segunda-feira, 20 de outubro de 2008

99fm entrevista Azagaia


99FM: Quem se esconde por trás de Azagaia?
Azagaia: Por trás deste personagem do Hip Hop moçambicano, existe um jovem de 23 anos estudante universitário, que é igual a muitos outros, sonha com um ambiente melhor à sua volta, e como adora literatura e se interessa por todas as formas de expressão artística, luta através da arte musical para mudar acima de tudo a mentalidade das pessoas, pois este é, na minha opinião, o primeiro passo para mudar o mundo que nos rodeia.

Azagaia é um jovem que por pertencer à classe média-baixa de uma sociedade do terceiro mundo cedo se viu invadido pelos dilemas da pobreza, corrupção, luta pelo poder e manipulação do povo para manutenção de uma falsa democracia que favorece apenas a uma minoria. Azagaia é acima de tudo um sonhador que acredita que pode tornar realidade a igualdade entre os homens.


99FM: O que se anda a fazer de Hip Hop em Moçambique?
A: Existe muito movimento embora bastante escondido, o verdadeiro Hip Hop ainda não saiu às ruas como devia ser, os potenciais percursores desta cultura andam escondidos em estúdios underground, organizam shows pouco divulgados por falta de poder monetário para tal, e francamente ainda falta união entre todos os intervenientes. Assiste-se também em Moçambique, como acredito que um pouco por todo mundo, à deturpação do Hip Hop pelas influências comercias, já perdemos muitos soldados para o outro lado devido à sede de fama, algumas das cabeças do Hip Hop moçambicano estão completamente vendidas, é triste, pois os mais novos aderentes desta cultura vêem-se sem referências.

Mas como disse no princípio nem tudo vai mal, o pessoal que acredita no Hip Hop ignora os “desviados” e continua firme. Em Quelimane, Beira isto no centro e norte do país temos os Náuseas; com o rapper Yazald que lançou mais uma bomba bastante controversa TUDO SE COMPRA, TUDO SE VENDE, o rapper Drifa também já tem o seu álbum a solo no mercado, e o Brada Cycle também. Temos os 4 Ases também na Beira embora sem álbum. Em Maputo é que se concentra a nata do Hip Hop Moz com a Gpro, Cotonete Records, Micro 2 (Flash e Legacy), Track Records, Estudio 911, Banda Podre, Mr. Arsen, Xiticu Ni-Mbaula, Same Blood, Cdub, Simba, Ripper, estes são apenas alguns de um universo muito extenso.

99FM: Fazes parte da editora: “Cotonete Records”. Qual é o conceito da Cotonete?
A: Basicamente eu diria que temos como lema “mais Hip Hop no teu ouvido”.
A Cotonete pretende inundar o mercado nacional e depois internacional com Hip Hop consciente de qualidade, queremos ser uma grande potência sempre que se falar de Hip Hop, porque só assim o vamos trazer de volta, e percebemos também que infelizmente muitos fazedores do Hip Hop se venderam aliciados por grandes shows e cachets, conscientes disso queremos intensificar o movimento com mais shows e cds numa primeira fase, para depois investir noutros elementos do Hip Hop, isto é na nossa opinião unir o útil ao agradável, porque queremos despertar consciências com o conteúdo das nossas músicas e ao mesmo tempo mostrar que não é preciso deixar de fazer bom Hip Hop para dar shows e ter cachets razoavelmente bons, a música hoje é também negócio, e para atrairmos investidores temos que mostrar que existe retorno, e é isso que se começa a assistir por aqui. Acreditamos que daqui a algum tempo, o Hip Hop já estará numa posição mais confortável no panorama musical nacional.

Pretendemos também leva-lo a um contexto mais prático de intervenção social, a Cotonete tem em vista a organização de fóruns de debate sobre vários temas sociais, e levarmos a cabo também acções de ajuda de crianças desfavorecidas canalizando o que conseguirmos desde roupas a material escolar. Portanto mais “Hip Hop no teu ouvido e mais que Hip Hop no teu ouvido”.

99FM: Do teu album consta o single: “As mentiras das verdades” que está a ter sucesso para alem de fronteiras. Como explicas este sucesso?
A: Eu acho que é pelo facto desta música ter servido como uma via de escape para todos e sentimentos e preocupações guardadas no íntimo de todo moçambicano, esta música abordou temas que só se tinha a coragem de falar baixinho nas esquinas ou na segurança do lar, este som simboliza a revolta camuflada no coração e mente de todos que se sentem oprimidos por este sistema que ainda não consegue chegar às verdadeiras necessidades do povo, pelo contrário distancia-se cada vez mais, produzindo um fosso entre os muito ricos e os muito pobres, eu diria também que este som mostra que a nossa história ainda tem muitas incógnitas e é apenas escrita pelos “vencedores”, então o povo aplaudiu esta iniciativa do verdadeiro exercício de liberdade de expressão que muitos evitam por medo de perder o emprego ou no pior dos casos ser vítima de violência.

99FM: BABALAZE e o título do teu álbum. O que podes falar acerca da tua estreia no mercado Português e Moçambicano?
A: Quanto ao mercado nacional eu diria que aspiro a uma afluência de massas para adquirir o cd, isto devido à experiência que tive com o single, a mensagem do grosso das músicas que pertencem ao BABALAZE pertence à mesma linha das “Mentiras da Verdade”, e acho que o povo vai querer entrar mais no mundo do bom Hip Hop de intervenção social.

Quanto ao mercado Português posso dizer que e uma experiência completamente nova, visto que o Hip Hop moçambicano ainda não tem uma larga expansão além fronteiras, mas acho que este passo é uma prova de crescimento do nosso movimento e aumento de qualidade da nossa música. Acredito também que em Portugal se vive muitos dos dilemas que vivemos aqui, vejo isto através dos sons que me chegam, de um modo geral acho que o pessoal daí terá o atrevimento de experimentar o que se faz em Moçambique como costuma fazer com os sons de Angola e Brasil.

99FM: Na página Oficial da BBC encontramos um artigo sobre ti e uma entrevista. Qual foi a reacção de veres que o teu Hip Hop está a passar fronteiras?
A: Epá, foi emocionante e extremamente gratificante, embora eu sempre tenha acreditado no meu trabalho, confesso que não esperava atrair a atenção de gente pelo mundo à fora, senti também uma grande responsabilidade sobre os meus ombros.

Mas fez-me despertar também para o facto de a comunidade internacional não estar indiferente ao que se passa aqui dentro, e vejo que nos tornámos mesmo numa grande aldeia global, se os meios de comunicação às vezes provocam confusão na cabeça das pessoas, é bom também que saibam divulgar os nossos gritos.

99FM: O que podemos esperar de ti num futuro próximo?
A: Um grande movimento de divulgação do meu album a contar muito com o apoio de quem se identifica com a minha causa, poderá fazer com que a minha mensagem chegue a todos países de expressão portuguesa numa primeira fase. Vamos fazer esforços para fazer shows fora de Moçambique e trocar experiências com outros músicos que partilham das mesmas ideias.

99FM: Queres deixar algum recado?
A: Primeiro agradecer a oportunidade de estar aqui e dizer que todos temos uma responsabilidade quando o assunto é melhorarmos a nossa realidade. Iguais a mim sei que existem aí pelo mundo e todos juntos somos muitos, podemos mudar o curso dos acontecimentos ou morremos tentando, porque um novo mundo é inevitável. Mano Azagaia tá na casa, Paz Amor e Liberdade.

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