sábado, 17 de maio de 2008

Entrevista com Azagaia




Capa do CD Babalaze autografado (Ofertado ao Djo da Gpro)

1- EVENTOSMZ- Como foi que começou a cantar?
AZAGAIA- Comecei a cantar em 1997. Antes já escrevia poesia, muito inspirado em Craveirinha. Eu nasci em Namaacha. Vim para Maputo com 10 anos e com as novas influências comecei a outros estilos de música, como Bone Thugs N´Harmony, Gabriel o Pensador, SSP, Busta Rhymes, Woo Tang, Method Man e mais tarde Boss Ac. Foi a partir daí que comecei a escrever as minhas rimas. Por volta de 1999 juntei-me ao Escudo e formámos a Dinastia Bantu, e foi mais ou menos esse o meu trajecto inicial.

2- EVENTOSMZ- O seu primeiro single foi As Mentiras da Verdade. Quais são, afinal, as verdades de Azagaia?
AZAGAIA- (Risos)...as minhas verdades...hum...é complicado. Eu fiz a música porque tinha muitas dúvidas. Notei que havia muita manipulação da informação, principalmente após a assinatura dos Acordos de Paz. E foi num papo com o Hernâni que vi que as pessoas seguem o que vêm na rádio e na tv. Foi por aí que surgiu a música, para questionar as “ditas verdades” que conhecemos: Samora Machel, Anibalzinho, Carlos Cardoso, Cahora Bassa. São todos casos mal explicados. Eu acredito que nós podemos ser um pouco mais verdadeiros uns com os outros...

3- EVENTOSMZ- Tem consciência de quão polémicas são as suas mensagens? Num país como Moçambique, não é perigoso ser tão frontal?

AZAGAIA- Ya. É assim, realmente é um risco que se tem que correr. Todas as profissões têm os seus riscos. E, naturalmente, se quisermos alcançar os nossos objectivos temos que correr esses riscos. Quanto a ser polémico ou não...bem, eu acho que a polémica é o dia-a-dia, não quando alguém diz aquilo que pensa. Quando surge alguém que diz como uma mensagem diferente é facilmente apelidado de polémico. Eu sei que é perigoso, mas acho que é mais perigoso quando quem se quer expressar está sozinho. Mas agora já começo a sentir mais calor humano à minha volta. Sinto-me mais acompanhado e seguro até, de certa forma.


Cartaz Babalaze de Azagaia

4- EVENTOSMZ- Lancou o seu album recentemente, "Babalaze",porque escolheu esse nome como titulo? Como e que o album esta a ser recebido dentro e fora de Mocambique?
AZAGAIA- Babalaze significa ressaca. Surge inspirado num livro de Craveirinha, Babalaze das Hienas, que retratava o período pós guerra civil. Então peguei na palavra, Babalaze, que simboliza um momento pessoal: eu estava numa altura em que ia lançar o meu álbum a solo e quis que o título simbolizasse o meu estado de espírito. E eu procuro sempre pegar o que é nosso (moçambicano) e daí essa palavra: Babalaze e não ressaca, em português, como forma de valorizar o que é nosso. Quando falamos da receptividade do álbum, posso dizer que dentro de Moçambique está a ser muito bem recebido. No primeiro dia foram quase 700 cópias vendidas.

Foi um momento único e marcante! Muito mais que vender, foi um espaço de sinceridade, de partilha e troca de sensações. Aquele dia foi um espelho do quanto o cd era esperado. E tenho tido um feedback muito positivo. Tive a oportunidade de viajar para a Beira, e acho que foi o melhor concerto que já dei. O calor humano foi mesmo incrível! Espero voltar lá mais vezes. Fora de Moçambique não sei bem. Só sei através de alguém que compra para levar para amigos ou familiares que estão fora. Dei entrevistas à BBc, à Agência Lusa e à Revista Visão, por exemplo. Ah, os meus discos vão passar a ser vendidos em Portugal, a partir de Março, numa edição especial para Portugal.

5- EVENTOSMZ- Quais são as suas referências musicais?
AZAGAIA- Actualmente o people da Cotonete Records. É um pessoal nota 10 para mim. Saindo um pouco da label, a GPRO, 100 Paus, 2 Caras, 3H, o Simba, Xitiku Ni Mbuala. Fora de Moiçambique...hum...em Portugal admiro o Valete, o Boss Ac, Sam the Kid. Nos EUA, Talib Kweli, Common Sense. E recentemente Jay Z, curiosamente. Na África do Sul, gosto de Proverbe. Fora do hip hop, curto Stewart, Kapa Dech, Wazimbo, Baka, que toca fusion e a banda Ndjango. Uma vez perguntaram-me o que era música moçambicana. Eu acho que música moçambicana é aquela que é feita com elementos da nossa terra. Senão a nível instrumental, pelo menos a nível de mensagem. Dizer o que as pessoas vivem, falando daquilo que os moçambicanos vivem e sentem. Eu faço música para o meu povo.

6- EVENTOSMZ- Sabemos que já trabalhou em parceria com rappers como a Dama do Bling ou com Valete. Como foram essas experiências? Com quem gostaria de trabalhar, no futuro?
AZAGAIA- Começando pela Dama do Bling. Eu fui muito criticado mas, desde o princípio, sempre gostei do flow dela. Ela tem uma segurança quando canta e também tem um espírito rebelde, de querer afirmar-se diferente. Ela tem uma linha própria. E sempre achei que devia ter um espírito crítico dentro dela. Quando nos encontrámos, eu sugeri que falássemos de crítica social. E decidimos falar sobre a hipocrisia das pessoas. Ela é muito talentosa e simpática. Foi positivo e acho que deu para quebrar alguns preconceitos que existem. Com o Valete foi muito mais fácil. Estamos na mesma área e fazemos o mesmo hip hop. Foi uma ideia dele fazermos a música alternativos. Falámos sobre o que é ser alternativo para cada um de nós. Conhecemo-nos pela net. Ele gravou a parte dele lá e eu a minha cá e fizemos a troca via net. Até hoje ainda não nos conhemos pessoalmente. A net dá-nos essa hipótese de encontrarmos outras pessoas que pensem como nós noutras partes do mundo. Quanto a futuras parcerias...fora do hip hop, gostava de trabalhar com o Tony Django, dos K10, que tem uma voz excepcional. A nível de hip hop nacional, acredito que acabarei fazendo música com quase todos, dada a dimensão do nosso mercado. Quem sabe um dia com a Sara Tavares e com os rappers que mencionei de Portugal . Enfim, gostaria de fazer música com os músicos que admiro.

7- EVENTOSMZ- Onde se inspira para escrever as suas músicas?
AZAGAIA- Eu procuro inspirar-me no que eu leio. A leitura é uma base para interpretar a realidade. O que eu leio, associado ao que eu vivo...e também pelos sentimentos: o amor; as tristezas, algumas lamentações... Hoje em dia, cada vez mais me assumo como uma pessoa que quer combater esta banalização dos sentimentos das pessoas, o capitalismo selvagem, o consumismo. Já não temos tempo para bater um papo com um amigo. Vivemos num fenómeno de informatização do mundo. A falta de tempo que temos vindo a sentir é um sinal da vida que estamos a levar, nesta época de globalização. E nós, africanos, somos vítimas; somos peões nesse jogo de xadrez.

8- EVENTOSMZ- O que podemos esperar do Azagaia para 2008?
AZAGAIA- Primeiro, tenho agendados três novos vídeos. Quero também apoiar os outros artistas da Cotonete: o Islo, o Pitchó e talvez a Iveth. E começar a gravar o meu próximo cd. Quero conhecer mais gente e aproximar-me mais de outras pessoas.

9- EVENTOSMZ- Assume-se como um porta-voz da juventude moçambicana?
AZAGAIA- Na medida em que sou jovem e faço música, acho que sim. Acho que sinto e vivo o mesmo que muitos jovens também passam e sentem. O mais importante é que acho que falo de povo para povo.

10- EVENTOSMZ- Foi considerado figura do ano de 2007 e uma das cinco(5) figuras de 2007 pelo jornal Online "Canal de Mocambique" e pelo Blog "Diario de Sociologo", respectivamente. Como se sente?
AZAGAIA- Sinto-me muito lisonjeado. Eu não sei se é todos os anos que alguém tão jovem é considerado figura do ano. Penso que foi uma lição para quem pensa que a juventude moçambicana está adormecida. É gratificante sentir que há reconhecimento pelo trabalho que tenho feito.

11- EVENTOSMZ- Que mensagem gostaria de deixar para os seus fãs? E qual o seu comentário ao site http://www.eventosmz.com/?
AZAGAIA- Fãs? Prefiro a palavra admiradores. Agradeço pela força e apoio que me têm dado. São muito importantes. E desejo que continuem a apreciar mais Azagaias que tragam uma mensagem diferente e vos façam pensar e não apenas dançar. Quanto ao site é extremamente positivo. Acho que o pessoal já tem um espaço para ter acesso à agenda, para conhecer os artistas. Dou-vos os parabéns e espero que cresçam cada vez mais. E para o people da Cotonete, dizer que nós vamos limpar os ouvidos de muita gente e trazer-vos muito boa música em 2008.
Local: Centro Cultural Franco-Moçambicano.
Data: Segunda feira, 14 de Janeiro de 2008.
Fonte: Eventos Moz

Com a devida venia extraido da www.eventosmz.com

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