo pois potencial é o que temos demais”, referiu.

Apontou a história do ovo e da galinha sobre quem foi primeiro relacionando-a com a situação que existe entre os músicos, promotores de espectáculos e produtores. Defendeu que para se ser produtor deve-se investir olhando para a promoção de qualquer vídeo ou disco sem esperar por retornos imediatos, pois eles surgem mais tarde com o trabalho. Quer dizer, segundo ele, para qualquer negócio deve-se ter capital para investir e esperar pelos ganhos e não o contrário.

“O que acontece é que praticamente todos estão a espera de ganhar com o músico, querendo garantias de vendas antes mesmo de editar o seu disco. Ora, isso não pode ser assim pois deve-se investir primeiro e depois esperar pelos lucros. Essas pessoas esquecem-se que para as grandes estrelas serem o que são partiram da promoção por alguém que arriscou o seu capital investindo neles, a exemplo de Michael Jackson entre outros”, enfatizou.

Para o nosso entrevistado, o nosso país ainda carece de ousadia empresarial para investimentos na área discográfica em meios materiais e humanos. Regozijou-se pela criação do Ministério da Cultura afirmando que pelo menos já se deu um grande passo pois haver grande diálogo e abertura para uma área especifica.

“Na Suécia, por exemplo, o conjunto ABBAS vendia mais que a própria Volvo, enquanto na Jamaica o Bob Marley metia mais dinheiro para o país com a música que qualquer outro produto e estes são apenas exemplos daquilo que a cultura pode ser se bem vista e organizada. Julgo que com a criação deste ministério podemos sonhar alto e melhor”, afirmou.

António Janeiro

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