segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Alexandre Mazuze no "Gil Vicente" : Esperava-se um pouco mais na noite dos 50 anos


FOI como um daqueles pratos de aspecto suculento que, servido à mesa, todos os comensais apressam-se a servi-lo, mas quando provado descobrem que falta-lhe algo para ser completo: é sal a menos? Faltou alho ou pimenta? A salsa e coentros estarão na medida certa? Será que faltou o vinho ou o vinagre no tempero? O prato é picante ou simplesmente não tem sabor? E no final, quase ninguém sabe explicar com exactidão o que efectivamente falta ao suculento prato...contudo, de uma coisa todos têm certeza: falta-lhe algum ingrediente, ou então teve-o a mais!

Tudo isto vem a propósito do concerto de gala havido sexta-feira no Café Gil Vicente, em Maputo, para celebrar os 50 anos de vida e 32 de carreira do veterano Alexandre Mazuze, o homem das "mil e uma vozes".

A noite era de glamour, com gente fina vestida a preceito. A plateia era maioritariamente composta por amigos e personalidades da praça.

Em palco a banda "Central Line" liderada por Humbe Benedito na viola-solo, Momad Amisse na bateria, Bonga no baixo, Zeca e Ruben nos teclados, e as coristas Mira e Marta, que impressionaram à entrada, demonstrando que a banda tinha ensaiado bastante com Alexandre Mazuze, que trouxe ao palco seus convidados, a Cintia e o Stewart Sukuma, cuja actuação acabou criando outro equilíbrio na noite. Não obstante toda essa consistência musical do "Central Line" e do Alexandre Mazuze, pairava naquela sala um clima de algo vazio e melancólico...Mazuze não pareceu em grande forma. A gala estaria aquém do aguardado? Até porque a sala do "Vicente" estava longe de estar cheia, embora fosse um público de qualidade, gente do "tipo seleccionada", aqueles que frequentam os hotéis e outros espaços por onde este belíssimo intérprete passou maioritariamente estes 32 anos de estrada.
Se a actuação de Mazuze, nalguns momentos nos pareceu fria, noutros o intérprete de Louis Armstrong, Dom William, Miles Davis, Ray Charles e mais libertou-se a todo o gás, justificando a enorme fama de ser um dos maiores intérpretes da actualidade na abordagem de marrabenta, blues, soul, fado, latino, merengue e outros.

O público esteve atento a cada movimento do aniversariante. Vestido a negro, Mazuze tinha a plateia a seguir-lhe a cada passo e não lhe pouparam as palmas quando a interpretação fosse admirável. Ainda assim, uma espécie de tensão pairava na sala de espectáculo e de vez em quando, Alexandre dialogava com a plateia, mostrando a outra sua veia de um bom comunicador. Comentou, por exemplo, a falta de seriedade por parte dos empresários ligados à área musical, dando a entender que não foram fáceis estes 32 anos de carreira num país que não valoriza os seus artistas. A parte final não poderia ser de outra forma: simplesmente emocionante. O Majescoral corou o aniversariante e a plateia ao cantar a canção "Vai com Deus" (transportando-nos momentaneamente para uma noite antecipada de natal) e ainda o tradicional "Parabéns a Você" distribuído pelas 14 vozes esculpidas entre sopranos, tenores, baixo e contralto.

Cinco bailarinas inspiradas na coreografia e indumentária típica da Companhia Nacional de Canto e Dança desceram o pano de um concerto que não foi propriamente uma noite de magia musical, embora com tanto glamour. Antes de abandonar o recinto, a plateia foi convidada ao corte de bolo temático (com guitarra e claves de som) exposto no átrio do "Gil Vicente". Entre beijos e abraços, o aniversariante embora descontraído, denunciava no semblante algo preocupado (?), de alguém que não terá atingido o clímax....Era a emoção e o peso dos 50!

ALBINO MOISÉS


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