sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Dilon Djindji e a Marrabenta



Comemorando a efeméride, MOÇAMBIQUE PARA TODOS recorda:

27 de Junho de 2005 Marrabenta-rap sacode os suíços
Uma vida dedicada à música tradicional moçambicana: Dilon Djindji. (swissinfo) Tradição e modernidade é a mistura mágica dos músicos do Mabulu, que esteve de passagem na Suíça participando de festival africano.
Uma de suas maiores estrelas é Dilon Djindji, 78 anos, que além de músico já foi mineiro, agricultor e pastor evangélico. Para muitos ele é o criador da "marrabenta".A música não respeita a idade. Essa é a impressão que espectadores tiveram ao ver o senhor africano de cabelos brancos dançando no palco. Ele não apenas pulava, saltava, mas cantava seus versos com uma velocidade que nem os músicos mais jovens conseguiam acompanhar.
Foi a explosão da marrabenta, um típico ritmo moçambicano.
Dilon Djindji, 78 anos, é uma das estrelas do Mabulu, o grupo moçambicano que abriu esse ano o Afro-Pfingsten, um dos maiores eventos europeus especializados em música africana e que ocorre todos os anos em Winterthur, Suíça. A escolha não foi por acaso: o Mabulu espanta.
Se por um lado o veterano Djindji apresenta canções tradicionais em dialetos locais, outros componentes do grupo como o raggaman Mr. Arssen e o rapper Chiquito incluem ritmos modernos e urbanos na música do grupo. Talvez por isso o título da turnê européia do grupo seja "30 years indepenDANCE-Tour". Ele lembra os anos de guerra e de reconstrução.
Seus músicos cantam apenas que a África também é um continente do futuro.
AIDS e amor- Um tema que eu trato nas minhas canções é a AIDS, um dos problemas mais graves no meu país. Quero trazer esse debate ao público, ensinar as pessoas à fazer atenção com a saúde e eu acho que a música é um bom canal para realizar esse trabalho – explica Mr. Arssen.
Contradição com o passado? Seus cabelos são cortados e penteados à moda americana e o sotaque do inglês lembra o idioma que é falado nos guetos de Nova Iorque. Porém as roupas são estampadas com as cores africanas: o amarelo, verde e vermelho.- Eu realmente gosto dos ritmos modernos, mas acho que o diálogo entre as diferentes gerações de músicos moçambicanos é interessante para poder criar coisas novas - justifica o jovem moçambicano.
No concerto do Mabulu essa experiência é vivida nas diferentes músicas. O próprio nome do grupo significa no dialeto local "procurar o diálogo".
Até a AIDS é um dos temas nas músicas do Mabulu. (swissinfo)Um estrangeiro na origem do grupoA história do Mabulu começa em 1990 quando o alemão Roland Hohberg, um músico que já havia tocado em bandas de ska e reggae, se estabeleceu em Maputo.
O primeiro trabalho foi na indústria fonográfica local. Oito anos depois ele abriu seu primeiro estúdio de gravação, o primeiro a funcionar de forma privada no país.- A partir de então eu comecei a conhecer a cena musical moçambicana e também os melhores artistas - conta Hohberg numa entrevista dada a um jornal sul-africano - Meu objetivo era colocar pessoas de diferentes gerações tocando em conjunto no palco.
Em 2000 o grupo foi fundado. O alemão agora é seu promotor e empresário. Sua alegria é que, no pouco tempo de existência, o Mabulu já recebeu os primeiros prêmios musicais como um troféu da BBC e o KORA-2001, uma espécie de "Grammy" da música africana.
O velho Djindji
O músico mais experiente do Mabulu é também um homem com histórias para contar. Dilon Djindji já era conhecido em Moçambique ainda na época que o país era colônia portuguesa.
Nascido em 14 de agosto de 1927 em Marracuene, um distrito localizado ao sul de Moçambique, ele descobriu a música aos 12 anos de idade depois que construiu sua própria guitarra fixando um cabo de madeira numa lata de litro de azeite e estirando três cordas na base. Três anos depois ele obteve sua primeira guitarra elétrica. Acompanhado de tios, Djindji tocava nos casamentos e festas da região estilos populares como a zakuta e a mágica.
Depois de concluir a escola em 1945, ele freqüentou os cursos religiosos do Instituto da Bíblia, uma organização mantida pela missão suíça. Mesmo tendo trabalhado alguns anos como pastor evangélico, ele continuou a carreira musical.
Para muitos, o músico é o criador da "marrabenta", um ritmo popular originado no sul de Moçambique.
O Mabulu é a mistura de tradição com ritmos modernos. (swissinfo)Mineiro, agricultor e revolucionárioEm 1950, Dilon Djindji foi para a África do Sul trabalhar nas minas. Quatro anos depois, ele regressou à Moçambique e virou agricultor numa cooperativa rural.
Ele criou sua primeira banda, a "Estrela de Marracuene", em 1960. Sua primeira participação na rádio ocorreu quatro anos depois na estação Voz Africana. Porém seu primeiro disco, intitulado "Xiguindlana", só foi gravado em 1973.
Djindji teve seu primeiro reconhecimento oficial ao ganhar, em 1994, um prêmio da Rádio Moçambique na categoria de canção mais popular. O título da canção lembra a dificuldade de viver no país: "Juro palavra d’honra, sinceramente vou morrer assim".
Desde 2001, o músico toca no Mabulu.- Sou um elemento do povo rural. Por isso eu gosto de cantar na língua ronga, o dialeto da minha terra. Canto músicas de amor, do lar, sobre a vida do homem e da mulher – conta Djindji.
Ao repórter da swissinfo ele revelou seu principal sonho: criar uma escola para ensinar os jovens a marrabenta.
swissinfo, Alexander Thoele

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