segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Festival da Marrabenta: É a hora das velhas glórias

ELES andavam esquecidos. Pareciam peças ornamentativas num museu de arte. Alguns chegaram até a aventar a hipótese de “pendurar” as guitarras. Mas, em boa hora, alguém lembrou-se deles e pretende colocá-los no seu lugar merecido. Estamos a falar dos músicos da velha guarda. O panteão formado por Alberto Mhula, António Marcos, Dilon Djindje, Alberto Mutcheka, Galtons, Xidiminguana e o conjunto Vhutu Gaza, Gabriel Chiau e Conjunto Djambo 70.


Assim, a partir do dia 30 estes artistas serão o centro de atenção dos amantes da música, numa cerimónia que arranca no Centro Cultural Franco-Moçambicano a partir das 20.30 horas.

Para além deste concerto inaugural estão ainda agendados outros espectáculos para os dias 2,3 e 7 de Fevereiro. Ou seja, na Vila de Marracuene e no Centro Cultural de Matalane e Chibuto na província de Gaza.

Neste momento, os músicos da velha guarda e também bandas jovens apostados nesse ritmo ensaiam na Casa da Cultura do Alto-Maé em Maputo. Trata-se da Banda Maningue Nice e Rádio Marrabenta. A ideia é de promover um intercâmbio entre as duas gerações. Estes jovens aparecem apadrinhados pelos grupos dos “mais velhos”.

O evento que está a ser organizado pela Logarítimo e tem por objectivo resgatar a música moçambicana na c mponente marrabenta, valorizando os seus praticantes e apreciadores.

Por outro lado, o “Festival Marrabenta” pretende contribuir na preservação e promoção da cultura moçambicana, através da assunção de atitudes, prática de composição entre outros.

No decorrer deste evento haverá workshops, palestras, debates, estúdios abertos, espectáculos musicais e o comboio da marrabenta.
Os espectáculos são antecedidos de seis dias de estúdios abertos e três workshops para elevar a qualidade da exibição artística.

Com efeito, os músicos farão abordagens sobre como demonstrar as suas habilidades e vão expôs os instrumentos de uso nas suas composições musicais, e procederão à demonstração das várias formas de dançar a marrabenta desde os anos 60 até aos dias de hoje.

“Marrabentar” a bordo do comboio
Inserido nesta iniciativa, será levada a cabo uma experiência ímpar. Um comboio com marrabentistas a bordo irão fazer história.

Tratar-se-á de um espectáculo em que será feito dentro do comboio que partirá de Maputo, na estação dos Caminhos-de-Ferro para Marracuene.

Nele viajarão músicos e passageiros que vão interagir durante o percurso através da dança, música e conversa em torno da música moçambicana. O destino do comboio será Gwaza Muthini, local de celebração da festa guerreira, que coincide com a época do ucanhu.

A ideia da produtora em fazer o comboio marrabenta vem da vontade de criar uma ponte entre os dois principais palcos do festival, que são a cidade de Maputo e a Vila de Marracuene.
Segundo estes organizadores, levar o Comboio a Marracuene integrando o festival é um meio de comunicação forte.

Assim, a Logaritmo é sua ideia integrar este “Comboio Marrabenta” em todas as edições deste festival. Ou seja, anualmente.

AGREGAR VÁRIAS FAIXAS E GERAÇÕES
Segundo os organizadores, definem a música como um dos elementos potencialmente capaz de agregar várias faixas etárias e gerações num único prisma, sendo este um instrumento poderoso de mobilização e crítica social, capaz de provocar mudanças compor­tamentais numa sociedade. Deste modo o festival de marrabenta não se dissocia dos demais problemas que afectam os moçambicanos, que de uma forma transversal e bem patente nos conteúdos das músicas e workshops de intercâmbio e nos estúdios abertos serão abordados.

Recordar que a primeira edição do festival de marrabenta aconteceu no ano passado teve como convidados artistas que simbolizam este género tendo em conta que a maior parte dos que trilharam por este estilo musical já desapareceram fisicamente. Nele tomaram parte Xidimigwana e o conjunto Vuthu Gaza, os Galtones, Alberto Mutcheca, Dilon Djinji, conjunto Estrela de Marracuene e Manjacaziano (Alberto Mula).

Foram três dias de demonstração da força da marrabenta, da força dos seus praticantes que mesmo com idade avançada continuam grandes executores de uma das expressões mais significativas da música popular moçambicana, a avaliar pela participação do público nos três concertos e pela reacção muito positiva da crítica jornalística, da opinião pública e do próprio governo através do ministro da Educação e Cultura, Aires Aly, que afirmou no primeiro dia do festival que era uma realização que dignifica a música moçambicana e o país no seu todo.

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