quinta-feira, 8 de maio de 2008

Entrevista com a Cantora Isabel Flores


O amor nunca está fora de moda
É ASSUMIDAMENTE romântica. É dona de uma voz cálida. Canta baladas sobre o verdadeiro amor. É apaixonada e defende as coisas belas da vida. As letras das suas mensagens homenageiam o amor. De caracter meigo Isabel Flores, Prémio Revelação do “Top Feminino/1996” é uma mulher que continua a escrever músicas românticas como na época dos “bayles”.


Ela preserva este estilo que na óptica de alguns anda fora de moda, particularmente certas editoras que não apostam neste tipo de música, com a desculpa de que comercialmente não atraem.
Semana passada o “Notícias” encontrou-a ocasionalmente pela cidade tendo-a proposto uma conversa, tendo amavelmente aceite. A entrevista serviu de pretexto para falarmos sobre o seu sumiço na arena musical, e seus projectos.
Hoje, embora sem grande visibilidade pública, Isabel, também conhecida por Bela, é uma referência entre as vozes femininas aclamadas na década 90, casos de Gueguê, Albertina Pascoal, Elvira Viegas, Aida Humberto, Helena Nhantumbo, a malograda Resiana Jaime, entre outras.
Nesta conversa ela dá a possibilidade do público conhece-la um pouco mais sobre a sua carreira.
O seu lado romântico e poético é incontestável, tal como pode ser constatado nesta letra sob seu punho: “Meu amor vem me dizer porque você não vêm/o que foi que eu fiz/ se eu errei peço perdão/ eu só quero compressão entre nós/ quantas vezes eu sonhei/ quantas vezes eu passei sem poder dormir/ se você já não me quer por favor vem me dizer/pensei em teu nome amor/ se você já me esqueceu por favor vem me dizer/ eu preciso saber.

Apostada em música de balada, ela defende que ao contrário do que se pensa, “o amor não está fora do tempo. O amor sempre esteve na moda.”
“Eu canto o que me vem de dentro da alma. Canto aquilo que tenho prazer e gosto. Sou romântica e nunca irei abdicar deste estilo, pois, se identifica com a minha forma de ser e estar na música”, observa acrescentando que “respeito aquilo que os meus colegas fazem”.
È inquestionável o teor daquilo que lhe vem da alma, tal como atentam estes versos, “Meu Deus/ me ajude preciso de saída p`ra minha vida/ viver sem compaixão sem amor é ilusão/ o que é que faço/ p`ra quê sofrer assim se você junto de mim é um fracasso/ preciso falar com Deus p`ra me dar um outro alguém/ já não suporto nem quero viver essa dor/ eu sempre choro e nem durmo só pensando em você/ já me disseram que o melhor é conversar com Deus/ Eu vou conversar com Deus”.

E O PRÉMIO VAI PARA…ISABEL FLORES
A entrevistada conta como conseguiu, em 1996, conquistar o “Prémio Revelação” na renhida competição radiofónica da Rádio Moçambique- o “Top Femenino”.
“Bela” tinha participado com a canção “Amor e Ilusão”, letra que surpreendeu positivamente o júri pela riqueza do seu conteúdo.
“Amor e Ilusão’ foi a primeira música que gravei na Rádio Moçambique, incentivada por uma prima minha, Angelina Nur. Na altura ela levou-me à presença do senhor Domingos Macamo, dos serviços editoriais tendo decidido favoravelmente”.
Prossegue, “no dia seguinte, o falecido produtor Fernando Azevedo recebeu-me no estúdio para gravar. Foi um momento particularmente feliz da minha vida. Foi uma grande emoção estar naquele ambiente de microfones, mesas de som. Tive um ensaio de dois dias. A gravação ocorreu no terceiro dia, sob acompanhamento de Paito Tcheco, e Fernando Azevedo nos teclados.”
Não tardou que a música fosse rodada frequentemente naquela estação emissora e em pouco tempo, Isabel ainda anónima, passou a ser conhecida junto dos ouvintes.
“Amor e Ilusão” foi mais tarde, como não deixaria de ser, seleccionada para a grande parada musical que
Rádio organiza há mais de vinte anos.
Na final, o júri acolheu favoravelmente e acabou por coroar merecidamente a sua canção com o “Prémio Revelação”.

CANTAR O BELO
Sobre a polémica dos conteúdos das mensagens actualmente cantadas, ela afirma que, “ser cantor é ser mensageiro do povo. Cantar é uma grande responsabilidade. È preciso escrever algo que eduque e oriente a sociedade. O músico deve ser o espelho e modelo da sociedade, porque tem seguidores que acompanham rigorosamente as suas vidas”.
Na óptica de Bela, a música moçambicana embora registe crescimento à nível de surgimento de novos talentos, peca precisamente na qualidade dos conteúdos, onde os artistas empregam palavras obscenas, em vez de escrever letras do belo, do agradável, do útil.
A este propósito, aconselha que parte das músicas deveriam passar pela censura à nível editorial. “É necessário recomendar e explicar aos jovens a importância usar a música como veiculo educativo”.
Neste momento, a cantora tem conta com os préstimos sinceros da estilista Teresa Chiziane e da Ana Cristina do “Salão Naucha”. Os verdadeiros amigos- Belinha e Danny- também estão sempre do seu lado e encorajam-na permanentemente a nunca desistir enquanto não editar o seu CD, porque ela possui talento que baste, faltando-lhe apenas uma oportunidade para mostrar o seu potencial artístico ao mundo.

QUEM AJUDA A ROMÂNTICA A REGRESSAR AOS SEUS FÃS
Nasceu a 3 de Maio em Luabo, província da Zambézia ( não se diz a idade das mulheres). Cresceu no seio de um família sem tradições musicais.
Iniciou-se na música desde a infância. Sempre cantou em casa e mais tarde para um circuito de família, mas sempre interpretando nomes românticos da música brasileira, caso de Roberto Carlos, Lindomar Castilho Ellis Regina entre outros
Sempre incentivada pela família, particularmente do pai, que na altura trabalhador na Sena Sugar States de Luabo ( mais tarde, transferido para Marromeu, onde Bela viveu outra parte da infância).
A sua primeira actuação em público, não poderia ser a mais marcante: foi em Luabo num espectáculo que teve como cabeça de cartaz a lendária banda João Domingos que tinha entre outros nomes o falecido cantor Gonzana.
E recorda o dia que tal aconteceu. Era ainda adolescente, “tudo parecia um sonho, eu ali em pleno palco a cantar para uma plateia linda…recebi vários aplausos e fiquei emocionada. Guardo com saudades dessa data e figurará como um dos marcos da minha carreira musical”.
“Foi precisamente a partir desse show que tive confiança que um dia poderia ser cantora, partilhar os meus sentimentos com o público”.
Sempre apoiada pelos seus progenitores, Bela inicia uma nova fase da sua vida, quando decide vir a Maputo, tendo sido também surpreendida positivamente pelo apoio moral dos seus amigos e familiares que gostariam de vê-la com obra gravada.
Uma vez conseguido este feito, decide fazer uma pausa à nível de actuação em espectáculos, dedicando-se exclusivamente à escrita de suas músicas, para oportunamente gravá-las.
Ao longo dos anos, tem registado no estúdio as suas músicas a “conta gotas” , sem contudo nunca conseguir editar, devido a dificuldades financeiras.
“Não tenho patrocínios para gravar o resto das minhas músicas. As gravações que fiz foi por conta própria, sem qualquer patrocínio”.

Neste momento, Bela com voz mais madura e com a doçura a que sempre nos habituou, pretende “regressar” brindando aos seus fãs com um CD editado.
Neste momento, a grande dificuldade da cantora é encontrar uma editora que aceite uma obra da linha romântica que ela propor. “Muitas editoras que me recebem ao ouvirem o repertório devolvem-se, aconselhando a mudar para outros estilos musicais, que não vão de acordo com a minha inspiração”.
“O meu estilo é romântico. Eu não consigo fazer outro género, mesmo que fosse capaz, não teria aquele cunho e alma que trago no fundo do meu íntimo”, sustentou.
“Para mim, há géneros musicais para todos os gostos e ouvidos. Sendo assim, não faz sentido que todos façamos, por exemplo, pandza, dzukuta, ou hip-hop. Temos que valorizar a diversidade e multiplicidade de gostos na sociedade. Isso até porque valoriza e desenvolve, de certo modo a nossa moçambicana”, anota.

Terça-Feira, 6 de Maio de 2008:: Notícias

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