segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Afonso Brown entrevista FaceOculta

FaceOculta

O xitapora atraves do seu mentor, Afonso Brown, teve a honra de entrevistar uma figura incontornavel do hiphop e que dispensa qualquer tipo de apresentaçao. Esta foi a mais longa entrevista até agora publicada no blog, onde Face Oculta deixa respostas infaliveis acompanhadas de pensamentos interressantes e acima de tudo a tal harmonia e atitude positiva que vem demonstrando de alguns anos para ca. Depois da primeira parte, eis que hoje publicamos a conclusao da entrevista que ja era aguardada com alguma espectativa, nao fosse o entrevistado uma figura "historica" e incontornavel do hiphop moçambicano...afinal de contas so ficam para historia todos homens cujos actos serao eternizados e registados para sempre em nossas memorias. Acompanhem a conclusao da entrevista, tirem as vossas ilaçoes e partilhem-nas connosco.


Segunda Parte
1-Qual a diferença entre comunidade e movimento hiphop ?
Bom, eu não respondo isto como se fosse um questionario onde devo responder certo ou errado, mas respondo de acordo com a forma como vejo as coisas pessoalmente. Comunidade tem o seu conceito assim como movimento tambem tem o seu. Eu defino comunidade e movimento tendo em conta os conceitos, mas principalmente tendo em conta a realidade do hiphop, ja que é dela que estamos a falar. Eu vejo comunidade o conjunto de pessoas que tem algo em comum, neste caso, desenvolver o hiphop nas variadas formas. Vejo Movimento como as varias acções hiphop desenvolvidas por essa comunidade.

2-Como caracterizas a comunidade e o movimento hiphop em Moçambique. Pontos positivos e negativos.
Há pessoas na comunidade que não fazem movimento nenhum para mexer e elevar esse hiphop, outros ainda fazem movimentos(atitudes) sem qualidade, convencidos que no seu tipo de “radicalismo” ou “ambicionismo” fazem algo grandioso pelo hiphop. Por outro lado há um esforço ainda que individual, mas humilde para fazer a comunidade se encontrar e um movimento mais qualitativo em todos aspectos.

3-Voltemos ao tema violencia: Quais os exemplos claros de violencia no hiphop Moçambicano? Como se caracteriza? Quem promove?
O simples facto de um rapper fazer pouco ou não respeitar outros estilos musicais, dos quais muitos tem mais haver culturalmente com ele. Muitas vezes passamos por ridiculos sem nos apercebermos. Outro exemplo é o da forma como se discutem certos temas relacionados com o hiphop, seja a nivel de blogs, debates vivos, tem havido muita ignorância e sobretudo posturas desnecessarias. Como diria um comentador num certo debate, é no minimo uma “prostituição intelectual”. Alguns rancôrosos e mais alguns saciados gastam muita energia intelectual para violentar o próximo, fazendo assim cair o conjunto. Artistas, rappers, mc’s, editores de jornais, promotores de espectaculos e alguns intervenientes individuais auto-titulados criticos.

4-Acha que o rap feito pelos moçambicanos reflete integralmente a sociedade moçambicana?
Reflete, mas está claro que não é integral geograficamente .

5-Que avaliação fazes dos conteúdos.
É negativo que muitas das tendencias “Lets Chill” na mensagem não trazem nenhum elemento de originalidade, ou seja nem no “chilling” se consegue ser original devido ao exagero de ostentações. Um aspecto importante nesta questão é que acho que deviamos avaliar como é feito o uso da palavra. Por exemplo Hernani é um rapper que tem muita cultura geral, isso da-lhe uma capacidade de concentrar ouvidos sem dizer coisas concretas. Entretanto se um individuo não está devidamente informado não se diverte com a musica de Hernani. Por outro lado há rappers devidamente informados, mas que são complexos no que dizem, e assim é dificil ser abrangente. Mas perante os varios tipos de conteúdos que fazem o nosso rap, sente-se a falta de dominio da lingua portuguesa e se tivesse que avaliar dando uma nota eu dava 13Valores.

6-Defina o MC moçambicano liricamente, falo em termos de poesia e conteúdo. É maduro? Criativo? Original? Inovador? Activo ou Passivo?
Bom esta questão me parece ser a anterior feita de forma diferente, mas ok!. Vamos dar percentagens. 20,5 % maduro, 10 % criativo, 10% inovador, 10 % activo, 45,5 % passivo

7-Acha que os MC’s tem capacidade de escrever letras que possam estar em pé de igualidade com grandes escritores nacionais? ou possuem uma retórica pobre?

Acho que aqui ainda há por descobrir MC’s, porque avaliando pelo que existe, são poucos os capazes de fazer descrição narrativa como “Ualalapi” de Ungulani. São tambem poucos os capazes de narrar a tradição como Paulina Chiziane,. Em suma diria que de facto a retórica ainda não é de muitos. Para além de que está relacionada com a falta de ligação com hábitos de literatura e oração.
“Actualmente está a surgir um fenómeno que me preocupa: estamos a ser influenciados por MCs que não tem força, garra e atitude no micro, refiro-me a essa onda de MCs actuais da Justus League, Low Budget e seus derivados”
-DRIFA

8-O que acha dessa opiniao de Drifa na entrevista concedida ao xitapora? Podes comentar.

Não sei exactamente o que dizer, teria que saber o que é um MC com força, garra e atitude no micro pelo ângulo de DRIFA. Observa ponderadamente o seguinte: para mim o L. Nato e o Azagaia tem tudo isso, e na Justus league ou Low Budget podes encontrar L Natos e Azagaias, tenho dificuldades em saber o que é perfeito em cada um e nós. Não tou preparado para responder como deve ser, estaria melhor preparado para responder se isso preocupasse a todos nós.

9-Não acha que a corrente positivista do hiphop esteja a correr o perigo de algum deslumbramento em relação a realidade... ou até certo ponto esteja a viver fora de realidade?
Não sei bem de que corrente positivista se está a falar, mas porém existem aqueles que agem com base na fé que tem nas suas crenças, e isto não é uma questão de realidade é uma questão de experiencia. Só cada um conhece o sabor amargo ou prazeroso, que sente como retorno da sua atitude no mundo. Eu tenho co- presente uma frase de Silo(El Negro) entre as 12 acções validas de um humanista que e já é um pouco famosa entre alguns de nós: “trate os outros como queres ser tratado”, neste contexto descobre-se uma complexidade interessante sobre a atitude humana, onde o importante é a experiencia do registo interno de cada acção seja tratando mal ou bem. O resultado do positivismo não está em algo material ou palpável está dentro de cada um.

10-É possivel distinguir o rap da cidade e do suburbio em moçambique?ou estaremos todos “guetalizados”?
Pelo tipo de composição musical e pela dicção, pronuncia, linguagem, conteúdo pode se distinguir. Mas o suburbio pode soar como a cidade, só a cidade é que tem dificuldades em soar como suburbio. Em geral estamos todos guetalizados porque faltam-nos elementos sobre “cidadania”.

Publicada por xitapora

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