Um grupo de músicos moçambicanos está há sensivelmente dois meses envolvido numa série de debates com os olhos postos na pretensão de transformar o presente ano em “Ano da Marrabenta”, uma iniciativa que visa legitimar o estatuto da marrabenta como um dos simbolos da música moçambicana, um acto que será também o ressuscitar de uma consciencia cultural que foi outrora um alicerce fundamental para o desenvolvimento sócio-económico.
Os artistas que estão por trás do mais recente projecto revolucionário sabem que lhes esperam diferentes situações, mas acreditam na adesão de diferentes intervenientes deste segmento artístico, independentemente das províncias que representam e dos géneros musicais que cada um deles pratica, os quais deverão se unir em nome da legitimação da marrabenta como um dos principais géneros populares que conseguiu se fazer valer no país.
Moçambique precisa de admitir de uma vez por todas que a marrabenta é que é – do Rovuma ao Maputo – a música popular que mais representa o país, asseverou o músico Stewart Sukuma, um dos líderes do projecto. O artista, que mesmo sendo natural da província da Zambézia não se escusa de admitir que a marrabenta é um género musical popular que pode representar o país, sabe que defender essa tese é o mesmo que comprar uma guerra sem precedentes. “Há quem não vai compreender facilmente esta iniciativa porque infelizmente ainda existem vários preconceitos por a marrabenta ter surgido no sul do país”, adiantou.
Apesar de a história recente do país ter relegado a marrabenta e outros géneros musicais em bene-fício de ritmos americanos, europeus e tropicais oriundos das Antilhas, de Angola e Cabo Verde, uma situação agravada pelo “olhar impávido dos artistas moçambicanos da velha geração”, Stewart Sukuma acredita na fantástica capacidade de a marrabenta, sem menosprezar outros valiosos estilos musicais, poder ser a fonte de electricidade que a indústria musical moçambicana precisa para se impor tanto no mercado interno quanto externo. “Não podemos continuar a reclamar de braços cruzados e a gritar que a marrabenta está a morrer como fizeram os mais velhos. Temos que arregaçar as mangas e trabalhar, usando os novos mecanismos que existem para que um produto possa vingar no mercado”, disse.
O artista destacou a importancia de se aplicar à marrabenta os mesmos mecanismos de marketing musical que se aplicam em outros géneros musicais que tendem a se evidenciar mais na música moçambicana.
Os precursores do pandza, baptizados com o epíteto de músicos da nova geração em oposição aos da chamada velha geração, são chamados a fazer valer os seus conhecimentos para o sucesso do projecto. Com o domínio do conhecimento nas mãos dos mais velhos e experientes, aliado às novas tendencias e as novas tecnologias nas mãos da nova geração, Sukuma acredita que não há como falhar. “Só se faltar vontade como tem vindo a acontecer”, admitiu.
Cerca de 50 músicos
Em linhas gerais, o projecto “2010: O Ano da Marrabenta” consiste em incutir nos artistas, do Rovuma ao Maputo, a necessidade de fazerem marrabenta sem perderem as suas próprias identidades musicais, sejam eles executantes de pandza, dzukuta, hip hop, ragga, zouk, soul music, kwassa kwassa, entre outros. Segundo Stewart Sukuma, já aderiram ao projecto os músicos José Guimarães, Elvira Viegas, José Barata, Aly Faqui, MC Roger, Marlene, Ziqu, Danny OG, Massukus, Jorge Mamade, Sáldicos, Cizaquel, Filo, Damost, Spub, Chikito, Deri, Joana Coana, Antoninho Soldado, Kota Marcos, G2, 2 Caras, Azagaia, Yvete, Hermínio, Nelson Nhachungue, Dama do Bling, Noémia, Kita, Dreams, Izlo H, Mr. Dino, Maxwell, Guegue, Júlia Duarte, Chico Antonio, Top Label, Nstar, Elsa Mangue, Nelton Miranda, Ze Pires, Filipe Mondlane, Silio Paulino. “Temos a certeza que outros virão”, admitiu.
Numa primeira fase, os referidos músicos deverão produzir as marrabentas, que posteriormente sairão em singles de quarto temas e que serão distribuidas pelas rádios para que sejam tocadas e sub-metidas à eleição dos ouvintes durante o ano. “As mesmas músicas serão distribuídas pelos DJs para que possam também ser tocadas nas discotecas, bares e outras casas de pasto”, referiu, acrescentando que outras actividades a volta do “Ano da Marrabenta” surgirão naturalmente.
Mesmo sem a pretensão imediata de colocar as músicas que serão produzidas no circuito comercial das editoras, a nossa fonte artística acredita que se trata de um investimento que terá o seu retorno a curto ou médio prazo. “Primeiro temos que criar um mercado através de todos estes mercanismos que consistem em colocar a marrabenta na moda, fazer da marrabenta uma marca que a malta curte”, destacou.
Para o músico, a iniciativa vai criar sinergias para que surja um enorme mercado da marrabenta, como também irá despertar a consciencia nacionalista e o inicio de uma nova era cultural em Moçambique, ao que se seguirá o voo para o resto do mundo.
Escrito por Armando Nenane
1 comentário:
Quero parabenizar o Stewart Sukuma pelo "Projeto 2010 o ano da Marrabenta". Acredito que uma grande nação começa pela valorização de sua própria tradição. Com certeza o projeto vai arrasar. Estamos torcendo por todos aqueles que lutam para resgatar os valores sócio-culturais de Moçambique. Um grande abraço a todos.
Silvânio Paulo de Barcelos
(Professor e historiador)
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