sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

João Craveirinha reage: "A Marrabenta não é nem nunca foi de Gaza"


O escritor moçambicano, João Craveirinha, reagiu às declarações de Alberto Mula, o manjacaziano, segundo as quais a marrabenta é de Chibuto. Eis a opinião de Craveirinha:

"A Marrabenta não é nem nunca foi de Gaza"... É com muita tristeza que digo: Nunca vi tanta ignorância em Moçambique sobre a cultura moçambicana como agora. Nunca digam que não existem pessoas que sabem quando vocês desconhecem algo da cultura moçambicana. E isso nada tem a ver com especialistas de coisa alguma. Mas sim de conhecimento e de vivência.

A poesia de José Craveirinha descreve a Marrabenta e o local de nascimento no seu poema “Comoreano” que toda a gente da faixa etária dos 70 anos em frente se lembra. Nem nos anos 1970 da era colonial a ignorância sobre a origem das coisas moçambicanas era tanta como agora. Tudo isto é fruto do apagão cultural implementado pela "linha correcta" que veio de Nachingweia com todos os ismos anti-rongas, anti-sena, anti-macua, anti-tetense, anti-manhambane, anti-quelimanense, e, em geral, anti-urbano contra os assimilados que viviam nas cidades moçambicanas. Isto é: a mentalidade do mato (nos seus aspectos negativos), sobrepôs-se à cidade nos aspectos positivos que pode ter (de vida em comunidade mais aberta em modernidade e civilidade). A prova está na falta de urbanidade de que enfermam as cidades de Moçambique. O Sinónimo de Desenvolvimento de um país é as cidades conquistarem o mato e não ao contrário com cobras, lixo e tudo.

Em relação à Marrabenta (nome de raiz de arrebenta do verbo em português), trata-se de um ritmo dentro do género da URBAN MUSIC nascido na Mafalala mestiça e ronga dos anos 1930 a 1940 e da fusão básica da Mâgika do Guijá e da rumba cubana (tocada no Comoreano e no Grupo Desportivo Zambeziano de tetenses, fundada por Baltazar Chagonga (por sinal fundador do único partido político moçambicano com sede no interior de Moçambique em 1960 a 1964).

Voltando à marrabenta: outros sons intervenientes foram o Zore dos manhambanes também a viverem na Mafalala na década dos anos 1930/40. Foi no Comoreano dos maDjódjos onde tocava o grande guitarrista mestiço Daíco que a fusão teria se formado. Outro interveniente foi o Chico Albasine, filho de José Albasine do proto-nacionalismo do Grémio Africano, e o Mudapana que trabalhava no John’Orr’s onde hoje está o Banco - MBCM na baixa.

Tudo isto foi dito e documentado num programa da RTK em 1999, intitulado Craveirinha Toque Show - Que Caminho para a Música Moçambique? O maior compositor da Marrabenta foi o maestro António Saúde da Mafalala e o 1º negro a ser maestro numa orquestra de brancos em
Durban na década de 1940.
O que Dilon Djindji toca é a Mâgika (rural e tradicional – folclore) e não a Marrabenta (suburbana) com instrumentos modernos ocidentais, que daria a música ligeira e não tradicional. O rei da Marrabenta, Fany Mpfumo (marronga), era adolescente (anos 1940) quando assistia no Comoreano (o dono era das ilhas Comores) onde havia sessões de Jazz, Rumba cubana e Samba tocada por marinheiros brasileiros, norte-americanos, cubanos em jam sessions com músicos moçambicanos. O Comoreano foi o maior salão africano e moderno de baile suburbano em Moçambique na época e multiétnico.

O verdadeiro pai da Marrabenta, o operário José Paixão – o Zagueta – boxeur, dançarino de sapateado e swing, mulherengo, enfermeiro, espírita e futebolista do João Albasine do Minkadjuíne, ele foi o mestre-divulgador nº 1 dos passos base da Marrabenta quer na Mafalala quer no Centro Associativo dos Negros do Xipamanine, quer na Associação Africana ex-Grémio Africano do Alto Maé dos irmãos Albasines. Outras expressões do Zagueta ficariam célebres ao dançar ( ainda o vi a dançar): Arrebenta; Maria, Executa (o passo…Maria zucuta); Quebra; Risca o chão; senta abaixo; - Zagueta era filho de um branco português e de uma negra ronga.
O poeta -mor, José Craveirinha, em 1960 reabilita a Marrabenta estudando, profundamente, suas raízes e projecta na cidade de cimento da Lourenço Marques colonial chegando ao Hotel Polana da elite branca em 1962/3 através da pintora moçambicana, Bertina Lopes, e o conjunto italiano “Os Cinco de Roma” que lá tocavam. No início dessa década a Rádio Clube de Moçambique inicia um programa “África à Noite” de Alberto Mendonça influenciado por José Craveirinha da Associação Africana.

O músico João Domingos (de Inhambane) acrescenta a versão de um músico de Xai-Xai (mestiço), que nos bailes associativos arrebentava as cordas da viola ao solar um ritmo parente da marrabenta e então um dos presentes pedia que tocasse de novo aquela música que “arrebentava” as cordas. No entanto, e sem dúvida, foi o popular Zagueta que espalharia o nome de Arrebenta e o povo do subúrbio da Mafalala diria “i maRRabenta” ya Zagueta. Tudo isto já foi escrito e dito e repetido parcialmente em imagens no projecto de vídeo de João Craveirinha filmado em 1998/99 em Maputo. VídeoJC projecto para seriado para Televisão
Há mais, mas por hoje é tudo.
João Craveirinha, opinião 23/02/2008
Está longe de terminar a polémica que envolve a “velha guarda” em relação ao criador e à origem do ritmo musical marrabenta. Depois de Dilon Ndjindji se ter auto-proclamado dono deste estilo musical e que o mesmo foi criado no distrito de Marracuene, eis que aparecem, do fundo do túnel, vozes com novas revelações. Alberto Mula, um mandjacaziano, diz que o primeiro tocador de marrabenta foi Feliciano Gomes Muntano, de Chibuto, província de Gaza, e não só...

Mais tarde, veio o ritmo a majika, que teve como fundador Gabriel Muthemba, também de Manjacaze, também província de Gaza. Dentre os primeiros tocadores da marrabenta, que iniciou em 1949, há quem também fale de Daíco, um exímio guitarrista ainda no tempo colonial. Para Mula, “o primeiro tocador da marrabenta foi Feliciano Gomes Muntano, de Chibuto”.

Entretanto, Dilon Ndjindji ainda assume radicalmente a posição de que ele é que “pariu” este género musical em Marracuene. O maior erro é que nada está documentado sobre quem foi o fundador deste ritmo e onde ele surgiu.

Marrabenta não vai desaparecer
Os fazedores do estilo musical marrabenta vieram a público assegurar que este ritmo não irá desaparecer. Trata-se de Dilon Djindji, Alberto Mutcheca e Xidiminguana. O trio defendeu isso à margem do espectáculo inserido no Festival da Marrabenta, realizado de 1 a 3 de Fevereiro em curso na cidade de Maputo e no distrito de Marracuene. “Existem jovens que estão a segurar a marrabenta... eles é que acompanham as nossas bandas; a marrabenta não vai morrer”, consideram.

Quanto ao festival, o qual a organização garantiu que vai ser anual, o objectivo é homenagear os artistas de música marrabenta, que ao longo dos anos fizeram deste género musical a bandeira de Moçambique. A ideia é reavivar-se os grandes momentos que marcaram o período pós-independência em que este estilo musical era manifestamente o principal “cardápio” das festas.

http://www.opais.co.mz/noticias/index.php?id_noticia=5506

Maputo (Canal de Moçambique) - O palco do «Centro Cultural Franco-Moçambicano» acolhe na noite de hoje, a 1.ª Edição do Festival da Marrabenta. No festim, vão desfilar os nomes mais sonantes da marrabenta, um estilo musical muito popular no país e além-fronteiras. Os pesos-pesados do referido estilo musical serão as estrelas da noite de música, dança e calor que vai acontecer hoje no «franco-moçambicano».
Os «Galtones», Xidiminguana e Dilon Djindji são os nomes que vão encher a noite que prometer ser de rebentar. Outro nome que fará parte do já referenciado festival é o guitarrista Nanando que muito bem sabe pôr a sua guitarra a encantar com os sabores da marrabenta. Serve de referência dizer que o Festival de Marrabenta continua amanhã na Vila de Marracuene, por ocasião do «Gwaza Muthine» e no dia 3 de Fevereiro no Centro Cultural de Matalane, do artista plástico Malangatana. Dizer mais para quê, a marrabenta está no ar.

Celso Manguana) 2008-02-01 05:51:00

22/01/2008
Arranca, no dia 1 de Fevereiro, o Festival anual de Marrabenta em Moçambique, na sua campanha de 2008 uma iniciativa da empresa de produção de eventos Logaritimo, em parceria com o Centro Cultural Franco Moçambicano.

Este festival tem a duração de três dias e reúne os artistas moçambicanos da velha geração, como Alberto Mula, Alberto Mutcheca, Dilon Djinji, Xidimigwana e o projecto Rádio Marrabenta, aliás, os precursores da marrabenta.

“O Festival de Marrabenta quer que se faça a devida homenagem aos artistas de música que ao longo dos anos fizeram com que a marrabenta fosse aquilo que toda a sociedade reconhece – património cultural moçambicano.”, diz o comunicado enviado à nossa Redacção pelos organizadores do evento.
O festival de marrabenta quer que se reavivam os grandes momentos que marcaram festas, concertos e casamentos, antes e após a independência nacional. O festival de marrabenta quer juntar no mesmo palco músicos que podem contribuir para a compreensão do percurso da música popular urbana.

Fonte: Redacção Jornal O Pais.

Música popular afeiçoada pelos moçambicanos, a marrabenta aparece nos anos 50, na idade de ouro de Lourenço Marques. Nesta época, a cidade era reputada pela sua doçura de viver e pelas orquestras que animavam as noitadas da capital. A marrabenta, com o seu ritmo animado e suas melodias arrebatadoras, conta através de uma súbtil mistura, pequenos detalhes da vida quotidiana em Maputo e dos grandes eventos da história de Moçambicana.
Na origem, a marrabenta é tocada em acústica por um cantor masculino acompanhado por um coro de mulheres. Hoje em dia instrumentos modernos foram introduzidos. Ao longo dos anos, a marrabenta tornou-se um símbolo cultural nacional e uma referência identitária forte. Muitos mestres da marrabenta passaram uma parte das suas vidas na Africa do sul, onde trabalhavam nas minas. Entre os mais célebres, Francisco Mahecuane, Alexandre Langa, Lisboa Matavele, Abílio Mandlaze e Wazimbo. Durante anos, a orquestra marrabenta de Moçambique, fez vibrar a capital.
A marrabenta atravessou gerações e suscita ainda hoje um grande entusiasmo nos moçambicanos. Os anos 90 em Moçambique foram marcados pelo músico Xidiminguana tornado um grupo culto, símbolo da emergência de uma música moçambicana. Entre outras figuras desta época, temos Chico antónio que apresenta melodias sofisticadas de inspiração tradicional associando percussões, flauta, guitarra e viola baixo e que na companhia da cantora Mingas ganhou em 1991 o prémio RFI descobertas; José Mucavele guitarrista acústico que canta canções tradicionais adaptadas aos ritmos contemporâneos ou ainda Elvira Viegas que adapta ritmos da marrabenta à uma estéctica musical mais pessoal.



Abaixo estao alguns comentarios sobre a marrabenta!

A danca do meu pais. Adoro dancar isto. Sinto mto orgulhosa de ser mocambicana ...

Como é bom dançar isto!Cantei e canto hoje para os meus filhos esta música!

WOW! Que maneira maravilhosa de representar a nossa cultura! E algo que me faz sentir orgulhoso de ser um mocambicano! Viva a cultura mocambicana e a mocambicanidade!

em tempos dancei ..

Bonita Historia de Mocambique !

1 comentário:

Anónimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS