1. Não consigo arranjar um qualificativo capaz de descrever melhor o comportamento negativo que o cantor moçambicano Ivo Mahel tem vindo a demonstrar nos últimos tempos. Mahel é um artista que poucos são os que saberão indicar quaisquer defeitos no seu trabalho artístico. Aliás, eu pessoalmente faço parte do grupo dos que não têm dúvidas de que falar de Mahel é o mesmo que se referir a um artista com créditos firmados no panorama musical moçambicano, graças à alta qualidade das suas composições, assim como ao facto de ser hábil na execução vocal.Com efeito, entre a arte que desenvolve e o discurso com que o artista defende o seu trabalho vai aí uma grande distância.
Eu cá por mim, devo confessar, tenho andado a preferir mais ouvir as suas músicas do que ouvir o Mahel a falar das suas próprias músicas, pois quando fala parece mentir com a mesma habilidade com que canta. Em entrevista ao semanário Magazine Independente, conduzida pelo jornalista Azael Moiana, há sensivelmente seis meses, Mahel não fez outra coisa senão mentir, contar histórias falsas. Mas a verdade, já dizia o procurador nos seus tempos de juiz, a verdade é como o caju, não tarda muito para que ela amadureça e caia por si própria. É que, para sermos sinceros, não são todos os dias que um artista consegue uma página inteira num jornal, para falar de si e dos seus projectos.
Mahel usou mal a oportunidade que lhe foi concedida. Aliás, tem estado a fazer um mau uso do espaço público que lhe tem sido dado pelos órgãos de comunicação social.Entre o que o músico disse ao Magazine Independente há sensivelmente seis meses e o que andou a dizer nas últimas semanas à Televisão Independente de Moçambique, quando entrevistado por Sérgio Faife no programa “Na Primeira Pessoa”, vai uma enorme distância. Na verdade, não sei mais em qual das suas declarações devo acreditar, se naquelas antigas ou então nestas últimas.
Na entrevista ao Magazine, Mahel já nos tinha avisado sobre o efeito das suas próprias mentiras. Quando o jornalista perguntou sobre aquela famosa notícia segundo a qual Mahel ia posar nu para uma revista Play Boy, o músico respondeu que na verdade tratou-se de uma invenção sua, um golpe de marketing que nas suas palavras funcionou muito bem na altura pois elevou ainda mais a sua carreira. Como dar crédito a uma pessoa que volta e meia vem-nos dizer que a notícia que nos fez divulgar não passa de uma pura invenção, de uma pura mentira?
Mesmo assim, o jornalista parece não ter duvidado do que Mahel continuaria a dizer depois de ter dito que da outra vez mentiu, tendo prosseguido com a entrevista, insensível do golpe de marketing que poderia estar na mesma a sofrer e que de novo os leitores sofreriam.
Mahel deve saber que está a lidar com jornalistas, profissionais de comunicação social e tentar no máximo evitar justificativas dessas, pois o marketing com que tanto se defende não se faz com mentiras tão feias quanto essas. Aliás, não se percebe muito bem por que razão uma mentira tão feia quanto essa – de querer posar nu para uma revista Play Boy – iria elevar ainda mais o seu ego artístico. O que mais me intriga é que o artista mente com um discurso tão polido que até passa despercebido aos menos avisados.
Questionado sobre os seus projectos do futuro, Mahel manifestou a sua insatisfação com Moçambique, tendo afirmado que estava de malas aviadas para a Inglaterra onde seguirá sua carreira musical. A pergunta que o jornalista já não fez, e que se calhar era suposto que a fizesse (me perdoa o Azael), era se essa pretensão de Mahel de deixar o país para viver na Inglaterra não seria mais um golpe de marketing à americana que o artista estaria a dar mais uma vez para granjear simpatias junto dos seus. (O Marconi Ferraço, o da telenovela da noite, diz categoricamente que há tolos que ficam à espera de ser enganados e que alguém tem que prestar-lhes esse favor). Mahel anda aqui a mentir. A entreter-nos. Aliás, nas suas últimas entrevistas – como há poucas semanas a Sérgio Faife – Mahel já não fala mais da sua pretensão de deixar o país para ir viver na Inglaterra ou eu sei lá que outro país. Sérgio Faife, se calhar por não ser propriamente um jornalista mas sim um animador televisivo e “promotor de estrelas”, não fez uma entrevista que visava saber a verdade, por isso não chegou a se dar ao trabalho de perguntar ao nosso artista das mentiras se continuava com aquela sua ideia de abandonar o país.
Mas mesmo não tendo sido perguntado, se continuava a ser sua pretensão abandonar o país, Mahel devia ter dito a plenos pulmões, como fez ao Magazine Independente. Muito pelo contrário, o nosso artista falou de outros objectivos, outros sonhos. Na entrevista com o Faife, falou do “bom trabalho” que tem vindo a ser feito pela mCel, empresa de telefonia móvel da qual até muito bem pouco tempo era um crítico assumido. Mahel agora elogiou o facto da empresa celebrar contratos com artistas como Lizha James e Stewart Sukuma, como quem em muito pouco tempo voltou a morrer de amores pela Pátria desamada. Mahel já não fala mais de partir para lugares além mar. (“Ampla e aberta é a porta do mar” – Mia Couto, in “Raízes de Orvalho”). Aliás, Mahel manifesta agora a sua vontade de também poder ser contratado pela mCel, ele e outros artistas. Pelo que, ao que tudo indica, ouvir Mahel ainda vai doer.
2. A outra parte do discurso de Mahel que nos deixa com a boca aberta, tem a ver com o facto de se declarar um artista realista, justificando-se, pois, pelas suas músicas que alegadamente abordam coisas reais da sua vida e da sociedade. Não acredito muito que a verdade poética se manifesta pela exposição plena da sua vida íntima e privada para o consumo da sociedade. Realismo não é bem isso. Os problemas que Mahel teve com a sua ex-consorte – a ponto de cantar que “filho que é meu não é meu” – dizem respeito à sua vida privada, íntima, a nós não nos interessa para nada, tanto mais que se tiverem que ser discutidos em tribunal, vai ser à porta fechada. Pertence à privacidade familiar. Por outro lado, tanto o seu filho, quanto a sua ex-consorte, não têm direito de ver as suas vidas íntimas e privadas expostas publicamente como acontece no seu discurso e na poesia das suas músicas. (Outro dia, o MC Roger, homem de marketing por excelência, disse aqui uma coisa interessante: “A minha esposa não precisa de ser exposta apenas porque eu sou uma figura pública, pois ela tem a sua própria privacidade”. Uma lição interessante esta!).
Ser um artista realista, tal como Mahel diz que é, não é falar, falar e falar sem ter em conta que onde termina a liberdade de um começa a liberdade de outro. Isto porque, se bem analisadas as coisas, Mahel poderá estar a atentar contra a privacidade dos seus.
3. Mais não disse.
1 comentário:
O Mahel tem tudo para seguir em frente. uma voz maravilhosa, boa capacidade de expressao mas, perde-se concentrando-se apenas na vida privada dos seus. ele ja nao term sido Humilde e as pessoas nao gostam disso.
Muita forca e amadurece Mahel
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