segunda-feira, 29 de março de 2010

Não tenho problemas com os músicos moçambicanos” - Declara Julinho, proprietário da Big Brother Entertainment


É muito difícil definir qual foi o melhor espectáculo entre os dois últimos realizados pela Big Brother Entertainment, designadamente do angolano Bonga e da cabo-verdiana Lura, até porque cada um deles arrastou públicos distintos e cada um com suas próprias preferências. Tanto em Bonga quanto em Lura, há melodias e canções muito fortes que lembram momentos e emoções específicos. Em entrevista ao nosso jornal, Julinho, proprietário da Big Brother Entertainment, falou-nos do seu esforço em responder à expectativa de um público cada vez mais exigente e com os gostos cada vez mais democratizados.

Depois do sucesso que a Big Brother Entertainment alcançou ao trazer novamente o angolano Bonga para o palco do Big Brother e a cabo-verdiana Lura para o Centro Cultural Universitário, que surpresas o Ju-linho guarda, tendo em conta este seu papel de promover o entretenimento?
Estes dois espectáculos que realizámos foram muito grandes e o Big Brother não vai parar por aí. Temos mais concertos a fazer a fim de promovermos a música moçambicana e estrangeira. O nosso lema aqui é que trabalhamos com músicos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPs) e moçambicanos. Por exemplo, na semana que vem temos o lançamento do internacional moçambicano Costa Neto e ele vai ser acompanhado por artistas moçambicanos.
Como é a sua relação com os músicos moçambicanos; não provoca alguma inveja isto de andar a apostar em importantes músicos estrangeiros, trazendo-os para tocarem aqui em Moçambique?
Não tenho problema nenhum com os músicos moçambicanos. Todos os concertos feitos com artistas estrangeiros são sempre acompanhados por músicos moçambicanos, pois o princípio é que o estrangeiro é o convidado dos moçambicanos.

Há vários concertos que realizei no âmbito da parceria com o Coconuts, onde sempre entram estrangeiros e três bandas nacionais. Penso que a produção é muito mais moçambicana do que estrangeira. Não há nenhum concerto que eu faça e esqueça os moçambicanos, eles estão sempre presentes. Fora aqueles espectáculos que são de gala e que a exigência do público é de ver apenas aquele artista convidado do estrangeiro, pois aqui temos que respeitar e fazer as coisas como tal. Quando é um concerto mais livre, eu ponho os moçambica-nos a tocarem sem problema nenhum.

E como é que são os cachés? O que paga aos estrangeiros é o mesmo que paga aos moçambicanos nos concertos?
De jeito nenhum. Não pode ser pago um mesmo caché porque é como um moçambicano quando sai daqui para tocar no exterior. Faz as suas exigências em função de vários aspectos, como o facto de deixar a sua família, o seu país. Então tem que ter um vencimento diferente. É como um trabalhador que mandamos para os Estados Unidos da América. Não tem o mesmo salário. Tem um certo tipo de regalias. Os estrangeiros que vêm tocar em Moçambique não podem ter o mesmo tipo de regalias que os moçambicanos. É preciso ter em conta, também, que os cantores no mundo são diferentes. Temos cantores com um certo estatuto, como um Bonga e uma Lura, que são de grande envergadura e que eu não os posso comparar, por exemplo, com um Mega Júnior ou com os Sweat Boys que também estão a trabalhar comigo, pois eles ainda estão a começar a carreira. É preciso que eles alcancem certos patamares para que possam vingar e se equiparar aos internacionais…

Refere-se à internacionalidade do artista como fonte de um maior estatuto…
Foi o que eu já disse. Os cantores têm vários níveis. Em Angola, por exemplo, temos músicos do nível de um Mega Júnior ou dos Sweat Boys, como os casos de um Rui da Cunha, um Heavy C, que estão ainda a aparecer e ainda não têm aquele peso como um Bonga ou uma Lura.
Mas, já agora, quem é o Julinho, o tal que dirige a Big Brother Entertainment? E quais são exactamente os seus projectos?
Eu sou uma pessoa que se interessa muito pela cultura e pelo entretenimento, sobretudo no que diz respeito à promoção de espectáculos musicais. Uma vida tem que ser uma história. Tudo começou do zero, tínhamos um quintal onde nos encontrávamos entre amigos para nos divertirmos, dançando e ouvindo música. O quintal pertencia ao meu avô. A partir daí fomos criando amizades. Um dia decidimos dar uma festa maior e a partir daí a ideia ficou, tendo ganho o nome de Big Brother. Estamos assim há sensivelmente oito anos, a lutar no sentido de pôr a cidade com um pouco mais de movimentação cultural. Antes da Big Brother, nós chamávamos isto de Grandes Amigos. Mais tarde evoluíu, a minha esposa ajudou.

As instalações da Big Brother sofreram algumas reformas, tendo agora uma aparência ainda mais atractiva. O que envolveram essas reformas?
Temos estado a trabalhar ao longo destes oito anos com a intenção de oferecer coisas bonitas para o nosso público, pois não basta apenas ganharmos dinheiro sem olhar para as condições em que o nosso público se entretém.
Estamos a tentar pôr o público à vontade e a divertir-se num ambiente minimamente moderno. O cliente farta-se quando entra sempre num local e encontra a mesma parede, a mesma cor. Temos que criar no sentido de oferecer coisas novas ao público, assim como aos próprios artistas.
Quando realiza um espectáculo mal sucedido, a quem você atribui a culpa?
Não posso atribuír a culpa a ninguém. É azar ou falta de sorte porque o mundo do entretenimento tem muitas surpresas. Posso realizar um concerto hoje que sai bem, mas amanhã não ter lucro nenhum. Falando a verdade, o entretenimento é uma enorme dor de cabeça. Mas é o que a gente gosta, embora haja, como em todas as actividades, alguns contratempos.

Acha que o Estado devia apoiar mais a produção de artes e espectáculos, tendo em conta que é um importante subsector da cultura?
Penso que sim, que o Estado devia apoiar mais o trabalho que tem sido desenvolvido pelos produtores e promotores de artes e espectáculos. Mas acho que nós, que trabalhamos neste sector, também temos que lutar por isso por forma a mostrarmos ao próprio Estado que temos um corpo completo para alcançar algo. É difícil, porque há produtores que não são sérios, o que prejudica os que de facto têm vontade de trabalhar. O governo tem que apoiar.

Escrito por Armando Nenane

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