Guilherme Silva no Brasil
Guilherme Silva deixou Moçambique e desembarcou no Brazil há cerca de 6 anos, para uma apresentação no clube Oasis, ao que tudo indica que o artista, com uma carreira reconhecida internacionalmente, caiu de amores e apaixonou-se pela terra do Pelé, hoje, pode-se afirmar que o Show Man como é apelidado nos circuitos muisicais, escolheu Fortaleza e fez dela seu lar. Seu estilo versatil e contagiante criaram facilidades para que rapidamente, conquistasse um público fiel que curte a sua bela voz e seu ritimo animado.
Quando é que inicia a sua carreira de musico?
Iniciei a minha carreira na decada de 80, na altura, desloquei-me para a vizinha Africa do Sul onde tocava em restaurantes e bares de renome.
A sua técnica da-nos a impressão de estares a ser acompanhado por uma banda. Quer nos falar um pouco dela?
A minha técnica é pouco comum no mundo, uso uma bateria eletrónica sofisticada que é controlada por uma pedaleira-teclado que faz o baixo, executo os acordes de piano com os pés, ao mesmo tempo que toco guitarra harmonica, procurando dar o meu melhor no canto para alegrar os meus fãs e todos que acorrem aos meus espetaculos.
Como foi a sua integração na Africa do Sul, uma vez que vivia-se ainda no regime do apartheid?
A minha integração não foi fácil, sabe-se que as relações entre brancos e pretos eram somente de serventia, para o meu caso como musico e negro, tive que em várias circunstancias, após terminar os meus shows, dirigir-me a cozinha e não para junto dos clientes “brancos”. Contudo, não desisiti de fazer o meu trabalho, continuei a lutar e so foi dessa forma que consegui conquistar um lugar cimeiro nas várias casas de pasto por onde passava e graças ao meu talento e trabalho, consegui superar as bareiras raciaias.
Para além da Africa do Sul, sabemos que seguiu viagem para Europa, como foi esse percurso?
Da Africa do Sul, embarquei para Portugal, terra onde fui bem acolhido. Cantei e encantei para além de participar em campanhas politicas de algumas figuras de destaque daquele país, como é o caso do actual presidente Cavaco Silva. Mas Portugal não respondia as minhas aspirações e desta forma, optei pelo país Leão e Castela (Espanha), onde fui considerado o melhor músico Intertainer da Costa Blanca. Este feito valeu-me três Oscar’s musicais em Benidorm (Espanha), tendo ainda sido considerado o Melhor Show Man entre 1989 a 1994, e fui finalista no festival da canção de Benidorm em 1994 onde partilhei o palco com Juan Luis Guerra vencedor do Gremmy Latino 2007.
Qual foi a sensação de regressar para Moçambique?
Positiva! Voltar a casa é sempre agradavel, pois para além de rever a familia e amigos, continuei firme no meu trabalho. Gravei vários cd’s e participei em programas de televisão, tendo ainda criado uma casa de pasto onde tocava aos fins de semana. Tinha o meu proprio estúdio de música onde promovia novos talentos que hoje são referência na música jovem, como são os casos de Doppaz, Neyma, Ziqo, entre outros.
Como é que foi parar ao Brasil?
Fui convidado a participar da inauguração do Hotel Oasis na Fortaleza e, por força do destino, aliado a admiração que o publico e os gestores daquele estabelecimento turistico sente por mim, perguntaram se eu não queria ficar para fazer parte da equipe que iria animar o local, ao que respondi positivamente, e hoje, volvidos seis anos tornei-me na principal estrela do Ceara, conquistei os cearenses e por consequência, o povo brasileiro. Prova disso tem sido o vasto leque de participações que venho tendo nos concertos dos grandes do Brasil, como é o caso da Alcione, a rainha do Samba, Roberto Carlos entre outros.
Sente-se realizado profissionalmente?
Bom, realizado não, mas sinto-me orgulhoso pelo meu trabalho, não é por acaso que se diz que é chic ter-me num concerto, pois ha pessoas que tocariam com figuras como Alcione mesmo sem cobrar nenhum caché, o que não é o meu caso. Já estive presente em quatro anos consecutivos no Festival dos Vinhos da Guramiranda, fui eleito no ano passado como a melhor atracção do evento.
Quais são os teus projectos para o futuro?
Estou a poucos passos de me afrimar como um World Music e tudo estou a fazer nesse sentido. Já tenho contactos com a Castle e outras empresas de renome que irão patrocinar a minha participação no mundial de futebol 2010 a realizar-se na Africa do Sul. Tenho uma grande bagagem na arena musical que fui adquirindo em toda minha trajectoria como artista e é chegado o momento de saltar para a categoria “A” da musica.
Qual é a sua avaliação do estagio actual da musica moçambicana?
Por incrivel que pareça, estou muito surpreso com a forma como a musica moçambicana tem evoluido. Esta num nivel aceitavel e sinto-me satisfeito pelo facto de haver muitas inovações, sobretudo na musica tocada pela nova geração e ao mesmo tempo triste, visto que as instituições que velam pela área cultural não disponibilizam nenhum apoio aos artistas e nem criam condições para que as crianças, que são os continuadores da patria, tenham acesso a escolas apropriadas para desenvolverem as suas capacidades criativas e talento.
Qual é a recomendação que deixa para os musicos nacionais?
Para os musicos que ainda tocam na base do “dó” e “ré”, julgo que ainda é tempo de procurar inovar, porque nessa base, não vejo como podem tornar-se competetivos a nivel internacional, há uma necessidade de se investigar mais os acordes musicais, o tempo do dó e ré já passou, e se um musico quer se afirmar no panorama internacional, tem que entrar com um produto de qualidade e deixar de tocar arroz com feijão.
Hélder Samo Gudo
Sem comentários:
Enviar um comentário