Na penúltima vez que Moreira Chonguiça veio actuar à sua terra, em 2006, deixou-nos com água na boca. Porque esse espectáculo - no Coconuts - acabou e queríamos mais. Daí a grande expectativa que rodeou a sua última aparição, sexta-feira no Cine África. Casa cheia foi o que tiveram os organizadores e palco cheio o que contemplaram as mais de mil almas que acorreram ao recinto.
A música, essa estalou logo de início, quando Moreira inventou uma forma para si invulgar de começar um espectáculo. Ao invés de entrar escalar o palco pelos bastidores, como é normal, preferiu fazê-lo pela porta do público, pela frente. Entrou aos sopros, em solos que fizeram estalar uma euforia própria de uma assistência que estava ávida de bons momentos musicais. A boa música anda, realmente, um bocado longe dos nossos palcos, infestados muitas vezes pela mediocridade que tende a caracterizar muitos espectáculos.
O saxofonista moçambicano baseado na Cidade do Cabo, África do Sul, estava cheio de vontade – pelo menos demonstrou-o – de fazer da noite de sexta-feira uma ocasião inolvidável para si e para a plateia. Para isso serviu-se do talento dos colegas que o acompanhavam naquela noite: os irmãos Frank e Tony Paco nos instrumentos de percussão, Hélder Gonzaga, jovem baixista a quem Moreira faz rasgados elogios (não é para menos, o jovem que deixou há poucos anos o país engrossar a colónia moçambicana do Cabo é mesmo bom de dedo), mais um guitarrista e, finalmente, o seu braço direito Camilo Lombard, pianista e organista sempre apetecível de ver. Apesar de todo este potencial – não há qualquer mácula nas habilidades de todos e cada um dos acompanhantes de Moreira Chonguiça – aquele não foi um grande concerto. Quer dizer, Moreira quis fazer espectáculo, mas não o conseguiu.
POUCO SAL EM MUITA ENTREGA
O começo foi promissor, com a entrada de rompante a que nos referimos atrás, mas pouco passou disso. Pelo que Moreira fez noutros espectáculos que veio efectuar a Maputo, exigia-se uma performance no mínimo igual a desses eventos. As várias e memoráveis actuações que rubricou em épocas recentes em recintos como o Centro Cultural Franco-Moçambicano ou o Coconuts fizeram disparar em alta a expectativa com que se esperou esta actuação de Chonguiça no Cine África. Muito alta ainda – a expectativa dos amantes da sua música – porque a figura da noite era o jovem que em finais de 2005 lançou um super-disco, o primeiro volume do seu Moreira Project, “The Journey”, que é realmente um hino ao talento, à perseverança e, acima de tudo, ao sentido que este artista tem de música moçambicana e universal.
Ora, à medida que ia fluindo o som dos metais em palco, os espectáculo ia ganhando contornos de monotonia. Mesmo tocando o que praticamente se conhece dele, não se pode catalogar esta uma ocasião feliz de Moreira Chonguiça neste seu regresso a Maputo.
Entretanto, apesar da monotonia – e da excessivamente longa duração do espectáculo –, houve alguns momentos para recordar no “show”, como a combinação de solos e do canto a rap de “Personality and Good Look”, um dos temas dos 19 – e bons – temas de “The Journey”. Também a apresentação de “Mganami” (que aparece no disco em duas versões) se destaca, pois através desta composição soube – e mereceu – cativar um público que, realmente, precisa de música elaborada com destreza, o que, sinceramente, tende a escassear nos nossos palcos. Houve igualmente espaço para Moreira Chonguiça apresentar um dos temas que fará parte do seu próximo álbum – o segundo -, que segundo ele sairá em finais do próximo ano.
Em suma, a aparição de sexta-feira de Moreira a um palco moçambicano pela primeira vez desde que foi consagrado (em parceria com o seu colega do Cabo Mark Fransman) melhor produtor nos SAMA (os maiores prémios musicais da África do Sul) foi uma comida boa mas que podia ter, para saber melhor, um bocadinho mais de sol. Não se tratou de falta de aplicação do músico – que foi enérgico o bastante - nem dos seus pares, mas de algum défice de inspiração para satisfazer a grande expectativa que rodeou o evento.
Ele é o músico moçambicano do momento. Vive na Cidade do Cabo, África do Sul, há dez anos, tempo que se foi definindo como artista. Toca saxofone, que aprendeu ainda criança, na Escola Nacional de Música, e com o professor Orlando da Conceição, em Maputo. Aperfeiçoou depois nos grupos por que passou: Ghorwane, Nondje... e foi ao Cabo porque queria aprender mais, deixando para trás o pequeno mundo que, infelizmente, ainda é Moçambique. Moreira Chonguiça, o artista de quem falamos, é hoje um senhor da música, muito por força do que faz quando vai aos palcos e do seu disco de estreia, “The Journey”. Este álbum, em que mistura o seu gosto pelo jazz e as suas influências na música, desde os ritmos tradicionais moçambicanos e internacionais. Moreira está, nos dias que correm, bem perto do céu, pois acaba de ver a sua criatividade reconhecida ao ser distinguido com o prémio para melhor produtor na edição deste ano dos “South African Music Awards” (SAMA), entregues recentemente. Nas linhas que se seguem, revisitamos com este jovem artista, de 30 anos, a sua carreira que já leva uma longevidade aceitável. Fala dos seus horizontes e, claro, da satisfação pelo prémio e pelo momento que atravessa. Diz ele, sobre o SAMA, um dos maiores prémios musicais em países africanos (apenas abaixo dos KORA, os African Music Awards), que...
- Os SAMA têm a importância de reconhecer e/ou projectar o artista. No seu caso, que logo no primeiro trabalho teve três nomeações, que significado teve vencer uma delas, a referente a melhor produtor (em parceria com Mark Fransman)?- Muito especial, porque estou a trilhar o meu caminho sem pensar em prémios. Penso, isso sim, em crescer, em fazer mais do que faço no momento. Essa é que é a minha filosofia e a minha ambição passa por chegar mais longe do que estou agora. Em relação aos SAMA, que são prémios muito ambicionados na África do Sul, posso dizer que me sinto bastante honrado.
In, Noticias de 31 de Outubro de 2007
Gil Vicente
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1 comentário:
thnks, pelas fotos continua assim batine mocambique
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