segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Gwaza Muthini com Marrabenta e Himpopotamus



Não podíamos ficar indiferentes à informação. Abandonamos temporariamente o local onde se faziam os discursos políticos e as danças, e fomos atrás do anunciado animal abatido, para vê-lo, mesmo morto e fotografá-lo. Mas o que nós não sabíamos é que a notícia nos tinha chegado bastante tarde. A única coisa que podemos ver foi a cabeça, já na derradeira fase de retalhamento e, como se isso fosse pouco, já em estado de putrefação.
Aproximamo-nos, mesmo assim, para ver o trofeu a ser despedaçado. Era uma cabeça imensa, o que nos deixou perceber logo que se tratava de um animal de grande porte. Perguntamos pelos caçadores que haviam alvejado o animal, mas não se encontravam por perto. Queríamos saber sobre o local onde o hipopótamo fora abatido, as circunstâncias em que isso se deu e à que horas. Alguém nos respondeu que o abate acontecera na noite anterior, na zona de Bobole, a cerca de 14 quilómetros da sede distrital. “Eram dois. O outro, apesar de ter sido alvejado, conseguiu escapar do nosso controlo”.
É uma história que aparentemente estava a ser esquecida aos poucos e poucos, porém foi agora renovada nas mentes, lembrando histórias e mitos. Histórias e mitos pois, alguns diziam que por alturas do Gwaza Muthini faziam-se preces junto ao rio, convidando o animal que se entregava voluntariamente para ser abatido e a carne oferecida a todos, que a comiam também como uma forma de revigorar as energias. Outros desmentiam isso, dizendo que, por aquelas alturas o animal, por ser grande, era caçado, utilizando-se várias formas, incluindo o içar de um pano vermelho que atraia o bicho, puxando-o para terra, onde facilmente era abatido com armas de caça. “A carne não era para revigorar energia nenhuma, mas apenas para servir de alimentação normal. Como se sabe, o hipopótamo é todo ele uyma maça de carne e, sendo assim, alimentava quase toda a gente que acorria ao Gwaza Muthini.
Pela história ou pelo mito, o animal foi abatido. Um pouco longe, porém, de Marrcuene e a sua carne foi trazida para a vila e distribuída por quem a quis. Renovando desse modo, tempos passados. Recentemente ou há muito.
Gwaza Muthini já não poderá ser o mesmo. Degenerou com o tempo. Perdeu o vigor desde o momento em que muitos quiseram se aproveitar dele para fazer dinheiro, ou para marcar encontros suspeitos. Não passam muitos anos em que Marracuene, durante as comemorações do “Gwaza”, tornou-se arena de um acidente espectacular, que ceifou muitas vidas que perfilavam ao longo da Estrada Nacional Número Um. Algumas vozes diziam que esse acidente era a ira dos espíritos, revoltados com o que estava a acontecer. Era necessário, por isso mesmo, corrigir alguns procedimentos, como o facto de montar barracas e praticar iniquidade, num reduto sagrado como aquele, em que muitos filhos de Moçambique perderam as suas vidas em defesa da nossa pátria.
A partir desse acidente o Gwaza Muthini começou a perder a sua essência. Vai-se para lá todos os anos e no fim o balanço é de que foi mais uma efeméride. Mas isso não tem nada a ver com a morte de Massinguitane, porque antes dela morreu muita gente defendendo um marco bastante importante da vida dos moçambicanos, sobretudo quando viramos a cabeça e olhamos para trás, para encontrar o sangue derramado na grande batalha de Marracuene.

COM MARRABENTA PARA OS MORTOS

O Festival de Marrabenta já havia começado no dia anterior no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Levando ao palco os respeitáveis Dilon Djingi, Xidiminguane, Alberto Mutxeka, Alberto Mhula e os Galtones. Que brilharam como verdadeiras estrelas que são. Estendeu-se depois para Marracuene e Matalana.
Estão de parabéns os mentores do evento – a Logaritmo.
Um dos propósitos do Festival de Marrabenta, segundo David Macuacua (um dos responsáveis do grupo de organização), é dar continuidade e vida a este ritmo que a todos diz respeito. “Este ano juntamos um certo grupo de artistas e cremos que nos anos seguintes faremos o melhor para incluir mais artistas, pois na arte todos têm espaço”.
Há muito que se possa dizer sobre a marrabenta. E os organizadores pretendem transmitir às gerações futuras a história desta vertente cultural. “Para esta edição vamos nos cingir apenas aos concertos. Mas nos próximos anos vamos organizar workshops para que haja reflexão e troca de ideias em torno deste ritmo”.
É um passo positivo este dado pela Logaritmo com vista a valorização da nossa cultura. E eles pensam que se houvesse condições para que ele acontecesse duas ou três vezes ao ano, ficávamos a ganhar todos. Aliás, este festival é visto como uma alavanca para o ressuscitar das diversas manifestações de canto e dança, hoje relegadas para o segundo plano.
Estão – uma vez mais – de parabéns aqueles que se esmeraram para a realização do 1º Festival de Marrabenta.

Bem Hajam!

ALEXANDRE CHAÚQUE
In Jornal Noticias (11/2/08)

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