segunda-feira, 30 de junho de 2008

NÃO TIRO O CHAPÉU PARA A TELEVISÃO DE MOÇAMBIQUE


Era Segunda-Feira 9 de Junho se não me falha a memória. Estava eu a caminho da minha humilde casa depois de um longo e exaustivo dia de trabalho. Plantado numa das paragens de “chapas” da nossa maravilhosa cidade de Maputo, pronto para enfrentar a terrível batalha diária habitual naquela hora, recebo uma chamada dum número desconhecido mesmo no momento em que finalmente consigo empuleirar-me nas costas do cobrador. Atendo logo de seguida, e para o meu espanto era o apresentador do programa Moçambique em Concerto, programa este que vai ao ar todos os Domingos no canal da nossa bem-amada Televisão de Moçambique.


Gabriel Júnior, muito amavelmente dirigiu-se a mim e formulou um honroso convite para ir ao Moçambique em Concerto no Domingo que se seguia. Bem...estava naturalmente espantado. Nunca tinha imaginado, nem nos meus sonhos mais molhados, receber um convite para uma tão excitante participação naquele famigerado programa televisivo, porque como devem imaginar, eu e o Estado Moçambicano não morremos de amores um pelo outro (a nossa novela já vai a muitos capítulos) e a TVM é um canal controlado pelo estado. Portanto, embora fosse desejo de alguns compatriotas a minha ida aquele programa, cá entre nós, era mais fácil a galinha criar dentes que eu ir parar ali.

Facto é facto, convite recebido, convite aceite. O Gabriel Júnior, de seguida sugeriu que nos encontrassemos antes da minha ida ao programa, encontro esse que aconteceu na Quarta-Feira. Ele falou-me das questões que iria colocar-me e das músicas que gostaria que eu cantasse. Interessante é que o Gabriel não pressionou-me de forma alguma para que eu não fosse eu. Disse que sabia que a minha imagem iria dividir opiniões, mas como o seu programa tem (ou tinha) um carácter imparcial, ele estava disposto a correr o risco, que já tinha autorização da directora de programas e que estavam todas as condições criadas para a minha ida.

O Gabriel Júnior tinha uma nobre intenção, segundo ele, mostar a sociedade moçambicana que o músico Azagaia não é só o crítico, mas também alguém que sonha, chora, ri, apaixona-se e fala sobre isso nos seus temas. Para isso sugeriu que um dos temas que eu cantasse fosse o romântico “Ni ta ku fonela,” (faixa nº 9 do álbum Babalaze) tema que ele tem como um dos seus preferidos, e o meu lado crítico seria espelhado pela música “As Mentiras” (faixa nº 4 do álbum Babalaze) .

Chegados aqui, é altura de falar-vos do surpreendente (será?). Qual é o meu espanto quando na Sexta-Feira da semana que eu supostamente iria ao Moçambique em Concerto, a noitinha, liga-me alguém que dizia ser da TVM e produtor daquele programa informando-me que infelizmente eu já não poderia ir naquele domingo ao programa por motivos que nem ele soube explicar claramente. Mas deixou aberta a possibilidade de eu lá ir na edição seguinte. Desliguei o celular, e de seguida mandei uma sms para o Gabriel Júnior a exigir que pelo menos fosse ele a “desconvidar-me”. O apresentador respondeu-me dizendo que também estava espantado com o sucedido, mas que eu não deveria preocupar-me pois tudo iria dar certo.

Domingo, vejo outro artista no meu lugar, ligo para o Gabriel Júnior e ele diz-me o seguinte: “Desculpa mano, por não ter te ligado antes, mas o que aconteceu é que, um dos vários administradores da TVM que devia dar a permissão para tua ida ao programa, depois de já ter passado duas vezes o spot publicitário a anunciar-te, exigiu que se cancelasse a pubilicidade e a tua ida, porque diz que não foi consultado. Mas não te preocupes, Segunda-Feira faço uma carta especialmente para ele, anexo a autorização da directora de programas e entre Segunda e Terça-Feira ligo-te a confirmar a tua ida ao programa no próximo Domingo.”

Segunda-Feira passou, Terça-Feira passou, Quarta-Feira passou, Quinta-Feira também passou e na Sexta-Feira, data em que escrevo esta carta, oiço dizer que já está passar na TVM a publicidade da ida de outro músico ao Moçambique em Concerto, não eu. Bem, o Gabriel Júnior não me ligou ainda, hoje sexta-feira dia 20 de Junho de 2008 e francamente duvido que ele ligue, acho que já não adianta mesmo, embora um simples pedido de desculpa não faça mal a ninguém.

Dos factos a análise: O tal administrador não autorizou a minha ida ao programa e nem teve conhecimento dela durante os 5 dias úteis da semana, viu a publicidade pela televisão onde trabalha e mandou cancelar por falta de conhecimento. De Sexta-Feira para Domingo, a TVM conseguiu arranjar outro músico para ir no meu lugar, conseguiu o conhecimento e a autorização do tal adimistrador, coisa que não conseguiu em 5 dias úteis da semana para o meu caso. Mesmo que este estranho facto fizesse algum sentido, porquê não fui convidado para o programa da edição seguinte conforme o prometido? Será este programa é realmente merecedor do selo “made in mozambique”? Serei eu estrangeiro do meu próprio país? Será isto censura? Não basta não passarem os meu video clipes? Não me atrevo a responder a tais perguntas, senão ainda corro o risco de ir parar na Procuradoria da Cidade pela segunda vez, quem sabe acusado de defamação e calunia, nunca se sabe! Bem, menino queixoso que sou, venho dizer, mesmo fora do programa:

NÃO TIRO O CHAPÉU PARA A TELEVISÃO DE MOÇAMBIQUE E PARA TUDO QUE ELA REPRESENTA.

Mano Azagaia

1 comentário:

Unknown disse...

Oi.. Aqui eh Eliana N'Zualo.
Infelizmente o meu teclado n tem acentos, mas vou continuar assim mesmo. Adorei este post acerca da TVM e devo confessar que todo o blog tambem. Realmente ha censura no pais, e a TVM como empresa publica nao se pode "associar" com pessoas como tu (nao sei se me entendes), com uma mente aberta, inteligente, e especialmente, sem medo... Es uma ameaca para a lavagem cerebral que tentam (e conseguem!) fazer na cabeca dos mocambicanos. Shame!! Encontrei-o por acaso, mas acho que se tornou um dos meus favoritos. Eliana