“Criança que não chora, não mama”, diz o velho adágio popular. O conceituado músico moçambicano Domingos Honwana - o célebre Xidiminguana - sabe disso. Sabe e até pode testemunhar como essa velha máxima é também válida para os adultos. Naturalmente que entre os adultos, há choros e choros...
Havia vários meses que Xidiminguana vinha “chorando” por uma guitarra para fazer o que ele mais gosta: tocar e encantar. Já várias guitarras envelheceram em suas mãos ao longo de uma carreira que já começa a espreitar a longevidade. Num país como o nosso, cheio de carências, não é coisa fácil um músico ter uma guitarra própria! Andam muitos guitarristas exímios por este país fora, que não se podem orgulhar de ter uma guitarra. Quando têm uma para tocar, é emprestada, e ai quase sempre não dá para “se libertarem”.
Xidiminguana conhece essa experiência de saber e querer tocar, mas não poder fazê-lo porque não há guitarra disponível. Cenários como este, amordaçaram por diversas vezes o talento de Xidiminguana, até que decidiu partilhar esta sua preocupação com alguém que acreditava que o poderia ajudar.
Tudo começa quando a Autoridade Tributária decide promover uma campanha de divulgação do imposto pelo país fora, uma iniciativa que além de envolver os órgãos de comunicação social, associou alguns músicos escolhidos a dedo, para com o seu talento de artistas ajudarem a fazer chegar mais longe a mensagem sobre a importância de os cidadãos conhecerem e pagarem impostos. Um dos critérios de escolha é a abrangência das línguas usadas por tais artistas nas suas canções. Bem pensado, melhor feito!
Assim mesmo, na região norte foram escolhidos dois músicos: Aly Faque e Júlia Mwito. Na zona centro, os eleitos são Madala e Nyeleti e, no sul, Anita Macuácua e Xidiminguana. Um dos resultados deste acordo é a amizade que nasceu e que floresce entre os artistas e a AT, que agora olham para cada um daqueles músicos não apenas como agentes de entretenimento, mas como parceiros na educação para a cidadania fiscal.
Mas os artistas têm os seus problemas. Têm as suas carências. Limitações. Materiais e financeiras. Uns têm mais do que os outros, mas todos têm dificuldades. Xidiminguana também! Foi então que, certo dia, Xidiminguana apresentou a sua preocupação aos seus amigos da AT. Pediu lhes que fizessem alguma coisa para que ele pudesse ter uma guitarra. Nova. Sua. Para não ter mais que pedir emprestado e ver se forçado a interromper as músicas a meio da interpretação...
O apelo de Xidiminguana foi ouvido. Os funcionários da AT assumiram a preocupação do seus parceiro como sua também. Pediram que Xidiminguana fosse ao mercado identificar a guitarra dos seus sonhos. Depois começaram a contribuir. Cada um à medida das suas possibilidades. Afinal, “grão a grão, a galinha enche o papo...”.
Xidiminguana foi ao mercado e escolheu uma guitarra. Escolheu uma guitarra nova. Aquela era uma oportunidade que os amigos lhe davam. Não podia desperdiçar, muito menos trair os seus desejos. Escolheu bem!
Na semana passada, Xidiminguana foi convidado de honra à reunião do Conselho Superior Tributário, com direito a um espaço predefinido no programa do evento. O propósito era entregar ao artista, a guitarra comprada pelos seus amigos da AT.
Igual a si mesmo, Xidiminguana não perdeu tempo. Assim que recebeu a oferta das mãos do presidente da AT, Rosário Fernandes, puxou por uma cadeira para ensaiar uns dedilhados. Para deixar a marca, escolheu um clássico do seu vasto repertório musical: “ Vadla Vamutsona Mamane Bobiyane” (Não dão de comer à mamã Bobiyane). Assim mesmo, Xidiminguana levou todos os presentes na sala a uma viagem imaginária até Chibuto, ao som das cordas da sua nova companheira, que não tardou em baptizá-la pelo nome de “Terezinha”.
“ É assim mesmo na minha tradição. Não se escolhe mulher para o filho. Ele é quem escolhe! E foi isso que eu fiz. Escolhi pessoalmente a minha mulher. Esta é a minha nova mulher! Obrigado, meus amigos!”, confessou no seu inconfundível changana vernáculo!
Bom amigo que é, Xidiminguana prometeu para breve a publicação de uma música especialmente dedicada aos seus amigos da AT, a quem pretende agradecer publicamente. Cá por nós, eles fizeram por merecer!.- Júlio Manjate