quarta-feira, 9 de abril de 2008

MOÇAMBIQUE JAZZ FESTIVAL:





Constelação para fazer história - Jimmy Dludlu, Moreira, Manhattans, Judith Sephuma, entre outros, fazem da Matola, no fim-de-semana, um pólo cultural


É o primeiro – de muitos que se pretendem – grande evento de jazz no país. O há algum tempo anunciado Moçambique Jazz Festival tem lugar sexta-feira e sábado na Matola, onde estará uma constelação de estrelas moçambicanas, sul-africanas e norte-americanas deste e de outros géneros musicais. Da América – via Cidade do Cabo, na África do Sul – vêm The Manhattans e Pieces of a Dream e do país vizinho Judith Sephuma e Freshlyground (agrupamento em que evolui o nosso compatriota e guitarrista Julinho), que se juntarão a Jimmy Dludlu, Moreira Chonguiça, Ottis, Stewart, Irinah e Salimo Mohamed, para além de outros artistas moçambicanos.

O Parque Municipal da Matola, há vários meses vedado para obras, será hospedeiro de um evento que se espera concorrido apesar de, reconhecidamente, os ingressos custarem acima da média para o mercado moçambicano do espectáculo. Os preços – mil meticais para um dia e 1500 para os dois do festival – é directamente proporcional aos custos de produção - “também altos” –, que incluem, para além do pagamento ao vasto leque de artistas, serviços como a segurança, que deverá ser garantida “até ao detalhe” tanto para as comitivas de músicos como para o público.


Aliás, a intenção clara da organização deste Festival é “fazer história” e levantar o nível de qualidade dos espectáculos no país. Para tal, a organização acolhe também “worskshops” com técnicos locais para transmitir algumas das experiências deste festival, com o intuito de criar mais “know-how” e especialização.

Mesmo assim, a Mcel, uma das partes promotoras do Moçambique Jazz Festival, fez questão de facilitar a aquisição dos ingressos, oferecendo um desconto de 50 por cento aos clientes que fizerem compras na sua loja sede, em Maputo.


O recinto para esta realização está a transformar-se, dadas as obras que ainda estão a ser feitas. Os organizadores garantem que a intervenção estará completa até à data do início da primeira grande realização cultural do ano no país. “Apesar das obras ainda decorrerem, garantimos que estará tudo pronto até sexta-feira, primeiro dia do festival”, apontou fonte da Mcel, uma das partes promotoras do Moçambique Jazz Festival.


O mega-evento é, numa fase experimental de cinco anos, uma espécie de réplica do Festival Internacional de Jazz da Cidade do Cabo, na África do Sul, cujos responsáveis se dizem dispostos a transmitir a Moçambique - dadas as potencialidades culturais, turísticas e económicas que apresenta – a sua experiência na promoção de realizações culturais desta envergadura.
O Moçambique Jazz Festival será anual movimentará simultaneamente em, dois palcos sempre no primeiro fim-de-semana de Abril, estrelas da música local e internacional. Algumas delas virão depois de terem actuado no Cabo, como é o caso, nesta edição, de Jimmy Dludlu, The Manhattans e Pieces of a Dream.

A meta dos promotores - a empresa sul-africana ESP Afrika, responsável pelo Festival Internacional de Jazz da Cidade do Cabo e as empresas moçambicanas Mcel e 9FM – é fazer com que, a médio prazo, o Moçambique Jazz Festival seja uma das referências do mundo. O da Cidade do Cabo é o quarto maior, superando alguns dos mais projectados, como o suíço de Montreaux.



DOIS PALCOS, 10 NOMES
O Moçambique Jazz Festival está estruturado nos moldes dos eventos similares promovidos internacionalmente, estando inspirado no Festival Internacional de Jazz da Cidade do Cabo, na África do Sul. Aliás, os organizadores deste que detém o estatuto de quarto melhor evento de jazz do mundo são parceiros de entidades moçambicanas na realização a que assistiremos no fim-de-semana.


O público terá, pela primeira vez no historial dos concertos musicais no país, a oportunidade de ver evoluírem simultaneamente vários artistas em dois palcos sem que para tal tenham que adquirir dois ingressos. “Cada ingresso dará direito a assistir à actuação dos artistas em dois palcos, po­dendo as pessoas escol­her em que momento estar num ou noutro ponto, dependendo dos seus gostos”, informou a nossa fonte. Assim, quando o gosto deter­minar o espectador pode optar por deixar um palco e seguir para o outro.


Sobre a possibilidade do som emitido de um palco não interferir no outro, o que preju­dicaria a evolução dos artistas, ficámos a saber que “está tudo acautelado”, pois as condições acústicas e a disposição dos palcos ponderou esse aspecto.




IRINAH A ABRIR...


Os palcos do festival são denominados Zambeze e Rovuma, sendo o primeiro dedicado às dez figuras de cartaz do evento e o segundo a jovens talentos, todos eles moçambicanos. O festival arranca às 19.00 horas (entrada do público a partir das 17.30), com a actuação da cantora Irinah, no palco Zambeze. Ela que é uma voz consagrada no nosso panorama musical tem, neste privilégio de abrir o Moçambique Jazz Festival, uma janela de opor­­tunidade para con­vencer moçambicanos e amantes do jazz de outras nacionalidades – que certamente estarão no nosso país por ocasião do evento – de que é uma voz com que contar neste género musical.


A diva sul-africana Judith Sephuma, que se popularizou através do disco “A Cry, a Dance, a Smile” e que já trouxe momentos memoráveis de música ao vivo ao nosso país, será a segunda a experimentar a sensação de um grande festival de jazz em Moçambique. Já palmilhou eventos de maior envergadura, pelo que dela se espera tudo o que sabe: cantar, encantar, apaixonar..., com os temas de “A Cry, a Dance, a Smile” e de “New Beginings”, o seu segundo disco.



O moçambicano Alípio Cruz, que preferiu identificar-se nas lides musicais pelo nome Otis (sem que isso signifique ser imitador de um dos seus ídolos de juventude e cantor norte-americano Ottis Redding), é o terceiro nome do palco Zambeze para sexta-feira. Irá trazer o seu crescimento e maturidade na execução do saxofone, ele que toca como pouquíssimos na sua esfera de influência: Moçambique, Portugal (onde reside), Espanha (onde é também muito querido).

Otis

Alípio Cruz, que se diz discípulo do organista e pianista sul-africano Abdullah Ibrahim (Dollar Brand), com quem já tocou, vem tocar numa das raras ocasiões no seu país nos últimos anos.
Jimmy Dludlu



JIMMY, O “HIGHLIGHT”
Os norte-americanos Pieces of a Dream são uma espécie de enigma do festival. Pouco populares entre nós, mas com uma música sugestiva e que promete agradar. Vêm do gospel (três dos seus integrantes trabalharam, ainda adolescentes, em grupos de gospel em Filadélfia, de onde são originários) e percorreram o R and B até serem tidos como um dos percursores do smooth jazz.


Os discos deste quarteto que integra baixista, baterista, teclista e saxofonista têm marcas de grandes ícones da música norte-americana, como é o Caso de Groover Washington Jr, que produziu-lhes os primeiros três. “Love’s Silhouette” e “Pillow Talk” são dois dos mais recentes e apreciados álbuns deste grupo que promete. De resto, o quarteto de Filadélfia será o único grupo a actuar nos dois dias do festival, devendo voltar a estar no palco “Zambeze” no sábado. Ainda para o dia de abertura do festival está marcada a actuação de Jimmy Dludlu, que no fim-de-semana tocou no festival do Cabo.


O guitarrista nascido no Chamanculo vai partilhar com os espectadores um momento especial: o de divulgação do seu mais recente disco, “Portrait”. Mais especial ainda será a ocasião para aqueles que não quererão perder Jimmy em palco, pois para além de apresentar coisas novas tocará alguns dos seus sucessos reunidos em álbuns anteriores, nomeadamente “Echoes From The Past”, “Essence of Rhythm”, “Afrocentric” e “Corners of My Soul”.


O BÓNUS: ARTISTAS EMERGENTES À PROCURA DE UM LUGAR AO SOL
O primeiro Moçambique Jazz Festival terá também espaço para jovens artistas de Maputo. A ideia é aproveitar a ocasião para internacionalizar a música moçambicana feita por artistas já consagrados assim como jovens ainda à procura de um lugar ao sol.
Tal como no programa principal, do palco Rovuma se poderá ouvir sons de várias tendências musicais, incluindo... jazz. É assim que foram escolhidos para os dois dias do festival os grupos Kakana (cuja cantora principal é Yolanda, vencedora de dois prémios no Top Ngoma), Timbila Muzimba, Majeschoral, Projecto Alpha, Satellite Jazz Project, Lizah James, Timbileiros de Zavala, Simba e Paulo Macamo.
Como se pode depreender, a maioria dos jovens artistas do festival não se dedica ao jazz. Contudo, porque o Moçambique Jazz Festival quer celebrar a música, eles foram também convidados.


Mais do que este propósito, deseja-se igualmente fazer da ocasião uma oportunidade para internacionalizar a música moçambicana. Aliás, como afirmara no lançamento da realização o produtor Rashid Lombard, o pensador do festival da Cidade do Cabo e co-promotor do que a Matola acolhe, “pensamos que se pode aqui dar mais visibilidade à música moçambicana. Para além dos artistas consagrados, como é o caso de Salimo Mohamed, que eu sempre disse tem o mesmo potencial de um Ray Phiri, os mais jovens podem ter no Moçambique Jazz Festival uma oportunidade de se mostrar ao mundo, porque este festival serve também para isso”.

Estes artistas não querem deixar crédito em mãos alheias e prometem rivalizar com os artistas que vêm de fora. Conscientes do desafio e da responsabilidade de actuar no Festival, têm vindo a ensaiar incansavelmente nas últimas semanas, afinando instrumentos, vozes e as coreografias de palco. Lizha James, em particular, já disse que vai ultrapassar a sua memorável actuação no Cine África por ocasião do Festival Novidades de Verão da Mcel, no passado mês de Novembro.

THE MANHATTANS


Os organizadores do Moçambique Jazz Festival querem fazer da realização um momento em que o jazz converge com outras tendências musicais nacionais e internacional. É por isso que o festival inclui nomes que, à partida, nada têm a ver com o jazz. Se bem que, ao ouvi-los tocar e cantar, se pode encontrar algo parecido com o género que o festival consagra. São os casos dos nossos Salimo Mohamed e Stewart bem como o dos nossos principais convidados, os norte-americanos The Manhattans, que actuaram fim-de-semana na Cidade do Cabo.





Salimo Mohamad


Salimo será o primeiro a cantar no sábado, num espectáculo que começa às 15.00 horas. Muita expectativa ele cria sempre que anunciado para concertos, pois, para ele – e para quem o vê em palco –, cada ocasião é uma ocasião. Na sexta-feira actuou com o irmão Alexandre Mazuze e mesmo assim nada faz adivinhar exactamente o quê levará para o festival.
Da Cidade do Cabo vem um ilustre saxofonista, moçambicano, lá baseado há alguns anos. Chama-se Moreira William Chonguiça e, tal como Jimmy Dludlu, vive uma época especial na carreira. Para além de vários concertos na África do Sul tem sido muito solicitado nomeadamente na Europa, onde acabou de fazer uma série de apresentações.


Moreira ainda desfruta do sucesso que ainda faz o disco “The Journey”, que gravou em 2005 no âmbito do seu “Moreira Project” e lhe valeu o prémio de melhor produtor (em parceria com o seu amigo e colega Frank Fransman) nos SAMA Awards, os maiores prémios da indústria musical sul-africana.

Moreira Chonguica


Stewart Sukuma


A seguir a Chonguiça actuará Stewart, artista que acaba de lançar o seu segundo disco de originais, “Nkuvu”, que contém o seu sucesso do momento, “Felismina”. O versátil cantor, que em nossa opinião tem neste disco a sua melhor obra para a música moçambicana, pode ser considerado uma das principais atracções do festival. Porque acaba de produzir um muito bom álbum, mas que, paradoxalmente, carece de divulgação. A segunda parte do espectáculo é preenchida pelos Pieces of a Dream, Freshlyground, que se consagrou com o êxito “Doo Be Doo”, e The Manhattans.



Freshlyground da Africa do Sul


Freshlyground é a banda sul-africana onde toca o moçambicano Julinho, exímio guitarrista que decidiu há poucos anos dar outro rumo à sua carreira. A encerrar o Moçambique Jazz Festival estará a banda norte-americana The Manhattans, que arrastou multidões – por via de espectáculos e milhões de discos vendidos – nos anos 1970 e 80. Ainda que caiba num festival destes, a banda não é propriamente um conjunto de jazz. A soul music é o seu forte, tendo como canções-referência “Kiss and Say Goodbye” e “Shining Star”, que para além de constar dos seus álbuns fazem parte de várias compilações de sucessos do soul e R and B. Na Matola o grupo de Nova Jersey irá apostar em temas do seu mais recente CD, “Reachin’ For the Sky”, que reúne os clássicos que foi criando desde que iniciou a carreira em 1966.

Maputo, Quarta-Feira, 2 de Abril de 2008:: Notícias

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