quarta-feira, 19 de março de 2008

MOZACA: O legado de Carlos e Zaida Hlongo

MOZACA é o actual nome da banda musical que pertencia ao casal Carlos e Zaida Hlongo , já falecidos. Aliás, antes do desaparecimento físico deste casal, em dois momentos diferentes, este agrupamento levava o nome dos seus cérebros: Banda de Carlos e Zaida Hlongo. Passada a fase de pesado luto – que assolou não só a estes músicos mas a outros, de outros grupos, e os fãs de música moçambicana – e pretendendo dar continuidade à sua vida artística, os elementos remanescentes do grupo decidiram mudar o nome para MOZACA, o que significa, segundo eles, Moçambique: Zaida e Carlos.

Ao atribuir este nome, os elementos do MOZACA homenageiam o casal mais badalado da História da música popular moçambicana e, ao mesmo tempo, à música do nosso país no seu todo.
“Decidimos dar este nome à banda porque vimos que era a única forma de homenagearmos aqueles que foram os nossos líderes no mundo da música: Carlos e Zaida Hlongo. Eles foram pessoas muito importantes nas nossas vidas mesmo fora da música. Tudo o que somos hoje e provavelmente o que seremos amanhã sempre estará associado a Carlos e a Zaida Hlongo”, assim se expressou Fernando Mavume, baterista, um dos vocalistas e líder da banda “Moçambique: Zaida e Carlos Hlongo”.

Fernando Mavume é um dos três irmãos desta banda que decidiu continuar a obra daquele casal em termos temáticos: abordar o dia-a-dia social dos moçambicanos, contribuindo para corrigir o que vai mal.
Mesmo depois do desaparecimento físico daqueles que foi o casal de ouro da música ligeira moçambicana, os jovens instrumentistas não se abalaram, tendo conseguido reunir forças suficientes para continuarem com a carreira.

“Quando perdemos os nossos líderes não entrámos em dilema, antes pelo contrário, conseguimos gerir a situação e dissemos a nós mesmos que a única homenagem que devíamos prestar ao casal seria continuar a fazer o que eles mais gostavam que era cantar e dançar. E assim estamos hoje aqui”.

Por outro lado, seria complicado para estes jovens artistas e para muitas pessoas continuar a ostentar o nome “Banda Carlos e Zaida Hlongo”, pois, segundo percepção de Fernando Mavume, não queriam passar por oportunistas baratos ostentando o nome daqueles que dizem respeitar muito como artistas.

“Isso seria complicado e muita gente não entenderia, decidimos mudar o nome da banda, mas sem quebrar a essência e o objectivo pretendido que era homenagear o casal. E sem alterarmos muita coisa mudamos para o nome que temos hoje, que é MOZACA. No fundo este nome identifica-se com a história do casal e do sucesso que fizemos e continuamos a fazer até hoje. Inspiramo-nos no casal e é justo que continuemos a ser o que eles gostariam que fossemos”, comentou a fonte.

Um ritmo de guitarra que ficou com o dono.
O ritmo abraçado desde que a banda ficou conhecida como Carlos e Zaida Hlongo teve que ser alterado devido à morte do casal. E se no passado esta banda tinha na marrabenta o mote da sua existência, hoje ela já se vê na contingência de fazer misturas com outros ritmos, como são os casos de passada, zouk e ragga.

É que com a morte de Carlos Hlongo desapareceu também um ritmo que era a característica da banda. “O ritmo mudou um pouco, mas é preciso dizer que fomos forçados a isso, uma vez que já não podíamos continuar a tocar somente marrabenta. Com Carlos Hlongo tínhamos um ritmo que só a guitarra dele fazia. Esse era um ritmo só dele, diferente e característico. E isso fazia-nos muita falta, pois sem esse ritmo não podíamos continuar a tocar na mesma linha de Carlos Hlongo”, explica-nos, ao mesmo tempo que censura o facto de muitos músicos jovens estarem a recriar as músicas do casal muitas vezes sem a anuência de ninguém, alegando uma pretensa homenagem a eles. “Ao pegar nas músicas que nós trabalhamos com carinho esses músicos dizem que estão a homenagear o casal, mas não fazem mais do que deturpá-las, no sentido de que o contexto em que inserem essas recriações não tem nada a ver com o que era o pensamento de Carlos e Zaida Hlongo”, desabafa.

E mais: “eles nem se preocupam em repartir os benefícios disso com a família do casal. Carlos e Zaida deixaram filhos que, pensamos nós, têm o direito de ter benefícios do trabalho que os pais deixaram, feito arduamente, mas até agora isso não está a acontecer. Não dizemos que devem se preocupar com a banda dele, pois nós continuamos a levar a nossa vida de forma normal, mas com os filhos do casal”.

Publico acompanhou-nos sempre.
O ano de 1992 é o que inicia a história desta banda, com espectáculos a serem realizados um pouco por todo o país e noutras paragens do mundo, em várias digressões que sempre Carlos e Zaida Hlongo efectuaram com a sua banda. “Fizemos espectáculos em quase todo o país, mas também na África do Sul, na Alemanha e em muitos outros sítios”.
Na altura, para além do casal, onde Carlos tocava o solo e Zaida cantava, a banda tinha ainda Fernando Mavume, na bateria, Xavier era o viola baixo, Luís no ritmo, Steve a executar o contra-solo e Agostinho nos teclados. Hoje o grupo continua com a mesma composição, tendo agora duas bailarinas, nomeadamente Rosinha, que é, por sinal, sobrinha de Zaida Hlongo, e Angelina, que entrou para a banda como uma das vocalistas.

“Tal como no passado, em que nos assumíamos como família, hoje continuamos a fazer prevalecer este espírito”, afiança.
Fernando Mavume não faz ideia de quantos espectáculos realizaram, mas sabe dizer que foram aos magotes. E em todos eles uma coisa sempre os acompanhou: o sucesso e a vibração do público.

Reflectindo, sabe dizer que fizeram “muito dinheiro”. Muito dinheiro no sentido de que sempre deu para se “aguentarem” na vida e nunca passaram fome.
“Nos nossos espectáculos fazíamos muito dinheiro e nunca passámos fome. Nunca nos queixámos, e quando isso acontece sentimos que sabe bem ser músico”, revela, entre risos, Fernando Mavume.

Quando Carlos Hlongo viu Fernando a tocar bateria, ensinado por um amigo do próprio malogrado músico, convidou-o de imediato para integrar a sua banda. Era o primeiro sinal rumo a um sucesso que só viria a conhecer um interregno, primeiro, com o desaparecimento físico de Zaida Hlongo, enterrada como rainha em 2003 no Cemitério de Lhanguene, e em definitivo, após a morte do marido, Carlos Hlongo, cerca de um ano depois.
“Com eles começámos por gravar nos estúdios da Rádio Moçambique, tendo registado a primeira música de Zaida Hlongo que foi ‘Kiribone’”, disse.

Aliás, “Kiribone” foi o incendiar de um rastilho e o archote que viria a iluminar a carreira da autora bem como levava a sociedade a aplaudir a ascensão de uma cantora que desde logo atingiu o estrelato.

Tempos depois, também pela Rádio Moçambique, gravaram mais dois projectos, designadamente “Zabelane” e “Ndzuti”. Aí foi a trepidação total! A sociedade acocorou-se aos pés desta cantora, que, acompanhada por uma banda de jovens também de grande talento, cantava, dançava e mexia-se sem tabus e preconceitos. No palco Zaida deixava o seu corpo em manifestação total e conduzia a plateia ao zénite. Não admira que por isso fosse criticada, mas, ao mesmo tempo, amada e acarinhada por quase todos.

Depois da Rádio Moçambique, a banda Carlos e Zaida Hlongo firmou acordo com a extinta editora Orion. Lá foram registados os discos “Sibô”, “Alfândega” e “Drenagem”. Estes registos discográficos são feitos numa altura em que a cantora já vinha conquistando vários prémios em diferentes paradas musicais moçambicanas, particularmente o Top Feminino e Ngoma Moçambique. A sociedade, atenta ao desenrolar da vida, da cultura e da música, principalmente desta cantora juntamente com o seu marido, criticava e aplaudia.
E os álbuns também iam sucedendo ao ritmo da sua fama e da aclamação pelos seus fãs que já eram aos magotes.

“Depois passámos para a editora Vidisco, onde registámos ‘Matekaway’. Quando fomos gravar este disco já Zaida Hlongo mostrava sinais de debilidade. E veio a perder a vida quando estávamo-nos a preparar para começar a registar temas musicais daquilo que viria a constituir o ‘Sifassilhile’. E Carlos Hlongo, também andava meio abatido e triste com a morte da mulher, teve a responsabilidade de levar o projecto até ao fim”. Ainda assim, os artistas conseguiram lançar o disco e fazer alguns espectáculos, mas as energias de Carlos eram já quase inexistentes. Já não tinha a mesma vibração e o mesmo entusiasmo.

E quando já estava muito debilitado, Carlos Hlongo registou algumas músicas nas quais contou com a participação da sua filha Tânia. As músicas gravadas nesse período foram reunidas em disco que leva o título “Metical”. O mesmo encontra-se nos arquivos de espera da Vidisco.
Ainda pela editora Vidisco, saiu este ano um DVD intitulado “África ao Vivo”, faz alusão a um dos espectáculos musicais realizados no Cine-África, nos tempos do programa de promoção musical “À Quinta no África”.

Esta era a banda do casal Carlos e Zaida Hlongo, que durante muitos anos acompanhou-a nos palcos e fez várias espectáculos com eles. E hoje, como MOZACA, já tem registado um trabalho discográfico, o primeiro da nova era, intitulado “Viva Chongo: Vamussenga”.
Este grupo tem aparecido em diferentes concertos que se realizam em casas de pasto e clubes nocturnos de Maputo e Matola.

Fonte: Jornal Noticias: FRANCISCO MANJATE

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