terça-feira, 20 de maio de 2008

Didácia e Júlia Duarte já se impõem na Beira


VOZES FEMININAS DO “CHIVEVE”:
SABIA-SE que os falecidos músicos da Beira, David Mazembe, Taz, Beirão e Inácio de Sousa, os cantores Romualdo, Madala, Jorge Mamad, Gil Pinto, João Suto, Stima lançariam sementes que, mais tarde ou mais cedo, iriam brotar. Hoje, o “Chiveve” é um “caldeirão” que se pode orgulhar ao testemunhar o nascimento de uma legião de novos talentos da música moderna e tradicional.

Neste momento esses jovens músicos estão cada vez mais nas vistas, e tem dado cartas por este país. São os casos de Djei, Constâncio, Sslowli, Carlos de Lina, “os inocentes”, Djakas, Nhacha, Mussodji, Júlia Duarte e muito recentemente o “fenómeno” Didácia que surgiu inesperadamente com o “Ndhaneta”, sucesso de rádios, televisões e pistas de dança do país.
Há dias, parte destes nomes da Beira estive na capital do país, para apresentar as suas obras mais recentes.

A nossa Reportagem entrevistou duas vozes femininas, oportunidade que serviu para sabermos um pouco mais acerca das suas carreiras e sobre o que eles pensam da música moçambicana no geral.
Didácia, conta que entrou no mundo da música, há pouco tempo. Conta apenas com cinco anos de carreira, mas foi graças ao “Ndhaneta” que fê-la sair, de súbito do anonimato. Hoje , esta jovem é actualmente um nome incontornavel no panorama musical da zona centro e não só.
Didácia explica que a sua carreira tem génese na Igreja Católica Romana, onde ela participava em corais juvenis.

Na altura, formar-se um grupo musical do bairro, denominado “Diesel”, apostado em ritmo “afro” e passada. Como sempre acontece com as pequenas bandas de garagem, esta acabou dissolvida, cada um tomou o seu rumo.
Mais tarde, tudo reiniciou quando Didácia se cruzou com o jovem produtor Sslowli( hoje um produtor de referencia nos jovens), que lhe gravou alguns temas seus.
Parte dessas músicas incluindo “Ndhaneta” fizeram parte de uma colectânea dedicada aos jovens talentos da Beira.


O SUCESSO “NDHANETA”
Questionamos o significado de “Ndhaneta”, e a entrevistada diz que ficou surpreendida com o sucesso, pois, a reacção do público foi rápida.
“Ndhaneta” significa estou farta. È o desabafo de uma mulher cansada de maus tratos por parte do seu parceiro. Esta música fala de alguém que já não suporta mais o clima de humilhação. São coisas que infelizmente acontecem em muitas famílias do nosso país”, explica.
Prossegue, “Muitos homens formam lares e não prestam a devida atenção a sua família. Esses lares ficam destruídos por vezes por bebedeira que muitas vezes acaba em violência doméstica”.
Muitas vezes sou abordada na rua por senhoras adultas que dizem, “Didácia você cantou um facto verídico. Isso acontece na minha casa. Algumas vezes quando quero chamar atenção ao meu marido, ponho a tocar a sua música e ele fica a ...”

NOVO ALBUM “MISSERU”
A cantora Didácia tem já nas mãos o seu primeiro álbum, que reúne todos os temas produzindo ao longo dos cinco anos de carreira. O álbum chama-se “Misseru” que significa problemas, numa tradução livre de sena para o português.
Com oito temas, este disco é editado pela Vidisco.
Com oito temas este CD está na mesma linha de abordar os problemas sociais dos moçambicanos e dos beirenses em particular.

Neste momento, paira no foro do seu íntimo alguma preocupação, pois, não sabe de como este último será recebido junto dos seus admiradores, embora Didácia esteja seguro numa coisa: a qualidade do trabalho final, produzido por Sslowli.
“Eu e meu produtor entregamo-nos de corpo e alma nesta obra”, assegura.
“Durante o trabalho de estúdios trocamos várias ideias e procurámos fazer tudo com o maior rigor exigido numa obra que se preze”.

Nessa gravação, nota de particular interesse vai para a inclusão do tema “Ndhaneta”.
Questionado sobre o titulo, a fonte explica que “estamos numa sociedade em que se vivem muitos problemas, que a nível familiar, social, laboral etc”.
Sobre o repertório, que compõe este “Masseru” ela ponta títulos como “Ndinabwera”, “Fungulani massu”, “Já não dá”, “Ti Amo”, “Wataica” e “Volta pra mim”.

LETRAS SEM CONTEÚDOS
Aliado a isso, a artista aponta para a degradação dos conteúdos, sobre as mensagens difundidas nas músicas cantadas particularmente pelos jovens.
“As letras e mensagens são insultuosas, isso faz com que alguns adultos se sintam agredidos moralmente”, observa.
“è preciso cantar como os nossos “mais-velhos” com temática educativa, que ensinam a sociedade, o lar, a familiar etc.

Ela acha que deveria haver mais patrocinadores a apostarem em talentos que prometem, particularmente àqueles que apostam em mensagens positivas”.

JULIA DUARTE: PRODUTO DE “FAMA SHOW”
JÚLIA Duarte não é propriamente desconhecida por grande parte do público. Ela esteve durante dois meses na Academia do Fama Show em Maputo em representação da província de Manica. Embora não tenha saído de lá com qualquer prémio, conseguiu valiosas noções básicas de música.
Quando regressou à Chimoio, sua terra, resolveu dar prosseguimento ao seu sonho de infância.
Na sua estada em Maputo, Júlia Duarte, aceitou uma entrevista com o “Notícias”, à propósito do seu CD de estreia “Fitulica”, igualmente editado pela Vidisco.

Composto por oito temas, foi produzido por Sslowli e é atravessado por vários balanços, desde marrabenta, passada, Kwassa-kwassa, pandza e outros.
A cantora para além do português que canta, também privilegia o sena, a sua língua materna.
O título “Fitulica” é um conselho que chama a atenção a todos aqueles que tem um objectivo a alcançar na vida, mas que devem faze-lo com a calma necessária. “Deve-se ir devagarinho. È preciso queimar etapas. Não se deve agitar e precipitar em chegar ao destino”.

A cantora recorda os momentos que permaneceu no “Fama”, “foram dois meses de grande aprendizagem. As aulas de música valeram-se muito e, hoje posso dizer com orgulho que valeu a pena ter passado por e sinto-me habilitada para tentar trilhar a minha carreira”.
Sobre o seu percurso musical, o “Fama Show” que ela integrou, foi antecedido por uma passagem nos corais da sua igreja. Mais tarde, foi levada por uns amigos para fazer coros num grupo musical denominado “Stil Boana”.

Esta jovem cantora produto do “Fama Show”, como não deixaria de ser, é de opinião que as televisões deveria aumentar o número de programas sobre descoberta de novos talentos, pois, é a partir dos quais, se abrem janelas de oportunidade para os jovens artistas.
Na óptica de Júlia, hoje muitos artistas jovens com oportunidade para gravar não se preocupam com a qualidade, à nível das mensagem e vocalização”.

Lamentou o facto de as vozes femininas que surgem, acabam pouco tempo depois desaparecidas. “É preciso ter o espirito de perseverança e de paciência”, aconselha.
Júlia Duarte diz que veio para ficar e espera que o seu disco de estreia, seja aprovado pelos seus admiradores em Manica, Beira e outros pontos do país.

ALBINO MOISÉS


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