segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Entrevista com Seth Suaze.


Há forte uma relação entre aquilo que é a sua execução musical com a acústica. Qual é a génese disso e como se integra na sua vida?
- A sua pergunta divide-se em duas. Quanto ao facto de aparecer agora mais a solo do que com acompanhamento é que começou a faltar tempo. Às vezes temos que pôr o dedo na ferida e dizer que é muito difícil viver de música entre nós.

Há quem consiga, eu não sei porque meios, mas a verdade é que acho ser muito difícil viver de música. E a prova disso é que, por exemplo, de Janeiro para cá ouviu-se falar muito pouco de espectáculos ao vivo e questiona-se de que vivem esses músicos. Alguns conseguem adaptar-se e tocar estilos exigidos hoje em dia, mas outros não, e aí fica-se nessa incógnita. E chega um momento em que percebemos que é preciso tocar só pelo talento que há em nós e que precisa ser libertado. Mas é preciso também olhar para a vida que não nos perdoa o tempo que passa a brincarmos às violas e deixamos de ir a escola.
É também a questão do emprego, que joga um papel fundamental no nosso dia-a-dia e falta-nos tempo para ensaiar com colegas do grupo. E sem nos apercebermos, vamos seguindo carreiras a solo. É assim que apareço muitas vezes a tocar sozinho. Por exemplo, o meu último concerto com banda foi em Novembro de 2007 no Café Gil Vicente.

- E quanto à guitarra acústica?- É porque as minhas influências partem daí e as pessoas que admiro na nossa arena musical identificam-se em palco também com a guitarra acústica, estou a falar de João Cabaço, Hortêncio Langa e ou Arão Litsure. A coincidir, os meus irmãos de quem aprendo os primeiros acordes também tocavam guitarra acústica.
O Landocas Ruth também tocava guitarra acústica. Todo o meu contexto é de guitarra acústica, e, sobretudo, porque é aquela que podia se tocar na igreja sem recurso a meios electrónicos. Este é um instrumento que pode se tocar sozinho ou na rua com amigos sem amplificador. E agora me sinto bem tocando sozinho do que acompanhado porque de tanto estar só em casa, por não ter tempo de me juntar aos outros, acabei criando uma forma própria de tocar a guitarra.
- Tens uma forma peculiar de tocar a guitarra acústica, uma destreza tal...
- Talvez seja um pouco disso que as pessoas gostam. Tento trazer à guitarra acústica aquilo que seriam os acordes de quem estaria a tocar ritmo, de um segundo que estaria a tocar solo, e um terceiro que é o baixo. Tento fazer confluir os três momentos num único, o que quer dizer que quando toco há percepção de que parecem duas ou três pessoas a tocarem, mas é só uma. Mas isso não foi dizer que quero tocar assim, foi mais para tentar suprir dificuldades, sobretudo de falta de tempo, e nessa diversidade acabei assimilando essa forma de tocar.- Mas há a ideia de pesquisa no acústico para trazer os três momentos, de rejeitar o supérfluo e procurar a perfeição.
É a ideia de auto-superação.- É! Mas também ouvia muitos músicos cubanos, espanhóis e mexicanos, a exemplo de Paco de Lucia, que tocam guitarra acústica. Por outro lado, os primeiros discos gravados aqui, que são exemplos de grande sucesso e que são a minha grande inspiração, como “Amanhecer”, usavam instrumentos fundamentalmente acústicos. Há que ouvir essa música antiga sem resistir à audição de outras coisas novas e procurar cruzá-las.

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