Há empresas que promovem a sepultura da nossa música - diz Pinto Macaringue, do MOZPIPA
MOZPIPA é uma das bandas formada nos últimos quinze anos de história musical no nosso país. Ela surgiu com muita força e nos últimos dez fez muito sucesso. Porém, de um tempo a esta parte ela nunca mais foi vista nos palcos, depois de uma gravação de quatro discos originais e várias digressões pelo país e mundo fora.
Pinto Macaringue é um dos fundadores desta jovem banda. Hoje é um jurista, não obstante continuar a trabalhar na área da música. Em entrevista concedida ao nosso Jornal, fala do percurso do seu agrupamento, do estágio actual da música moçambicana e do que levou a sua banda a primar mais por trabalhos de estúdio. Diz que a sua banda está a cumprir um dos propósitos da sua fundação, que é virar-se mais para acções mais sérias e não descartáveis.
MOZPIPA é uma das bandas formada nos últimos quinze anos de história musical no nosso país. Ela surgiu com muita força e nos últimos dez fez muito sucesso. Porém, de um tempo a esta parte ela nunca mais foi vista nos palcos, depois de uma gravação de quatro discos originais e várias digressões pelo país e mundo fora.
Pinto Macaringue é um dos fundadores desta jovem banda. Hoje é um jurista, não obstante continuar a trabalhar na área da música. Em entrevista concedida ao nosso Jornal, fala do percurso do seu agrupamento, do estágio actual da música moçambicana e do que levou a sua banda a primar mais por trabalhos de estúdio. Diz que a sua banda está a cumprir um dos propósitos da sua fundação, que é virar-se mais para acções mais sérias e não descartáveis.
Quando questionado sobre a pertinência hoje da existência de bandas, ele fala de forma aberta e diz que elas, tal como no passado, continuam a existir e a trabalhar com a mesma qualidade. Porém, diz, há muitas empresas que, a coberta dos princípios de responsabilidade social, estão simplesmente apostam na mediocridade e no facilitismo, acção que diz desconfiar estar a acontecer com gente ligada às mesmas instituições.
Uma das questões que se coloca quando falamos de bandas musicais é: por onde é que andam aqueles agrupamentos de jovens e de outros músicos que, num passado recente, fizeram sucesso. Esta pergunta é extensiva à sua banda Mozpipa?
- A banda Mozpipa existe. Só está simplesmente a cumprir com aquilo que são os seus projectos. O Mozpipa nasce em 1996/97 com um programa que pressupunha nos primeiros anos trabalhar e reunir material próprio que possibilitaria funcionar sem problemas. E os primeiros cinco anos existência serviram para isso. Nos anos 2000/01 vimos que estava cumprida uma boa parte do projecto inicial, pois tínhamos material e montamos um estúdio de gravação onde gravamos os nossos últimos discos e de alguns músicos jovens.
- A banda Mozpipa existe. Só está simplesmente a cumprir com aquilo que são os seus projectos. O Mozpipa nasce em 1996/97 com um programa que pressupunha nos primeiros anos trabalhar e reunir material próprio que possibilitaria funcionar sem problemas. E os primeiros cinco anos existência serviram para isso. Nos anos 2000/01 vimos que estava cumprida uma boa parte do projecto inicial, pois tínhamos material e montamos um estúdio de gravação onde gravamos os nossos últimos discos e de alguns músicos jovens.
- Mas, já não aparecem em espectáculos?
- Desaparecemos porque acabados estes projectos tivemos que olhar um pouco mais para nós. Fizemos uma retrospectiva e tentamos projectar o futuro. Nisso constatamos que do ano 2001 para cá nós como banda estávamos um pouco na penumbra. Quando tocávamos nas casas de pasto o objectivo era angariar dinheiro para criar uma estrutura de funcionamento sem que dependêssemos de terceiros. Hoje temos instrumentos próprios e um estúdio. Cumprida esta fase era preciso perceber o que iríamos fazer daí em diante, porque continuar nas casas de pasto já não era viável. Olhando para a questão de profissionalização musical vimos que o sistema nacional não nos permitia vivermos de música de forma integral. E estava a tornar-se difícil fazer a gestão de uma banda como a nossa, constituída por sete jovens aspirantes a constituir família. O que ganhávamos na época como banda nos espectáculos e nas casas de pasto tornou-se insuficiente, o que fez com que projectássemos outras formas de estar.
- Que outras forma são essas?
- A única alternativa era procurar empregos alternativos ou então estudar. E muitos de nós optamos pelos estudos. Nisso fomos ter com o Magnífico Reitor do ex-ISPU – Instituto Superior Politécnico e Universitário (hoje Universidade Politécnica), Lourenço do Rosário, que é um dos amigos da banda. Ele concedeu-nos bolsas de estudo. Os outros colegas que não podiam continuar a estudar, definiram como prioridade o trabalho. Então, o nosso desaparecimento deve-se ao facto de nalgum momento perguntarmo-nos se existia alguma base sólida para crescermos como homens sociais, constituirmos família e criar harmonia à base da música. E a conclusão foi de que ainda não haviam essas condições. Aí desviamos aquilo que eram as nossas ambições musicais para outras áreas profissionais.
- Uma das coisas que sustenta a ideia do vosso desaparecimento é o facto de o último disco ter saído há quatro/cinco anos.
- Sim! Desde que produzimos um disco há quatro ou cinco anos nunca mais produzimos nada, senão alguns espectáculos esporádicos. Mas é preciso dizer que há convites que não aceitamos por entendermos que não estamos em condições de realizarmos um bom espectáculo por falta de preparação conjunta.
- Vocês começam por fazer parte dos Kawai Kapa 10, o que leva a desintegração da banda?
- Eu e o meu colega Paulo Matsolo é que formamos a banda. Sou guitarrista solo e ele é baterista. Os dois mais os actuais integrantes da banda Kapa Dêch, fazíamos parte do conjunto Pétalas Amarelas, da “Continuadores”. Quando desintegrou-se este conjunto formamos o que na época se chamava Kawai Kapa 10. E a maioria dos elementos da banda Kawai Kapa 10 preferiam seguir uma linha musical diferente da que eu e o Paulo queríamos seguir. Eles eram mais pelos ritmos tradicionais moçambicanos e africanos e nós entendíamos que era uma época fértil para produzir música tropical, até porque era consumíamos muita música cabo-verdiana e angolana. E porque não nos entendemos neste aspecto, eu e o Paulo acabamos nos desintegrando e formamos MOZPIPA, que significa Moçambique, Pinto e Paulo. Depois fomos convidar alguns músicos que também passaram pela “Continuadores”, que são Jaime Marques (viola baixo), Carlos Maya (teclista) e o Rui Taula (vocalista e percussão). Mais tarde integrou-se Mário Tcheco (teclista) e na última fase da banda aparece o Paulo Caliano(Kaliza) e o Neneto Django, irmão de Tony Django do Kapa Dêch.
- Mozpipa surge num momento em que, do ponto de vista de desenvolvimento económico e outras facilidades de natureza financeira, estávamos mal. Mas, hoje com todas essas influências do mundo, das tecnologias de informação e do desenvolvimento que se faz sentir vocês dizem que já não se aguentam financeiramente. Será isso uma questão de comportamento do mercado?
- De facto, nós estamos agora numa fase em que como pessoas ainda não estamos realizados, mas já temos alguma formação, outros estão a trabalhar. Portanto, já não dependemos 100 por cento de música. Agora, olhando o mercado há-de reparar que não é só a nossa banda que não tem tido espaço para reaparecer Mozpipa.
- Mesmo se quisesse reaparecer?
- Mesmo se quisesse reaparecer. A conjuntura actual para as bandas não é favorável, não obstante o facto de estarmos num estágio diferente do que nós começamos. Hoje temos tudo para fazermos com muito mais qualidade o que preconizamos.
- E porque é que não fazem, o que faz com que estas coisas não aconteçam?
- As coisas não acontecem porque noutro tempo fazíamos tudo com esforço próprio, mas hoje o mercado evoluiu a um ponto em que já não é possível que um músico ou uma banda apareçam na rua a cantar de qualquer maneira.
Hoje exige-se agentes que tenham capacidade financeira. Mas, o que acontece é que o empresariado que devia estar a fazer isso não existe. E se existe entende que não pode apostar nas bandas, mesmo com qualidade, porque acha que são mais dispendiosas. As bandas fazem música com qualidade, mas elas são preteridas porque o nosso empresariado aposta pelo imediatismo, pelo lucro fácil e vai patrocinando aquilo que nós chamamos de música descartável. Infelizmente, esta atitude faz com a nossa cultura, sobretudo na componente musical, dê muitos passos para trás. Entramos numa situação em que o mercado evoluiu, o país a nível de infra-estruturas, porém estamos a regredir culturalmente.
- E como sair deste labirinto?
- É preciso que haja mudança de mentalidade por parte das empresas que neste momento aparecem somente atrás de grandes eventos e de alguns artistas da novíssima geração de música. Não estou contra isso, mas empresas públicas têm a responsabilidade social de resgatar a nossa cultura. Eles só olham somente para o tipo de música descartável e apoiam-na a 100 por cento. E são essas empresas que preparam e promovem a sepultura da nossa cultura, da nossa música e, por último, dos músicos que primam pela seriedade.
- Mas vocês não podem trabalhar mais?
- A composição actual do mercado não permite que nenhum músico avance sozinho. Houve um período em que isso acontecia, mas hoje quem não tem patrocínio ou sustentabilidade própria não vai a lado nenhum.
- Na sua perspectiva, as empresas de que fala não têm interesse em manter qualidade?
- As empresas estão a perseguir objectivos inconfessáveis, tornando o mercado muito violento, porque vão à busca do lucro fácil e dão dinheiro de forma leviana. Não é porque as empresas não devem fazer marketing, podem, mas tem que olhar para a qualidade, pois está provado que de tanto procurarem lucro fácil e imediatismo elas constróem homens sem moral. A estes músicos falta a capacidade moral para emitirem opiniões que sejam credíveis porque não têm formação qualificada e moral. Por outro lado vemos que nem conseguem fazer letras que sejam dignas, e os escândalos que assistimos protagonizados por esses jovens têm cobertura dessas empresas.
- Até que ponto pode haver uma intervenção por parte de organismos estaduais para coarctar aquilo que considera ser uma leviandade promovida por essas empresas públicas?
- Eu penso que é possível uma intervenção desses órgãos do Estado. Mas, isso não interessa muita gente. Os administradores de algumas empresas não estão a ver, ou não querem ver, o rombo que se faz na base, olhando somente o lucro. Para eles, a cultura está a evoluir, como dizem nas televisões, mas no seio dessas empresas existem indivíduos que criaram ou estão ligadas a pequenas instituições que eles chamam de “Labol”, que são agências desses músicos descartáveis, que promovem esses músicos descartáveis e tiram dinheiro dessas empresas.
- Está a falar de redes criadas nas empresas?
- Não tenho como provar e nem cabe a mim fazer isso, mas penso que há redes nessas empresas, sim. As redes acabam desfalcando as próprias empresas, nós sabemos que isso existe. Agora, a investigação cabe ao Estado e a outras instituições porque algumas dessas empresas são públicas, daí que devem clarificar os métodos de patrocínio que usam para esses músicos. É preciso também perguntar qual é o paradeiro Xidiminguana, Stewart Sukuma, Ximanganine, Grupo RM, Ghorwane. Porque é que estes e outros músicos não aparecem, porque não se pode pegar nesses músicos e usa-los como imagens dessas empresas, será que não têm qualidade. Eu não acredito que Xidiminguana não tenha qualidade musical, não é verdade. Isso é uma questão de a gente cultivar, tal como se faz actualmente com esses jovens, mas só não se faz porque não há interesse de algumas pessoas que fazem parte dessas empresas, pois sabem que ganham com isso. É preciso que os gestores dessas empresas comecem a questionar-se sobre a quem estão a entregar o dinheiro que dizem que vai para a promoção da cultura, para a responsabilidade social.
- Como chegou a essa conclusão?
- Com uma leitura apenas é possível ver isso, porque não é possível que estas empresas públicas tornem milionário um grupinho apenas de cantores, que nem qualidade tem, sem que eles estejam a tirar partido. Há, sim, gente ligada a essas empresas que está a tirar benefícios e muito dinheiro com tudo isso.
- Mas podem dizer que eles trabalham?
- Trabalham mais que quem. Será que estes músicos trabalham mais do que todos, não acredito. Por exemplo, no Niassa temos os Massuko que sobrevivem graças ao seu bom trabalho, viajam pelo mundo fora mas nunca foram pelas mãos dessas empresas. Em Quelimane, Zambézia, temos os Sáldicos que também nunca beneficiaram de nada.
Na Beira, Sofala, temos os Djaaka e Mussodji, que já representaram o país no estrangeiro e ganharam vários prémios sérios. Esse país tem artistas, mas será que estes todos estão tão ultrapassados para trazerem algo de valor que só alguns cantores que fazem música descartável e de escândalos são os que têm qualidade para serem imagens destas instituições e merecerem esse enriquecimento. Há músicos que desde os tempos do colonialismo sempre se bateram pelo desenvolvimento do país, da cultura. Cantaram canções revolucionárias, as glórias do país e hoje não têm às vezes pão, isso não se explica, não faz sentido. Não é porque eles são actuais e estão a investir, como se alega. É mentira. Não falo de nós os jovens, mas temos artistas sérios.
- Depois de terem gravado quatro discos, nomeadamente “Morena de Moçambique”, “Progresso”, “Reflexão” e “Ecos de Zambeze”, quais são os projectos que se seguem?
- Estamos numa fase de prospecção do mercado, bastante preocupados com o facto de as bandas não terem mercado. Estamos a pensar em gravar um disco, esboçamos algumas coisas, mas precisamos de reiterar que as bandas existem, tal como existe o Mozpipa, mas há bloqueios para que elas apareçam.
Fonte: Jornal Notícias
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