terça-feira, 6 de maio de 2008

Jaime N’tuve


JAIME N’tuve seria um daqueles músicos que toca somente para amigos em noites de canículas e de alegria. Seria isso, se não fosse Salimo Mohamed a sugerir-lhe, um dia depois de ouvir as suas músicas, que as entregasse à Rádio Moçambique. Para serem compartilhadas.

De princípio não levou a sério a sugestão de Salimo Mohamed, uma das vozes mais completas da música ligeira moçambicana, mas depois decidiu experimentar e foi à Rádio Moçambique. “Eu nunca tinha pensado em ir mais longe com a música, porque o que queria conseguia, que era tocar e cantar para os meus amigos e mais nada”, diz.

Mas o seu destino estava traçado, e iniciou quando ele conheceu Fernando Jofane, o seu “professor” de guitarra. “Posso dizer que Fernando Jofane preparou-me para a música”, diz. E pela mão de Salimo Mohamed, artista a quem diz muito admirar, Jaime N’tuve subiu ao palco. E fê-lo no dia em que o autor de “Mamana Maria” realizava o espectáculo “Convergências”. Nesse mesmo espectáculo ficou claro que jamais seria o mesmo. E isso confirmou-se porque Salimo Mohamed, um músico rigoroso e com rigor no palco, voltou a convidá-lo para mais dois shows, nomeadamente “Mugurutchendje” e “Bangana na Mani”.


Nos concertos onde actuou, uma das músicas que mais se ouviu foi “A wa ngurangura”, ou seja “Está a resmungar”. E esta música foi a que Jaime N’tuve propôs para o Ngoma e conseguiu chegar com ela à final, daquela parada musical, em 2005.
E essas suas aparições começaram em 2007 pela mão do seu ídolo Salimo Mohamed. “Admiro muito Salimo Mohamed e inspiro-me nele. A nossa amizade e a minha admiração por ele transcendem um simples sentimento”, revela.


O músico tem temas preparados em número suficiente para preencher um disco, mas diz não ter pressa de editar nada. “Eu decidi que havia de gravar uma música por ano e é o que tenho estado a fazer, tendo, porém, falhado em 2007. Mesmo assim fechei essa lacuna gravando este ano dois temas. Assim tenho ‘A wa ngurangura’ ‘Vilopho’, ‘Mbilu yanga’ e ‘Gwendza ya muganga’”, explica-nos.

Os seus temas versam sobre o quotidiano da sociedade. “Fico feliz ao saber que as minhas músicas têm impacto na sociedade. A minha formação moral não me permite insultar as pessoas, por isso tento na medida do possível educá-las e quando me reconhecem pelo o que faço, sinto uma grande felicidade”, confessa.
O músico conta-nos, por exemplo, que andando uma vez pela rua foi reconhecido por um grupo de crianças que brincava animadamente e ele sentiu-se feliz com isso. “Eu vinha à noite, ainda por cima com chapéu na cabeça, e as crianças abordaram-me, dizendo que me conheciam. Isso revitaliza qualquer ser humano sensato”.
Mas nem isso o torna vaidoso e muito menos obriga-o a acelerar a gravação das suas músicas para lançar um disco. “Não tenho pressa. Deixo e deixem as coisas acontecerem naturalmente, depois veremos”, adianta.

No Chamanculo com figuras lendárias

Contabilista de profissão, Jaime Andrade Nhantuve nasceu na antiga Lourenço Marques (hoje Maputo), no Bairro do Chamanculo. E a sua amizade com Salimo Mohamed fez com que um dia Salimo dissesse: ‘a partir de hoje já não és Jaime Andrade Nhantuve, és Jaime N’tuve’. Assim foi. Jaime Andrade Nhantuve é Jaime N’tuve até hoje.

Aprendeu a tocar guitarra com Fernando Jofane, de que guarda boas lembranças. Trabalhou em Nacala, na província de Nampula, depois de ter passado pelo Instituto Comercial. Lá compôs, com letras escritas por si, muitas músicas, que depois as destruiu porque não as achava com qualidade suficiente e importância. “Nunca valorizei o que fazia”, conta-nos e acrescenta que terá sido Fernando Jofane que o incentivou a cantar, para além de só tocar guitarra. “Fernando Jofane queria também me ouvir a libertar a voz e fiz isso, para a minha alegria hoje. A fama não é minha prioridade, mas vou continuar a trabalhar porque amanhã, quem sabe, poderá aparecer alguém interessado no meu trabalho e me dê um apoio para editar e fazer mais coisas”, comenta.
Para além de Salimo Mohamed, Jaime N’tuve é admirador de renomados músicos como Otis Reding, James Brown, Elvis Presley. Conta que são esses que o ajudaram a ter um ouvido educado e a crescer musicalmente. Na sua lista estão ainda nomes como os de José Mucavele, João Paulo e João Cabaço, este último que ele considera ser bom a escrever letras. “Ele diz muita coisa em poucas palavras e nós outros escrevemos muito e não dizemos nada”, diz.

No Chamanculo, seu bairro, N’tuve era admirador de bandas como os Green Stones. É nessa banda onde conheceu os músicos Samuel Matusse, Joaquim Macuácua e Hélio Sarmento.
Quando olha para o cenário musical actual, Jaime N’tuve diz não ser justo que os jovens sejam violentados pelas suas opções musicais. “A história é dinâmica. Aqueles que forem bons vão resistir e os medíocres serão esquecidos. E será essa mesma história que vai se encarregar de os esquecer”, avança.

Quarta-Feira, 30 de Abril de 2008:: Notícias

Sem comentários: