segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Artistas da Beira querem ver melhorias na sua catedral

Daviz Mbepo Simango
Presidente do Conselho Municipal da Beira

Artistas da cidade da Beira exigem melhorias no funcionamento da Casa Provincial de Cultura de Sofala, que a 20 de Agosto estará em festa pela passagem do 41º aniversário da sua existência. Alegam que as artes regrediram nos últimos tempos naquela urbe, o que se reflecte, por exemplo, pela ausência de uma programação regular. Contudo, parte dos fazedores da cultura no Chiveve defendem o contrário, assegurando que há alguma progressão, que é contrariada não pelos gestores culturais mas pela apatia do empresariado local.


Ainda na senda dos 41 anos da Casa Provincial de Cultura de Sofala, a nossa Reportagem colheu a sensibilidade de diferentes artistas da cidade da Beira, que, de uma forma geral, a “Catedral das Artes” do Chiveve está a registar uma degradação acentuada, tal como anunciamos a nossa edição passada, em que afirmávamos que a ela clama por uma reabilitação urgente, sobretudo no bloco do salão auditório, aliás, o principal.

Mas os nossos entrevistados divergem-se quanto ao progresso das artes a nível da cidade da Beira. Uns defendem que há crescimento, sobretudo na música, teatro e artes plásticas. Outros advogam que há uma estagnação total. Apontam a falta de estratégias que possam fazer com que a Casa de Cultura de Sofala seja uma referência obrigatória na cidade e na província, atendendo e considerado que a Beira é bastante rica em termos de talento.

A actriz e directora do grupo de teatro “Só Mulheres”, Gilda Baptista, reconheceu que houve uma altura em que todas as artes registaram uma estagnação, mas assegurou que nos últimos tempos há registo de melhorias.

Aquela actriz apontou, a propósito, a área teatral, que na sua opinião está a crescer significativamente. Os grupos da cidade – apontou – “têm vindo a apresentar peças cada vez mais maduras sobretudo no capítulo temático”.

Gilda Baptista apontou, igualmente, a música como sendo uma das áreas que está a registar crescimento, com muitas bandas jovens da cidade da Beira a primarem pelos estilos de “raiz” e a representarem o país em diferentes festivais internacionais.

No cômputo geral, ela reconhece que a existência de cursos vocacionais na Casa de Cultura de Sofala tem ajudado a despontar talentos. Aliás, disse que o Chiveve é bastante rico em termos artísticos, tendo apontado o programa televisivo “ Show de Talentos”, que teve muitos concorrentes beirenses na final, como uma das provas disso.

FALTA FINANCIAMENTO

O músico Jorge Mamad defende que a falta de financiamento na daquela que é tida como a catedral das artes da região centro do país é o principal “nó de estrangulamento” para o desenvolvimento da Casa de Cultura. Disse, a propósito, que “mesmo que a Direcção Provincial de Educação e Cultura dê algum valor para a casa não basta. A sociedade civil deve participar para garantir que tenhamos aquele grande movimento do passado”.

Mamad recordou que, num passado recente, a Casa Provincial de Cultura de Sofala teve muito apoio de organizações dinamarquesas, como são os casos da Ibis e da ASDI, que deram muita vida àquela instituição. Com efeito, o autor de “Nha Pia Pia” é de opinião que se desenhem projectos que possam cativar organizações não governamentais seja nacionais ou estrangeiras que possam ajudar a desenvolver uma dinâmica na catedral das artes do Chiveve.

O actor António Garcia alinhou pelo mesmo diapasão. Apingar, de seu nome artístico, disse que há um crescimento artístico de forma isolada e/ou pelo próprio esforço dos fazedores da arte. Em contrapartida, a Casa de Cultura não está a conseguir responder aos anseios dos artistas por alegada falta de financiamentos.

Apingar afirmou ainda que o actual estágio de degradação da Casa de Cultura tem repelido os espectadores, facto que tem contribuído grandemente na baixa prestação dos artista, principalmente os do teatro.

“As condições do palco do auditório não motivam que os grupos façam espectáculos naquelas condições. As próprias cadeiras fazem com que as pessoas desanimem- se. As pessoas preferem não ir lá, porque não fornece comodidade”, revelou.

Apingar sublinhou que “é preciso melhorar a Casa de Cultura. O maior problema é que falta financiamento. Hoje, com a sala grátis não conseguimos atrair o público nas nossas peças teatrais. A música ainda está a resistir, mas se isso continuar assim, mesmo no próximo ano teremos os mesmos problemas já existentes no teatro”.


FALTA MARKETING

O vocalista da banda Nyacha, Timóteo Nchussa, reconhece que há um crescimento assinalável nas artes na Beira, mas a falta de um forte marketing por parte da direcção da Casa de Cultura faz com que haja alguma estagnação na catedral beirense das artes do Chiveve.

“A Casa de Cultura virou um museu. A direcção precisa inverter este cenário. Fala-se de um projecto de reabilitação que inclui a edificação de quartos para alojamento. Isto não dá, nós queremos mais espaço para desenvolver as artes e não para dormir. No lugar destas ampliações porquê não pensarmos em Internet. Está na hora da casa ter um site e abrir links ou janelas para vender a imagem da própria Casa e buscar financiamentos para promover a arte na Beira”, opinou.

Nchussa disse, contudo, que os artistas continua ma trabalhar arduamente para procurar afirmarem-se. Apontou, no entanto, as bandas Nyacha e Djaaka como sendo exemplo disso. Mas defende a necessidade de se dar “uma mão” aos fazedores das artes no geral para dar outro alento à cultura, tendo em conta que Beira possuir um potencial “saudável” nesta material.

“Veja só, os Djaaka estão agora em Saragoça representando o país, mas não foi obra da Casa de Cultura. Nós mesmo já estivemos em muitos cantos do mundo elevando o nome de Moçambique por esforço próprio. A Casa de Cultura tem que pensar em estratégias mais actuantes. Talentos é o que temos demais na Beira, falta uma dinâmica por parte da direcção para que a Casa de Cultura volte a ser aquela instituição que ofereceu muita alegria ao público beirense”.

DROGA E ÁLCOOL

Maputo, Quarta-Feira, 13 de Agosto de 2008:: Notícias
Já o jovem músico Ângelo Sanfumo denunciou a existência de um paradoxo entre o tempo de existência da Casa de Cultura e o estágio actual das artes na cidade da Beira. Defende o facto explicando que “41 anos significar crescimento. Se assim fosse, teríamos um movimento artísticos invejável, mas está tudo estagnado. Os artistas têm poucas oportunidades, isto faz com que muitos fiquem frustados e, como consequência, temos muitos envolvem se em drogas e consume abusivo de álcool”.

Para evitar este triste cenário, Sanfumo é de opinião que haja muitos festivais e workshops para garantir que os artistas consigam progredir. Para além disso, deve, na sua opinião, haver parcerias que possam assegurar a promoção cultural e, por conseguinte, a ocupação dos artistas.

“Mas ao em vez disto, temos uma Casa de Cultura que está degradada, com uma sala de ballet que promove karaté. Não só contra a promoção do desporto, mas aquela é uma casa de cultura e não salão ou complexo de desportos. A direcção já disse que o estúdio dos Nyacha e Djaaka vai virar escritório do Clube Têxtil do Púnguè, isto é triste demais. Talento é o que temos demais na Beira, mas coisas como estas são frustantes. Não ajudam no desenvolvimento da cultura que todos os dias se fala”, desabafou.

Eduardo Sixpence

Sem comentários: