segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Zac Nhassavele

DEPOIS de viver 18 anos na Itália, voltou às raízes. Para lutar pelos mesmos objectivos que sempre nortearam a sua vida. Separou-se da mulher, que ficou por lá. Deixou um filho, que hoje tem 21 anos e que ama muito o pai, ao ponto de mandá-lo chamar, quando soube que Nhassavele enfrentava dificuldades para dar continuidade aos seus projectos em Moçambique. Porém, Zac preferiu entrar por outro lado: foi para África do Sul, juntar-se ao irmão, o Benjamim. Lá gravou um disco que o intitulou “Thsinela”. Vem pelo menos uma vez por mês a Moçambique. Aliás, foi numa dessas estadas no nosso país que conversamos com ele, tendo nos pedido que disséssemos a toda a gente que o seu nome não é Isac Nhassavele, mas sim Zac Nhassavele. Isac foi uma corruptela do apresentador Izidine Faquirá, num dos programas do Ngoma Moçambique em que participou com “Na KuRandza”.
E o seu maior sonho é gravar, um dia, um disco com os seus irmãos: Benjamim, Tomás e Filipe.
Zac Nhassavele será sempre lembrando pelo fulminante video-clip “NaKu Randza”, gravado na Itália, numa arena onde se produzem filmes de acção. É um tema com uma base de marrabenta, e que se move levemente, quase de forma subtil, entre o funk e o regae. É uma obra que vai ainda ganhar outra dimensão, se percebermos que maior parte dos participantes que a dão corpo, são actores de cinema, com excepção dos elementos da banda que acompanha o nosso compatriota.
Zac Nhassavele, actualmente a viver em Joanesburgo, na África do Sul, considera a marrabenta como sendo um elemento que dá um valioso sopro à vida. Ele conseguiu, com este ritmo, aglutinar no seu conjunto, que fez várias digressões pela Itália e por outros países da Europa, cidadãos brasileiros, senegaleses, nigerianos, para além dos próprios italianos. Até porque o nome do seu grupo, enquanto vivia naquele país transalpino, chamava-se Marrabenta, em homenagem ao próprio ritmo. Era uma coisa nova naquele canto do mundo.
Foram dez anos de intenso trabalho na Itália, cometendo a proeza de manter os mesmos elementos por cerca de dez anos. Mas Nhassavele ficou naquele território europeu por mais de 10 anos: viveu lá de 1983 a 2001, no meio de muito trabalho. Casou-se e separou-se. Teve um filho hoje com 21 anos, o qual continua a viver na Europa. “Por acaso o meu filho seguiu, de certa forma, as minhas peugadas artísticas. Ele canta muito bem, para além de que tem uma formação em Informática”.
Mas para além de Filipe Nhassavele ter influenciado o seu filho na música e ter levado um ritmo novo para a Itália, onde ensinou muita gente, cantou blues e jazz. “Não foi fácil penetrar nos meandros socioculturais da Itália, entretanto quando eles – os brancos - vêem um negro a cantar, aproximam-se”.
Sobre se o nosso compatriota teve algumas dificuldades de comunicação durante a sua estada, dada a diferença das línguas faladas, Nhassavele respondeu-nos que não. “Há quem vive lá vinte anos e não sabe falar italiano, mas eu em um ano já falava. Entretanto isso não acontece só com o italiano, dá-se com qualquer língua do mundo. Eu acho que é uma questão de vontade, de versatilidade de cada um”.
Como muitos africanos e não só, que se deslocam à Europa, Nhassavele também sofreu na pele as manifestações do racismo, da xenofobia. “Sofri um pouco isso, mas depois tornei-me uma pessoa amada. Eu trabalhava numa indústria química em Milão, mas conheci a Itália como músico. Fiz muitas coisas bonitas lá, juntamente com a minha malta. Porém, quando chegou a hora de eu voltar para casa, a banda desfez-se, porque faltava o líder, que sou eu. Contudo, fico feliz por saber que eles já cantavam em changana.
O REGRESSO À CASA
Chega um momento em que revemos tudo. Reconsideramos os caminhos, incluindo voltar para trás, desde o momento que isso sirva para buscar novo oxigénio. E é o que Zac Nhassavele está a fazer neste momento. Ele voltou para casa, sem que isso queira dizer necessariamente voltar para trás, porque voltar para trás pode ser outra forma de prosseguir a marcha. Com outras armas. Ou com as armas que havíamos deixado.
E eis que, depois de 18 anos, Nhassavele volta a pisar a sua terra. Num percurso em que a separação com a sua esposa poderá ser um dos motivos mais fortes para este desenlace. “Entristece-me que tenha sido assim, mas voltei às minhas raízes. Sou italiano por conveniência. Mantenho a cidadania italiana por causa da reforma e isso dói-me: ser estrangeiro no meu próprio país”. Nhassavele não está a viver exactamente em Moçambique, muito embora venha para cá regularmente. “Quando cheguei aqui não encontrei as condições que esperava encontrar. Tentei realizar os meus sonhos aqui mas foi difícil. Meu filho chegou a chamar-me para voltar à Itália, porém eu tenho que pensar muito nisso. Optei por juntar-me ao meu irmão na África do Sul, onde ele tem um estúdio de gravação”.
Refira-se que irmão de Filipe Nhassavele, Benjamim Nhassavele, toca no UMOJA, uma banda sul-africana que está constantemente a fazer digressões pelo país do rand e outros. Trabalhou com Peny Peny, Mahlathini e Brenda Fassie.Mesmo estando a trabalhar como técnico na RAS, não se limita apenas a esta actividade. Gravou um disco que tem como título “Thsinela”. Teve que fazê-lo na África do Sul por não ter sido fácil aqui. “Trabalho com músicos sul-africanos nas gravações e os moçambicanos, quando são anunciados os nossos shows, vão em massa, há uma mudança de mentalidade”.
Zac Nhassavele, que se encontra quase sempre com General Música, diz ainda que na África do Sul, apesar do medo constante existente por causa da criminalidade, há muito trabalho. “Se a pessoa tem talento, há sempre espaço para o trabalho. Por exemplo e estou bastante feliz porque o meu tema Na Ku Randza, gravado na Itália, toca-se na SABC no programa “Afro-Café”, que é uma espécie do Masseve da TVM. Não é fácil entrar no Afro-Café e é um orgulho para mim estar lá”.
ALBUM COM QUATRO IRMÃOS
Zac Nhassavele, que conta ainda voltar para Moçambique e concretizar o seu projecto, está aberto a trabalhar com sul-africanos e moçambicanos no país de Nelson Mandela. “Tenho vindo a Moçambique pelo menos uma vez por mês. Estou sempre ligado a minha terra. Nos meus planos consta a gravação de um disco com os meus irmãos, nomeadamente, Benjamim, Tomás e Filipe”. Este é o sonho do nosso compatriota, que já abriu um espectáculo de Jimmy Dludlu em Milão e em 1997 esteve frente a frente com Jimy Clif.
ALEXANDRE CHAÚQUEVisite e ouça em:http://www.macua.org/mp3/zac.html

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