quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Massukos na Europa...Novamente!

O AGRUPAMENTO musical Massukos volta este Junho ao “velho continente” para quatro concertos nas cidades de Londres, Liverpool, Glasgow e Glastonbury, na Grã-Bretanha, numa digressão que promete reeditar o sucesso alcançado pela banda em 2007. Baptizado como o melhor da história dos Massukos, o ano passado foi marcado pelo lançamento do seu segundo álbum – Bumping - é pelo despertar que trouxe para uma realidade que motiva e desafia os sonhos do grupo:

Definitivamente, para os Massukos, 2006 é um ano para esquecer. Não só devido à morte do jovem percurssionista Américo Miguel, em Abril, vítima de malária, como também devido às fortes turbulências que marcaram a vida do grupo. O líder da banda, Feliciano dos Santos (“Santos”), recorda esses momentos com uma angústria contagiante.

“Foram cerca de oito meses de problemas mas, depois qure sentamos e conversamos, tudo foi superado. São coisas que acontecem com qualquer grupo que cresce, como o nosso. Sempre acreditamos que aquele não era o fim. E não podia ser porque o nosso fim não pode ser programado por forças externas… O que me entristece é que ao invés de ajudar a resolver o problema, as pessoas metiam mais achas à fogueira…”, lamenta Santos.

Uma das missões que a nossa reportagem levava na sua recente deslocação à província do Niassa, era saber algo sobre os Massukos, banda que depois do sucesso que fez com o seu primeiro álbum, o Kuimba kwa Massuko, que vendeu mais de 80 mil cópias, praticamente desapareceu dos palcos, chegando a alimentar rumores sobre a sua dissolução.

Procuramos o líder do grupo em Lichinga, numa manhã chuvosa de quinta-feira, na sede da Organização Não Governamental ESTAMOS, ela também dirigida por si. Depois de nos comunicar sobre a ausência de Santos, a simpática jovem que nos atendeu, pediu-nos o contacto telefónico e sossegou-nos:
“ O senhor Santos regressa esta tarde de Maputo. Assim que chegar ao escritório, há-de ligar-vos”, garantiu. Fornecemos o contacto telefónico e voltamos a entregar-nos à chuva.
Bem dito, melhor feito: Cerca das 13:00 horas daquela quinta-feira, Santos ligou-nos para confirmar que às 14:30 horas estaria disponível para a conversa por solicitada.
“Agora, mais do que nunca, estamos a trabalhar. Digo mais do que nunca porque houve um tempo em que não ensaiávamos, ou pelo menos ensaiávamos muito pouco. Só fazíamos actuações. Também havia o problema dos nossos compromissos profissionais. Agora decidimos que é preciso trabalhar com afinco, para podermos responder com responsabilidade aos compromissos muito sérios que temos para 2008…”, disse.
De acordo com o líder da banda, os Massukos chegam a Londres a 19 de Junho próximo, devendo actuar no dia 21, no África Oye Festival de Liverpool, para no dia seguinte tomarem parte no África Oye Festival de Glasgow. O ponto mais alto da digressão será no dia 28, com a acutação no Glastonbury Festival, uma das maiores festas de música internacional que marca o Verão na Inglaterra. A última actuação será a 12 de Julho no Croydon Summer Festival, na cidade de Londres.

“ Também estamos a trabalhar na perspectiva de aproveitarmos a nossa presença na Europa para gravarmos um disco, o que vai depender da disponibilidade de tempo. Acontece que quatro dos oito membros da banda são estudantes, sendo por isso que a saída foi agendada para Junho / Julho, para aproveitar a época de férias escolares. Além dos quatro concertos já confirmados, vamos também participar noutros eventos em escolas e outras instituições no âmbito da nossa intervenção social…” explica Santos para quem tuda esta agenda justifica a preocupação que há de afinar o grupo ao pormenor.

“ Não podemos dormir na sombra da bananeira!”, alerta.

ACERTAMOS O 2007 EM CHEIO!
O primeiro sinal de sucesso do grupo em 2007 foi o lançamento do álbum Bumping , em Abril, com apoio da organização Não Governamental WaterAid, numa cerimónia honrada pela presença do Presidente da República, Armando Guebuza. O disco comporta onze temas, alguns dos quais recriados para corresponder.

às exigências da editora que queria que o disco tivesse sons acústicos para poder ter mercado na Europa, onde foi lançado em Julho durante a digressão do grupo pelo “velho continente”.
Descrito no site oficial do grupo (www.massukos.org ) como “um álbum sedutivo” que oferece uma combinação única de sons tradicionais moçambicanos, o Bumping foi dedicado ao percurssionista Américo Miguel falecido em Abril de 2006 vítima de malária.

“ A nossa digressão pela Inglaterra, em 2007, percebemos que, afinal, a música afinal dá dinheiro. É um negócio que pode ser rentável para quem trabalha nela com responsabilidade. É uma indústria séria! Os cachets que se pagam nalgumas realidades são estimulantes! O que se exige é trabalho para corresponder às exigêdncias do mercado… Veja, por exemplo, que só os royalities que nos pagam por passar a nossa música nas rádios europeias, superamos o dinheiro que normalmente é pago aqui no país a um artista pela edição de um disco…” explica.
Segundo ele, está na hora se as rádios, televisões e toda a comunicação social moçambicana em geral, colocar a mão na consciência e despertar para o importante papel que o seu trabalho jogar no desenvolvimento da industria musical no país.
“Repare que em 2007 estivemos três semanas na parada europeia de música internacional, o “European World Music Charts” - e na da RDP- África onde ficamos em primeiro lugar durante trêssemanas consecutivas, e ainda integramos o “Top of the World album”, mas, internamente, nem sequer entramos no Ngoma…”, disse.

Em Dezembro, após regresso ao país, os Massukos ofereceram um concerto a cerca de 50 crianças internadas no Hospital de Lichinga, evento sucedido por várias outras actividades de carácter social que incluíram um espectáculo na cadeia civil da capital provincial do Niassa.
“ Não tenho qualquer dúvida que 2007 foi um bom ano para o grupo. Foi um dos melhores anos de toda a história do grupo em termos de projecção e ganhos.Ganhos para nós e ganhos para o país. Este (2008) é um ano par e é preciso capitalizar isso”, desafia.

Feliciano dos Santos MÚSICA MOCAMBICANA:
DISCUTIR QUALIDADE E NÃO IDADES
Feliciano dos Santos tem as suas ideias em relação às discussões que marcam a actualidade no contexto da música moçambicana.

“Eu não sou muito por aquela conversa de de velha guarda e nova geração. Música não é como desporto. No desporto, a partir de determinada idade o indivíduo arruma as botas e retira-se do activo mas um músico nunca se retira. Ele continua a produzir música por mais velho que esteja. E temos muitos exemplos disso pelo mundo fora...”.

De repente, Santos chamou o exemplo do seu grupo que, segundo ele, muita gente a trata carinhosamente como “a jovem banda do Niassa”.

“Se fores a reparar, nós não somos tão jovens como isso. Acontece que fazemos música que acompanha os momentos de vida. É por isso que defendo que a discussão que se deve fazer é em termos de qualidade. Discutir quem produz melhor qualidade…”, sugere.

Segundo Santos, os Massukos têm optado por declinar alguns convites que lhessão feitos para concertos nas diversas cidades do país, embora normalmente actuem nos distritos e localidades ao nível da província do Niassa, no quadro das campanhas de sensibilização contra o HIV/SIDA, água e saneamento.

“Temos uma responsabilidade social pois estamos ligados às comunidades e é através da música que fazemos a nossa parte no esforço colectivo de educação das comunidades. O que não temos feito é sair da província porque os convites que nos chegam não têm sido claros e nós exigimos um tratamento digno à altura da dimensão do grupo. Mesmo nas digressões para o estrangeiro se as coisas não se apresentam claras não vamos”, explica.

Segundo defende, quando o tratamento é responsável a actuação do grupo também é responsável, razão por que, na sua óptica, enquanto as coisas continuarem mal como estão, o melhor para os Massukos será ficar no seu canto, e trabalhar para mercados que satisfaçam o seu ethos.

“Já vimos asneiras que bastam!”, remata.

Actualmente, segundo a nossa fonte, os interesses do grupo são representados por uma empresa sediada em Londres, cabendo a ela fazer todos os contactos relacionados com a participação da banda em concertos ou outras realizações.

“ Precisamos ser valorizados. Veja, por exemplo, em 2007 quisemos trabalhar com uma editora em Maputo para a edição do nosso disco. Disseram-nos que só nos podiam pagar 50 mil Meticais. Dissemos claramente que não porque só para gravarmos o álbum foram gastos por aí sete mil Libras. Não aceitamos. E essa é uma das razões por que o Bumping só é vendido aqui no Niassa, e directamente por nós…”, disse.

TUDO PARA CONQUISTAR PRÓXIMO VERÃO EUROPEU
O compartimento onde os Massukos realizam os seus ensaios é, na verdade, cada vez mais pequeno para a dimensão do trabalho que o grupo precisa fazer para corresponder às exigências do exigente mercado europeu com o qual se comprometeram.

A convite do seu timoneiro a banda abriu as portas à nossa reportagem para assistir ao ensaio que naquela quinta-feira acabou começando um pouco mais tarde devido à chuva que não facilitou a deslocação dos “artistas”.

Na sala, sete almas: Seis homens e uma mulher, a Tânia, que com a Mercy faz a dupla de coristas recentemente integradas no grupo. O exercício anda a volta da busca dos sons que melhor se ajustem ao desígnio colectivo de “electrizar” os fãs.

Entre as velhas e as novas criações do grupo, discute-se, em ambiente de respeito pela ideia do outro, o que melhor serve para oferecer ao público na digressão do próximo verão europeu.

De repente, a nossa reportagem sente-se envolvida no ambiente, que é de festa, porque a música começava a ser destilado a sério, como se do espectáculo ao vivo se tratasse.

“ Gostaríamos de oferecer um espectáculo em Maputo, antes de partirmos para Londres, mas só com músicas novas. A menos que a plateia nos peça um ou outro tema antigo…” e lá ficou um desejo que nos soou à promessa.

SÃO E SALVOS NO PAÍS REAL…

A música do conjunto Massukos preserva o essencial dos ritmos tradicionais da província do Niassa. A primeira apresentação pública do grupo deu-se em 1994, coincidindo com o início do processo de paz em Moçambique, depois de cerca de 16 anos de guerra civil.
Além da língua portuguesa, os Massukos interpretam as suas músicas nas três línguas mais faladas na região norte do país, nomeadamente o Yao, Nyanga e Makua.

A sua reputacão cresceu rapidamente e a sua música cedo granjeou simpatia de audiências internacionais. Em 1998 realizaram a sua primeira digressão para o exterior, para participar na Expo 98, em Lisboa, Portugal, tendo gravado o seu primeiro disco, o Kuimba Ka Massuko, em 2001, álbum que alcançou um espectacular volume de vendas ao nível interno, tendo sido eleito melhor álbum de 2002 e ganho um disco de Ouro em 2003.

A partir daí seguiu-se uma era de sucesso e várias digressões internacionais, na Europa, América e Ásia, destacando-se, de entreasprimeiras, a participação do grupo, em 2004 no Japão, no terceiro fórum mundial da água.
O lider da banda teve ainda a oportunidade de trocar impressões sobre a vida em Moçambique, com figuras como o antigo Ministro britânico das Finanças e actual Primeiro Ministro, Gordon Brown e a estrela pop Bob Geldof . Também apresentou uma petição ao então Primeiro Ministro britânico, Tony Blair, em nome da ONG WaterAid, solicitando o reforço dos objectivos de desenvolvimento do milénio na área de água e saneamento.



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