Dimas é compositor de muitos temas musicais que marcaram os anos 90 e ainda hoje fazem sucesso. O músico, que iniciou a sua carreira nos anos 70, tornou-se mais notavel após ter participado do Ngoma Moçambique em 1990. Do seu vasto e brilhante repertório, figuram temas como “Txotxoloza”, tema com o qual baptizou o seu primeiro trabalho discográfico. Para além de seguir carreira como artista, Dimas é hoje empresario e as suas actividades estão viradas para a promoção da música moçambicana de raiz. É com esta figura que a equipa do Mozhits procurou iniciar uma conversa, embora não cabal, com vista a dar a conhecer um pouco daquilo que foi a sua trajectória artistica da Manhiça local onde nasceu até aos dias que correm.
Como é que entra para o mundo da música?
A minha entrada para a música, não se diferencia da história de muitos artistas da minha geração. Cresci num distrito (Manhiça) que dista cerca de 80km da cidade de Maputo. Foi la que tive o primeiro contacto com a famosa guitarra de lata e tocava com uma afinação tipica do campo, pois não tinha muita relação com as notas padrões como é o caso de “lá”, “dó” e por ai em diante. Curiosamente, fiz a minha primeira guitarra que infelizmente não tirava o som que almejava, insatisfeito, tentei melhorar o meu instrumento fabricando um outro com base em uma lata de azeite de 5 litros e a terceira dimensão que toquei destas guitarras de lata, foi de 20 litros e foi feita por um vizinho mais experiente. Creio que o meu interesse pela música fluiu em grande escala naquela altura visto que tornei-me numa figura notável no abrilhantar dos Xingonbelas durante as noites juntamente com os rapazes e as raparigas da zona.
De lá para cá nunca mais parei, fui melhorando as minhas técnicas de execução, passei da guitarra de 3 cordas para 4 e 5 cordas. Com um espaço já reservado para as minhas actuações no cair da noite, imitava em grande estilo as músicas tocadas pelos mais velhos, para além das músicas estrangeiras provenientes do Kenya e do Zaire. Foi desta forma que passei a tocar e sentia-me um verdadeiro guitarrista.
Da guitarra de lata a convencional, como ocorreu este processo?
Depois do golpe de estado em Portugal, começa a euforia da revolução em Moçambique sobretudo para os jovens. Lembro que foi neste momento em que mudei de residência de Manhiça para Lourenço Marques (actual Maputo). Foi nesta altura que juntei-me a alguns amigos aqui de Maputo e formamos a nossa primeira banda. Ai, começa a operar-se algumas mudanças, a minha face de músico muda, a música do campo e os outros ritimos do Kenya e Zaire começam a perder espaço.
Com o grupo, procuramos ir mais além executando temas provenientes dos Estados Unidos de America, do Brasil, da França e foi também nesta onda que começo a tocar a guitarra convencional ao mesmo tempo que fui aperfeiçoando o canto no palco como vocalista auxiliar. Como a nossa banda ainda não era conhecida, contactavamos as bandas que já tinham alguma influência no meio músical e quando estas tocavam num casamentos ou em outros eventos, cediam-nos um espaço para tocar-mos a nossa melhor música e a banda procurava na medida do possível, trazer um tema cantando em inglês para poder imprenssionar os presentes, desta forma o contacto com a música universal foi ganhando maior espaço.
Como aprendeu a tocar?
Para tocar guitarra, não fui a nenhuma escola, fui trocando algumas experiências com amigos e dedicava-me a explorar o braço da guitarra. Mais tarde descobri juntamente com alguns amigos que existiam livros que continham cifras que nos facilitavam a aprendizagem da guitarra e foi assim. Já na segunda banda que integrei, tive a oportunidade de cantar para além de tocar. Portanto, nesta tentativa de associar as funções, fiquei marcado até hoje, ha quem diz que sou parado quando estou no palco, mas na verdade é que sempre tive uma moleta para me apoiar enquanto cantava, esta moleta é a guitarra. A primeira vez que cantei em palco sem guitarra, tive alguns problemas visto que já estava habituado a subir ao palco tocando.
Quando é que entra pela primeira vez em um estúdio de gravação?
A minha primeira entrada para o estúdio foi em 1976, infelizmente foi uma coisa que acabou falhando e muitas pessoas acabaram não conhecendo essa passagem no meu trajecto como músico. Foi no estúdio da 1001 pertecente a uma companhia que já esta fechada hoje, a mesma funcionava na Machava. Nessa altura gravei um seven single e um exten play que era um disco composto por quatro músicas.
Foi possível gravar os quatro temas, mas é importante realçar que isto sucede numa altura em que a industria músical esta em crise e a própria companhia estava a entrar em falência. No entanto, cheguei a ter o produto final comigo, mas o mesmo nunca chegou no mercado. Só em 1990 é que gravo um tema que chegou a ir até as rádios e foi com esta música que concorri pela primeira vez no Ngoma em 1991 só que infelizmente não consegui levar o prémio, contudo, a música foi muito bem aceite pelas pessoas e de lá para cá nunca mais parei de gravar em estúdio até que conclui o meu primeiro CD intitulado Txotxoloza em 2005 e o mesmo, só veio a entrar no mercado em 2006.
Qual é o segredo do sucesso nas suas composições?
O segredo é muito simples, na minha opinião, é nunca termos pressa de atingirmos a fama, pois há riscos quando se pretende atingir a fama porque é possivel ficar no top por dois dias e depois quando acordamos estamos no chão. Penso que para quem ouve as minhas músicas ainda fica com a sensação de ouvir algo gravado ontem, já comigo é diferente, ao ouvir os meus temas antigos, encontro imperfeições. Então é um processo que me ajuda a alcançar a qualidade que desejo ter nas minhas músicas. Procuro sempre trabalhar muito mais com a música de forma a encontrar um ponto de maturação. Não tenho muita pressa de levar os meus temas ao público e faço um trabalho de base para que quando chegue aos meus fãs, tenha uma qualidade e uma harmonia aceitável. Acredito que é este o segredo que ajuda a longar a vida das minhas composições.
Hoje Dimas para além de músico é empresario, de onde surge esta ideia?
Trata-se de uma ideia muito antiga, talvez muito mais antiga em relação ao tempo em que muitas pessoas conheciam-me como compositor pois, ha muitos que conhecem-me como interprete. Já antes de gravar temas originais da minha autoria, fazia empresas de enterteinimento e as mesmas creio que deixaram muitas saudades na memoria de muitos músicos. Sempre tive uma visão de como o músico deve ser tratado, quis sempre fazer diferença olhando para os palcos que era convidado a actuar. As condições oferecidas eram lastimáveis.
Neste ordem de ideia, tenho que assumir modestamente que fui o primeiro a oferecer melhores condições aos artistas que levava para o palco. As minhas empresas de produção de espetaculos não só se preocupavam em levar os artistas já firmados mas também fazia audições nos bairros a procura de bandas que executam música de raiz. A titulo de exemplo está a banda Xitende que fui buscar no Chamanculo e trouxe para a cidade. Então, foi neste rolo de acontecimentos que firma-se a ideia de continuar a melhor servir aos músicos e criei a editora Diamante.
Qual é a avaliação que faz do estágio actual da música moçambicana?
Positiva, hoje há um pouco mais de preocupação em fazer música boa e não despachada. Já é possivel consumir música produzida em todo territorio nacional, embora ha muita coisa a ser feita para o desenvolvimento da nossa música. Só para referir um exemplo, a nova geração de músicos, resolveu um problema que nós a velha geração não conseguimos solucionar.
Estilos como Rap, Pandza, Dzukuta e por ai fora, vieram servir de bareirra a invasão que estavamos a ter de músicas de Cabo Verde, Africa do Sul, EUA e de vários países ocidentais. Os jovens procuraram criar estilos que se assemelham aos de fora, mais dando-lhes uma tónica nacional e desta forma, hoje já é possivel ouvir Rap feito em Moçambique e hoje já dança-se a nossa maneira. Para terminar, talvez convidar os jovens a reflectir melhor sobre as mensagens que veiculam, pois, é preciso dizer coisas que educam a sociedade.
Fonte: mozhits
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