Ainda sem título, Kaliza diz que o disco está a ser preparado para quem tem bom ouvido e bom gosto. Em entrevista ao nosso jornal, Kaliza revelou que a gravação do seu primeiro CD é a realização de um sonho não só seu, mas dos Calianos, do povo de Tete e todos os moçambicanos que se interessam pelo seu trabalho. Vindo de uma família de músicos, Kaliza será o primeiro a ter um disco, que é, ao mesmo tempo, uma homenagem ao pai: Miguel Torres Caliano. Aliás, ele revela que a inclusão de um tema cantado em Ronga, língua sobre a qual sempre teve uma enorme paixão, desde que soube que o pai era de Maputo, está na senda desse tributo. Estou a realizar gradualmente o sonho dos Calianos, as portas vão se abrindo segundo a música que soa no meu ouvido. Não sou assim muito ambicioso. Os caminhos na minha vida abrem-se através da própria música. Aquilo que ainda não consegui granjear na música é por minha culpa. Se divulgar as minhas músicas vou alcançar o meu desejo. Por isso, rezo a Deus pai para que este álbum a solo saia e chegue ao público para todos saberem o que vem de Tete, que misturas podemos ter de um maronga e uma manyugué que sou eu. Nascido num meio de música e de músicos, Kaliza diz que foi “bebendo” sons variados, muitas das vezes sem dar conta, mas o facto é que de repente em 1994, imitava com alguma mestria Roberto Carlos e outros ídolos difundidos pela emissora da Rádio Moçambique em Tete. Mas terá sido num concurso de busca de talentos daquela estação emissora que começou a encarar as coisas com outra visão. Em 1994 participei numa espécie do programa “sabadão”, no Estúdio 333, em Tete, realizado por Amarildo Romão, actualmente jornalista da Televisão de Moçambique (TVM). Estava bem classificado, mas infelizmente o concurso não foi até ao fim porque houve corte de energia. Face à surpresa e qualidade da minha actuação fui convidado a participar no fim-de-semana num programa do PSI Jeito. Dessa participação Kaliza diz ter recebido “um puxão de orelhas” do seu irmão mais velho, o Ismael (já falecido) que não gostou de ver e saber que o “miúdo” estava a enveredar pela música. Quando chamaram meu nome, meu irmão ficou zangado. Não gostou, tinha medo que eu seguisse a carreira de músico, uma vez que isso, no nosso contexto, não oferece grandes oportunidades na vida, em termos de “rendimentos materiais”. Entretanto, e contra a vontade do irmão, no ano seguinte (1995), o jovem Amarildo Romão promove o concurso Miss-Tete e o “miúdo” é chamado de novo a cantar no cinema Kudeca onde também ia actuar a banda do irmão. Aqui instala-se de novo o conflito entre os Caliano. Kaliza tinha que ser acompanhado pela banda do seu irmão Ismael, mas este fincou pé. Não aceitou que eu ensaiasse com a sua banda. Mas o “bichinho” da música já estava nas entranhas de Kaliza e com a ajuda de um amigo preparou uma música com base numa instrumental sul-africana e foi se apresentar no Kudeca, superlotado. Estavam lá mais de duas mil pessoas. E, contra todas as expectativas, Ismael e sua banda não tocaram porque o equipamento de som não estava à altura. A salvação do espectáculo foi a minha actuação. Quando entrei comecei a cantar e as pessoas esqueceram que havia problema de som. Virei uma estrela, todo o mundo só falava da minha actuação e o Amarildo Romão convidou-me a gravar a música na rádio para fazer publicidade da finalíssima do Miss-Tete. Dessa fabulosa actuação, Kaliza ganhou do proprietário da discoteca Cigana, em Tete, um teclado, duas colunas, um amplificador e um microfone. Era o início de uma carreira. Autodidacta, Kaliza aprendeu sozinho a tocar teclado. E fazendo jus ao dito popular: “contra factos não argumentos”, Ismael acabaria se rendendo às evidências, começando a apoiar o seu irmãozinho, dando-lhe algumas “dicas”. Juntamo-nos e criamos uma banda com alguns músicos locais. Estava eu, o Bruno, Zélio, e o Alfredo. Éramos todos irmãos e o Ismael é que era o manager da banda. Tocávamos em casamentos, festas de aniversário, isso já em 1996. A banda chamava-se Armagedon (Guerra Santa). Era uma banda que animava os ambientes sociais da cidade de Tete. O SONHO DE CD O sonho de gravar um “CD” data de 1997, período que Kaliza estimulado pelo surgimento das editoras VIDISCO e ORION decide abandonar a cidade de Tete, viajando de boleia com o seu teclado até chegar à Maputo. Era uma viagem de sonho, mas também de busca de paz espiritual junto dos seus ancestrais. Kaliza, como ele próprio se define é uma mistura de ronga e manyungue. Chegou a Maputo no dia 25 de Dezembro de 1997 com uma cassete na qual tinha gravado parte de seu repertório, entretanto recusada pela VIDISCO. A VIDISCO ficou um mês com a minha cassete e não me deu resposta nenhuma, na altura o director era o João Carreira. Fui a ORION e nem chegaram a receber-me. Não desisti e continuei a trabalhar. Toquei na Igreja Manã com o Chico da Conceição entre 1998 e 2000, onde consegui compor uma boa parte da música gospel que até hoje é cantada naquela igreja. Dessa experiência e da vontade de vencer, Kaliza diz ter tido a sorte de um dia a tocar na Avenida de Angola, aparecer Alexandre Mazuze que, imediatamente, apreciou o seu talento e convidou-lhe a trabalharem juntos. Conta que Alexandre Mazuze tinha na altura muitos contratos nas casas de pasto e, portanto, precisava de alguém para se ocupar de alguns desses contratos. Um deles era no espaço FOFOCA do Sindicato de Jornalistas. Enquanto ele tocava na vila da Moamba, no “Ka Pileca”, eu ficava no SNJ, isso em 2000/2001, onde acabei conhecendo o Nelson Maquile que me ajudou bastante. Aliás, cheguei aos MozPipa pelas mãos dele. Na altura, a banda tinha falta de um teclista com a saída de Carlitos para Portugal, nessa altura a banda tocava quase todas as noites no Tara. Com os MozPipa realizou parte do seu sonho, participando na gravação do último CD da banda que graças ao seu envolvimento acabou sendo intitulado “Ecos do Zambeze”. No disco assina quatro composições (Minha Mãe, Tchisse, Txibua e Papo Furado), curiosamente as que popularizam a colectânea. Porém, diz que não ficou totalmente satisfeito, sobretudo pelo facto de que nos MozPipa era simplesmente um instrumentista (teclista), mas na verdade o que ele gosta e quer é cantar, daí que decidiu abandonar a banda e seguir uma carreira a solo, cujas portas de sucesso foram abertas pelo músico Fernando Luís que lhe deu espaço para se apresentar no África-Bar. Fernando Luís, na altura responsável da produção naquele local, deu-lhe oportunidade para fazer quatro shows. Aproveitando o sucesso das músicas de Oliver Muthukuzi, Kaliza apareceu no África-Bar com o projecto “Kaliza Canta Muthukuzi”. Mas, vendo que o jovem tinha talento e capacidade para sustentar o seu nome, Fernando Luís tirou “ ... Canta Muthukuzi”, ficando apenas Kaliza. E assim lançava-se um nome, um artista de talento, e abriam-se as portas para a concretização de um sonho e a continuidade de uma história de persistência na música. Mas, uma música feita de arte e de uma incessante busca de qualidade, fora do superficial. É essa a aposta de Kaliza.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
KALIZA: Quase de boleia, atrás de um sonho!
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