segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Filho de Mazembe canta para honrar o pai

DIZ um velho ditado: filho de peixe sabe nadar. E Alexandre Mazembe, filho primogénito do falecido compositor e intérprete David Mazembe, veio confirmar este adágio. Mazembe Júnior (é assim tratado nos meios artísticos da Beira), já começou a cantar e encantar os beirenses, fazendo ele mesmo as suas canções a partir de estilos musicais tradicionais, casos da mandoa e do ndokodho, típicos do sul da província de Sofala, que, por sinal, são a “cara” do seu progenitor.

Desde de pequeno Alexandre Mazembe ia assistindo aos ensaios do pai, o que significa dizer que o “bicho” da música começou a penetrar nele logo na infância. Hoje, com 27 anos e estudante universitário, Mazembinho, como é também tratado pela comunidade dos músicos beirenses, tem no seu repertório quatro temas da sua autoria e tantos outros que o seu falecido pai não conseguiu trazer a público, que também poderão ser agora conhecidos.

“O bicho de cantar começou aos oito anos. Eu sempre assistia aos ensaios do meu pai com os colegas, entre eles Isaú Meneses e o falecido Cezerilo”, conta. Isso fez com que ainda pequeno Alexandre Mazembe tocasse latas com os amigos. Estava a criar um conjunto mesmo. “Até que fazíamos ‘shows’ na zona (onde residiam). Sem me aperceber, a música, sobretudo tradicional, começou penetrar em mim e hoje já canto formalmente”, explicou, entre risos.

Mazembe Júnior, como é também conhecido Alexandre Mazembe, deixou claro que iria seguir os trilhos do seu pai. Por isso, ndau e sena são as línguas locais de que ele se socorre para cantar. Para além disso, os estilos tradicionais, mandoa e ndokodho, do sul de Sofala, são, igualmente, a sua aposta.

“Não é que eu esteja contra os jovens que cantam rap, rock, r and b, entre outros estilos importados do ocidente, mas acho que é preciso preservar a nossa cultura, cantando o que é nosso. Por isso, vou sempre apostar naquilo que foram os estilos habituais do meu pai”, promete.
David Mazembe
QUERO PRESERVAR O NOME DO MEU PAI
Alexandre Mazembe explicou à nossa Reportagem que ao cantar estará a realizar um dos maiores sonhos do seu pai, que sempre quis ver um dos filhos envolvido na arena cultural nacional. Para além disso, disse ser aposta dele preservar o nome do seu progenitor, que muito deu para a música em Sofala.

Refira-se que o aparecimento de grupos como Djaaka, Mussodji e Nyacha é resultado de um trabalho árduo efectuado pelo falecido David Mazembe, através do seu projecto Ndongué, que se dedicava à pesquisa de estilos tradicionais e que chegou a criar o grupo de canto e dança na Casa Provincial de Cultura. Hoje, maior número dos pupilos do “embaixador dos pobres”(assim era carinhosamente tratado o músico) promove a música “de raiz” naquela região do país.

“Isto tudo leva-me a concluir que tenho uma tarefa muito difícil. David Mazembe tem um nome bastante forte na nossa música tradicional. Eu vou dar o meu máximo para manter bem alto o nome dele, trazendo, também, algo que o dignifique”, referiu.

Reconheceu que o apoio que tem recebido de muitos músicos locais, quer da velha guarda, quer os da nova geração que apostam em estilos tradicionais têm permitido que consiga sucesso almejado.

“Meu pai deixou muitas músicas não editadas e/ou não acabadas. Estou a melhorar essas composições dando um enquadramento à realidade actual. Tanto estas como as de minha autoria, tento trazer o quotidiano local, fazendo uma crítica social a muitas coisas. Para além disso, a pobreza tem estado bem patente nas minhas composições”, clarificou.
A pobreza era um dos temas mais explorados por David Mazembe nas suas canções, daí a alcunha “embaixador dos pobres”.

Para além da vida artística, Alexandre Mazembe é estudante de História na Universidade Pedagógica (UP) - Delegação da Beira. E o falecido pai para além de músico foi, igualmente, docente, o que significa dizer que Mazembe Júnior está a seguir, mais uma vez, o trilho do progenitor, confirmando- se, assim, o velho ditado: filho de peixe sabe nadar.

EDUARDO SIXPENCE

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