sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Otis, O sax Mocambicano


O saxofonista Otis actuou para o líder da ONU, Kofi Annan, e para emigrantes de São Francisco a Hong Kong. Esteve vários anos nas bandas de Tito Paris, Paulo de Carvalho ou Roberto Leal e lança em NOvembro o quinto disco de originais. O moçambicano é um senhor músico.

Otis é daqueles músicos com currículo impressionante e, aparentemente, um quase desconhecido da sociedade civil. A sua vida musical percorre o jazz ao tradicional pelos cinco continentes, da natal África á histórica Europa ou cosmopolita América.

Otis, nasceu em Inhambane, Sul de Moçambique. O pai era maestro numa banda regional, por isso Otis esteve na escola de música local 12 anos. Mudou-se entretanto para a capital Maputo, então Lourenço Marques, frequentando os estudos gerais na Escola Comercial, que não chegou a concluir pela paixão da música.

O "saxman" intregrou vários grupos, até ficar efectivo na banda da Rádio Moçambique, durante seis anos. O grupo fez uma extensa digressão em 1978, abarcando Cuba (11º Festival Internacional de Havana), Alemanha, Checoslováqia ou Bulgária.
Otis aproveitou a viragem na direcção da banda, em 1985, para vir para Lisboa, onde ainda reside (Linda-a-Velha).

O saxofonista começou em pequenos projectos, sendo até músico convidado do Festival da Canção, no final dos oitentas. O cantor popular Roberto Leal viu-o e convocou-o de imediato para a sua banda, mas Otis só aceitou à terceira. Durante 12 anos, Roberto Leal correu as comunidades lusófonas de Caracas a Washington, de Paris a São PAulo. "Foram tempos maravilhosos. Conheci meio mundo e milhares de portugueses", recorda o moçambicano.

Da World Music ao House

Seguiram-se as colaborações com Paulo de Carvalho (quatro anos), Miguel & André (três anos), João Portugal (um ano) e Beto (um ano). O cabo-verdiano Tito Paris tembém o chamou. "Desenvolvi mais a 'world music' e conheci o outro lado do mundo, de Hong Kong a Madagascar. Sou um previlegiado", admite Otis, sincero. Vieram também convites de Rui Veloso. E até de Dulce Pontes, que em 1997, o desafiou a tocar consigo em Nova Iorque num concerto para o representante máximo da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan.
Mas o admirador de jazz e dos saxofonistas Grover Washington Junior, Dave Kose e Kenny G (o que mais discos vendeu até hoje:30 milhões) também é autor e compositor.

Em Novembro saiu o seu quinto disco, "Olhar para Trás", a fixar o espelho do tempo e a perspectivar a carreira; contou com colaborações de uma cantora alemã de jazz ou das coristas Dora & Sandra, dos Delfins.

Nos discos anteriores de Otis, participaram igualmente Nucha, paulo de carvalho e os Anjos, entre outros.
Uma das últimas actuações a solo foi no "Língua da Sogra", em Esposende, na festa da revista Cidade 21. O cardápio incluiu standarts e temas improvisados. o público ficou contagiado. "Adorei o espaço, o bar exterior é excelentíssimo, a gente acolhedora.

Curiosamente, o intérprete que faz jogging no tempo livre tem-se dedicado ultimamente mais ao house, fazendo duplas com Dj em bares, discotecas ou casinos de Norte a Sul do país. "Sempre me abri à fusão de estilos, influências e novas tendências. É outra etapa da minha evolução como músico, e estou a gostar!", concretiza.

Entrevista à Revista Autores

Otis é um dos poucos artistas moçambicanos que escolheram Portugal para seguir uma carreira musical. Filho de um maestro, cresceu ao som de vários estilos musicais e, actualmente, é considerado por muitos como o melhor saxofonista a residir e a actuar em Portugal. Discípulo de Dollar Brand (Abdullah Ibrahim), com quem já tocou, Otis acabou de lançar o seu quinto trabalho discográfico a solo, "Olhando para trás". Um disco tranquilo, onde o autor recorda todas as influências que fizeram dele um músico de excepção.

Autores - Não é comum encontrar artistas moçambicanos em Portugal, contam-se quase pelos dedos de uma mão os que vieram para cá. Preferiram fica em Moçambique ou foram para outras paragens?

Otis - Em Moçambique, talvez pela influência sul-africana, os nossos músicos que saem do país vão, em primeiro lugar, para a África do Sul, uma terra de excepção. E dali saímos para o Zimbabué, a Tanzânia e outros países. Mas não é fácil triunfar na África do Sul: eles "defendem-se" bem, são proteccionistas, é preciso ser muito bom para vencer na África do Sul. E, por mim, acho que o esforço para penetrar no mercado sul-africano não compensa. Aquele país é um mundo, tem de tudo, é uma potência. Tem de ser muito bom para eles nos deixarem entrar, senão é mais um que por lá anda. Para mim não compensa. Não é que tenha medo da competição, mas prefiro estar em Portugal.

Autores - Quando se fala em Moçambique, a nível musical, lembramo-nos logo da marrabenta. Mas o Otis é um músico moçambicano que toca saxofone. De onde vem essa paixão?

Otis - Eu nem gostava de saxofone, foi o meu pai que me obrigou. Ele era maestro de uma banda, em Inhambane, e hoje agradeço-lhe ter-me influenciado. Quanto à marrabenta, é a nossa música popular enão a esqueço. No meu primeiro disco misturei marrabenta em alguns dos meus temas, mas essa experiência não foi bem sucedida. Só funcionou nos discos seguinres, e já editei cinco. No último disco, pode-se ouvir muita marrabenta.

Autores - Como músico instrumentista é fácil arranjar espectáculos, ter trabalho?

Otis - Estive dez anos para conseguir entrar no mercado português, não foi fácil. E trabalhei com gente importante, trabalhei no Fontória, e foi a partir daí que começaram a abrir-se-me as portas desse mercado. O Roberto Leal viu-me uma vez na televisão, contactou-me, e comecei a trabalhar com ele. Foi uma experiência extraordinária, tenho excelentes recordações, fizemos tournées por todo o mundo. Além disso também toquei com o duo Miguel e André, com Paulo de Carvalho, o Eduardo Paim, o Paulo Flores, entre muitos outros - e peço desculpa aos que me esqueço de citar. Estes músicos ajudaram-me muito, integrei-me melhor na sociedade e na música portuguesa. E ganhei experiência, posso tocar vários estilos musicais. O mercado português é pequeno, para podermos viver e ter trabalho temos que noa adapter. Tocar um único género musical em Portugal não dá, não sobrevivemos.

Autores - Essa experiência contribuiu para a fusão que actualmente faz na sua música?

Otis - Nem mais. Ter tido a oportunidade de tocar com músicos de várias áreas e em vários lugares do mundo fizeram de mim um músico polivalente. Com o meu sax consigo tocar um pouco de tudo, desde marrabenta, kizomba, fado, Rn'B. Até música chinesa...

Autores - Essa mistura de influências nota-se nos discos que gravou até agora?

Otis - Sim. Até agora gravei cinco discos, e o mais curioso é que consigo vender mais no

estrangeiro do que em Portugal. O mercado português é pequeno e as pessoas não estão habituadas à música instrumental. Dou um exemplo: o disco "Influências" que gravei em 1999, vendeu mais nos Estados Unidos do que cá. Claro que nos Estados Unidos o mercado é potencialmente forte e muito maior, mas na verdade é que eu nos Estados Unidos não sou conhecido como sou aqui.

Autores - Já consegue viver só a fazer música?

Otis - Agora sim. tive uma altura que era complicado, mas felizmente agora tenho muito trabalho. Não faço só concertos, sou chamado para animar eventos, lançamentos de marcas, inaugurações de lojas, restaurantes... Trabalho de Segunda a Domingo.
Discos e Titulos dos Temas editados por Otis.

Olhando para Trás (2006)
01. Dongo Moçambique
02. Thank you Lady
03. Gano Zeca
04. Meninos d'África
05. Ana
06. Ethnic Emotions
07. Gaia Moçambique
08. Xihono Muny
09. Pom
10. Olhando para Trás
11. Influências
Viver (2004)
01. Viajando
02. Xubenga
03. Viver
04. Estamos Aí
05. Week End
06. Maria de L. Mutola
07. Moçambique
08. Young Boy
09. Di Meu
10. Morabeza Inn
11. Nha Vida
Influências (1999)
01. Guilhermina
02. O Meu Adeus
03. My All
04. Influências
05. Pacha Ofir
06. Eu Respeito Inhambane
07. Massachusetts
08. Angelina
09. Espaço
10. Baía de Machico
11. Noites Calmas
A Lógica (2001)
01. Anthony
02. A Lógica
03. Fusão
04. Stêlla
05. Halima
06. Voltar à Terra
07. Ethnic Emotions
08. Estrada da Terra
09. Reflexus
10. Cream Dreams
11. Príncipe

Gaia Moçambique (1993)
01. Gaia Moçambique
02. Mano Zeca
03. Friends
04. Meninos d'África
05. Xipamanine
06. Rogério Dias
07. Pai
08. Mapiko
09. Thank you Lady



Tel: (00351) 96 270 54 56
Email: otis@otis-sax.com
Site: http://www.otis-sax.com/
http://www.myspace.com/otissax
Lisboa - Portugal

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